28 de agosto de 2020



não te mexas - Margaret Mazzantini


É angustiante o início do livro, e por sê-lo, vou fazer uma espécie de diário de leitura, porque acho que o livro vai dar-me cabo dos nervos.


1º Dia - O início da história é arrepiante. A descrição pormenorizada do acidente e do socorro médico da filha de 15 anos da personagem principal revolta o estômago.
Não sei se será assim com todos os que lerem o livro, mas a mim tocou-me particularmente.
Esta angustia vai-se estendendo quando surge na história Timóteo. O pai de Ângela, o cirurgião que toma conta da história e que no seu desespero de pai, senta-se à espera de uma salvação para a filha, e desfia os seus erros.
Tenta manter com a filha que não está ali, mas na sala de operações ao lado, um monologo. Tenta manter com a filha um fio de sobrevivência para os dois.
Nesse monologo, vamos descobrindo que Timóteo tem "porras"! Sim! Não é um homem perfeito.
Começa por revelar os contornos de uma história sórdida que aconteceu à quinze anos atrás. No tempo em que a filha nasceu. No tempo em que ele violou uma mulher.
Quando ele conta a história fico perplexa... porque a violas-te, Timóteo? Nem sequer te atraia.
Chamas-a de espantalho! Onde tinhas a cabeça?
Desculpas-te com o álcool que bebeste enquanto esperavas pelo arranjo do carro. Transformar-te num monstro foi tão fácil.

2º Dia - Timóteo a tua história e a tua confissão revoltam. Não percebo qual a tua intenção nem sequer as tuas motivações. Neste segundo dia de leitura revelas-te uma faceta humana da tua realidade. Mostras-te que vives nos bicos dos pés como a maioria dos homens. Sem tocar verdadeiramente em nada.
Revelaste que gostas do que te faz mal e que não percebeste o que te aconteceu. Não percebeste porque não cabe no teu mundo perfeito que a vida dos outros não seja perfeita.
Apesar de a violares, voltaste para o espantalho como tua a chamas! Começou a fazer-te falta e não conseguiste lidar com o sentimento que nascia em ti. Quando voltas-te deste-lhe dinheiro, e ofendeste-a. Quando quiseste voltar outra vez, quando o teu corpo e a tua alma pedia mais, descobriste a delicadeza, descobriste não um espantalho mas uma mulher que não usou o teu dinheiro, que se preocupou contigo e que era capaz de te amar sem mais nada... só amar... só pensar em ti, no teu bem estar.
Achaste que eras importante, que eras único. Que eras amado. Não que não fosses em casa. És mais amado do que amas.
A tua ilusão de ser o único homem na vida do teu espantalho é patética e quando a voltaste a ofender ela colocou-te a um canto da tua insignificância

3º Dia - Italia, assim se chama. É apenas uma menina assustada. De "puta", não tem nada, e apenas o disse para o magoar a ele.
A menina feia e desajeitada é de uma beleza interior comovedora, e Timóteo já se perdeu nos seus braços. Neste meio terceiro dia de leitura a história surpreende porque as personagens evoluem muito. Principalmente Timóteo, que põem em causa a sua vida, os seus amigos, a sua mulher.
"Porém, agora parecia-me que a vida paralela era esta, não a outra. Aquela com a Italia, nos sussurros, na segregação, era essa a vida verdadeira. Clandestina, sem céu, assustada, mas verdadeira."
Quanto a Italia descobrimos uma mulher que não é mais do que uma criança que se entrega desmesuradamente e sem reservas e sem pedir nada em troca a um amor que sempre julgou que não lhe estava destinado.
A questão aqui é, como é que ela o consegue amar?
Costumo dizer que na vida não existe só o preto e o branco, o bom e mau, mas o que predomina é o cinzento. Pessoas boas que fazem coisas más.!
Timóteo foi assim, Uma pessoa aparentemente boa que fez uma coisa má, e que depois voltou para se desculpar. Italia que pensa que qualquer um a pode levar para um camião e fazer porcarias com ela, vê naquela delicadeza posterior um caminho novo.
É interessante caminhar pelas memórias de Timóteo nesta altura. Dou por mim a pensar na disparidade das circunstâncias.
De um lado Timóteo tem a sua legitima mulher, Elsa, bonita, altiva, simpática, bem sucedida.
Uma mulher inteligente que qualquer homem desejaria. Do outro lado Italia, menina, inocente, não tão bonita, mal vestida, sem gosto, com uma vida simples, pobre, limpa, muito limpa.
Uma menina sem auto estima, que tem noção que não é atraente. Verdadeiramente bonita por dentro.
Quantas meninas perdem aos pontos na vida nesta batalha? Quase todas.
Os homens vêem pouco para além da vista.
Não estou a generalizar. Há muitas mulheres bonitas por dentro e por fora. Conheço umas tantas. Mas conheço outras tantas, das outras.
Timóteo percebe que ama Italia, mas a distância social que os separa é grande, e Timóteo não se apercebe que nos momentos chave, nas aparições públicas de Italia ele sente um desconforto chamado vergonha. Ela está a outro nível e sente-se bem no seu mundo, e esconde-se cada vez mais no seu canto porque apesar de ser inocente percebe essas delicadezas e indelicadezas.
Italia aparece grávida, mas a sua mulher, Elsa também.

