"... fazer de um bloco de apontamentos a minha atenção.!"
Não sei falar. Nunca soube. O que fica é um vermelho-vivo intenso, um desconforto, uma sensação de inquérito. Perco-me nas palavras, na tentativa de não magoar ou ofender o outro, de não saber defender o que penso. É uma cobardia exposta e latente, que me torna aos olhos dos outros fútil e vazia.
Fico exausta quando falo. É uma exaustão até á intimidade, e sinto que a mais das vezes não disse nada do que queria, nada do que devia.
A minha mãe têm uma ciência que admiro... toda a minha infância admirei-a por essa ciência. Minha mãe pouco fala em público, também se esconde nos subterfúgios da multidão, mas é capaz de atirar a frase certa na hora certa, e deixar a todos profundamente admirados.
Não tenho a sua capacidade. Comigo fica tudo por dizer, e cria-se um labirinto daquilo que sou e daquilo que mostro, que mais pareço um bicho fechado numa jaula chamada humanidade.
O meu melhor amigo, sou eu própria, as melhores conversas são comigo própria. As opiniões, os registos, as revoltas, as tristezas... tudo é discutido, analisado, conversado intimamente.
É tão fácil ser ridicularizado neste mundo, assim como é tão fácil ter várias ideias contraditórias neste mundo. Nunca saberemos o que é certo e o que é errado.
Não sei falar, nunca soube, assim oiço, vejo, abarco e derivo.
Apanho tudo os que os olhos e os sentidos podem alcançar. Acumulo em mim, todos os poros de todos os géneros. Todos os restos de coragem e mariquice alheia, toda a humildade e arrogância. Todas as páginas de livros, todas as personagens irreais.
Quero ser todos e não ser nenhum.