4º Dia - Timóteo não deixa Italia abortar no último momento. Tem momentos em que acredita que a sua vida é ao lado e Italia. Mas vai adiando. Nem sequer tem certezas. As dúvidas assaltam-no. Com esta indecisão é confrontado com a gravidez da mulher e perde-se neste labirinto. 
Por esta altura dou por mim a perguntar. E tu Elsa, não sabes mesmo de nada? Ou não queres saber? Ou foges do confronto directo. Da dor?
A dúvida de Timóteo, traduz-se em ausência e Italia que não foge da dor dá conta do abandono. Mas ama! Tem um momento de subjugação, de súplica. Timóteo sente nojo dessa súplica e ela compreende essa nojo e afasta-se. Abdica!
Quando se decide a procura-la, já Italia abortou. Assume para si a responsabilidade.
Pois é, Timóteo! Mais uma vez não tomas decisões, és tomado por elas. Forças que os outros as tomem por ti. Assistimos a um monologo do teu sofrimento e das tuas desculpas, mas é em Italia que penso. No seu imenso amor, na sua desmesurada entrega. Ela é capaz de tudo para que as coisas te corram bem a ti. Arranca dentro de si o seu ser, desfeche-se por dentro e por fora para que tu, Timóteo possas viver sem sobressaltos. Nem sequer lhe dizes que também engravidas-te a tua mulher.
Afastas-te dela, como ela se afasta de ti. Sem o vosso filho o vosso relacionamento diluí-se.
Segues a tua vida, tens as tuas realizações profissionais, vais ser pai de uma menina.
Mas Italia está lá no teu subconsciente, e não te deixa sossegar.
Timóteo procura-a de quando em vez, mas os sentimentos não são os mesmos. Existe um afastamento. Um muro intransponível.
Mas a rapariga ama-o, e sofre com isso. É uma menina que Timóteo partiu o coração.
Uma menina que acredita que Deus nunca a vai perdoar!

5º Dia - Não esperava que Italia morre-se. Já esperava o teu abandono. A tua indecisão era constante, mas não esperava que Italia morre-se por ti. 
Quando a tua filha nasceu, nessa mesma noite foste procura Italia. Ela estava de saída, ia voltar para a sua aldeia. Decidiste dar-lhe boleia até ao comboio e depois a meio do caminho decidiste leva-la até ao seu destino.
A viagem era longa, e o tempo permitiu-te acreditar que terias coragem para largar toda a tua vida e ficares com Italia.
Sempre a amas-te mas não tinhas coragem. Italia estava fraca e esquisita. Tinha dores no abdómen que disfarçava. Não saía do carro, não queria comer.
Acabaram por parar à noite numa pensão e no Restaurante, Italia cheia de febre vomitou. No quatro já deitada desmaiou sem dar por isso. Tinha o ventre duro, não sentia nada nessa zona. Chegou a urinar sem dar conta.
Descobriste um hospital no meio do nada e uma infecção generalizada. Tinha a barriga cheia de sangue, uma hemorragia interna. Operaste-a, mas no fim de tudo, morreu nos teu braços.
Deste-lhe um funeral digno. Amaste-a!
No fim voltas-te para a tua mulher como se nada fosse.
A história parece que roda sempre da mesma maneira. Parece que existe sempre alguma coisa que faz com que Italia e Timóteo nunca fiquem verdadeiramente juntos. Como se não fossem destinados!
A vergonha inicial da sua presença humilde é o primeiro entrave. A gravidez de Italia, como primeiro impacto é outro entrave.
A gravidez da mulher destapa a cobardia de Timóteo, e este deixa Italia aos seus pensamentos e à sua sorte.
É ela que tem de decidir porque ele não está nos momentos que precisa de estar. Italia acaba por fazer um aborto nos ciganos, que meses mais tarde lhe há-de tirar a vida com uma infecção generalizada.
No último momento de aparente coragem de Timóteo, Italia morre-lhe nos braços.
Em todo o livro Timóteo desabafa a sua dor, o seu arrependimento. Espera que quem o leia, tenha pena dele e o perdoe. Ele próprio tem uma atitude de auto comiseração. Afastou-se da vida para expiar os seus erros.
Mas a minha simpatia vai para Italia, e até um pouco para a sua mulher Elsa.
Uma esperou num canto, no seu silêncio. Aguardou o percurso do seu marido. Ela sabia que ele ficava. Daí não questionar, daí não confrontar. Apenas esperar. Quanto às descrições sórdidas, as justificações, preferiu silencia-las para não ter de lidar com elas.
Italia foi diferente. Era uma menina. Era inocente. Era feia à primeira vista. Abdicou de tudo... abdicou até da vida. Sem esforço, sem ressentimento.
Era impossível não amar Italia. É o meu amor neste livro!


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27 de agosto de 2020



A Passagem das Horas - Álvaro Campos


Existe um livro da Companhia das Letras, editado já no final do ano de 2017, intitulado "Quando fui outro" - Fernando Pessoa.
Comprei-o já tinha entrado o ano de 2018, quando fui fazer algumas trocas de Natal na Bertrand.

Considerei que era uma boa forma de começar a ler Fernando Pessoa e/ou todos aqueles que o habitavam. 
Neste pequeno livro a nossa alma ferve com a poesia de Fernando Pessoa e/ou de todos os outros.
Dos poemas que sempre me lembro de ouvir em casa como "Todas as cartas de amor são ridículas", como "Mar Português", até "Aniversário". Estão lá todos. mas ficam para outra ocasião!

Hoje quero falar-vos de "A Passagem das Horas" de Álvaro Campos.
O poema percorreu-me o corpo e abalou-me a espinha.
A procura de nós próprios, a corrida para nos mantermos há tona, no mesmo caminho que a multidão.
O desejo do louco movimento. De procura, de absorção do Universo. 
O seguir a agitação dos outros. O esforço humano que se faz para manter o ritmo. Estar em todos os lugares, ser em todas as modas. Estamos agarrados a fogachos!

Não sei como é com os outros, com todas as pessoas que caminham na rua ao meu lado, que seguem os seus cursos de vida, paralela, virtual, realidade. Não sei se é demais ou se é de menos.
Para mim é um esforço para me separar. Estou entre a desistência e a integração numa realidade que não é a minha. Não posso viver fora dela, e o mundo, a vida, empurra-me constantemente para dentro deste "rebanho" de caminhos opacos. Mas procuro com desespero estar fora. Só assim vivo.
Ás vezes sinto saudades de mim, do que fui em tempos quando só havia inocência.
Por vezes tenho vergonha e pena de mim, do que fiz para viver e existir que desvaloriza a cada dia a minha essência.
"A Passagem das Horas" é isto. É reconhecer-nos a nós próprios como uma desilusão!

um excerto

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde, 
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente
Yat-lô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô... Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol...
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagáscar...
Tempestades em torno ao Guardafui...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me, 
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste Jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos, 
Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, 
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, 
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausências de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços, 
E preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há-de ser de mim? Que há-de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

Como um bálsamo que não consola senão pela ideia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.

Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito.
Só  humanitariamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as acções, a banalidade dos trabalhos,
Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver.
Só assim, ó noite, e eu nunca poderei ser assim!

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda a gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a excepção, o choque, a válvula, o espasmo.

[...]

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido.
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma coisa vinda directamente da natureza para mim.

[...]





23 de agosto de 2020


Autores Portugueses Contemporâneos que gosto muito de ler! 

Sublinhei a palavra Contemporâneos porque este Post é dedicado exclusivamente aos que ainda podem publicar. Quis sublinhar a palavra Contemporâneos porque acredito que se não o fizesse alguns de vós iria perguntar no fim do Post, então e o José Saramago? Onde está o Fernando Pessoa? Não falou de Miguel Torga? Como é possível alguém se esquecer de Eça de Queiroz?
 Não me esqueci de nenhum deles, mas esse Post fica para outra altura!

Agora, queria mesmo falar dos Contemporâneos. Aqueles que ainda andam por aí, e que podem publicar a qualquer momento e ainda podem assistir ao lançamento dos seus livros.
Quando pensei no Post, pensei numa coisa pequenina. Iria escolher 8 a 9 autores e estava feito. Saíram 18. Peço desculpa pela maçada, mas não consegui deixar nenhum deles de fora!

P.S - A ordem a que me refiro a eles, não é de perto nem de longe a ordem da minha preferência. É apenas a ordem em que os livros e os autores foram-me aparecendo na estante (s). 




João Tordo - Não gosto de tudo de João Tordo e ainda não li nem metade das suas obras, mas tem livros que foram marcantes para mim. “O Luto de Elias Gro” é um deles, “Ensina-me a voar sobre os Telhados” é outro. Outra coisa que me fascina em João Tordo é a sua urgência na mudança, ou por outras palavras, a urgência em experimentar todos os géneros e o não ter medo de o fazer. Daí a “Noite em que o Verão” acabou (triller) lhe ter corrido muito bem, a meu ver e aquela espécie de livro de memórias, ensinamentos a quem sonha ser escritor também lhe ter corrido lindamente. Gosto muito.

Patrícia Reis - Passou-me estes anos todos despercebida. É a prova que por muito que procure, muitas vezes não passo de uma ignorante. Ainda só li um livro da escritora. "Antes de ser feliz". Mas gostei tanto que prometo que vou ler todos os outros.

 Isabel Machado - Li dois livros de Isabel Machado. Os livros são romances históricos. Um género literário que aprecio muito e que ultimamente tenho andado muito afastada. "A rainha Santa", livro sobre a Rainha Santa Isabel, mulher de D. Duarte. Uma história soberba sobre uma mulher extraordinária que foi Rainha de Portugal. O outro livro é "Constança", a história da legítima esposa e legitima Rainha de D. Pedro I, e pela primeira vez duvidei da bela história de amor entre Pedro e Inês de Castro. Ou melhor, pela primeira vez não consegui olhar Pedro e Inês apenas e só como um casal apaixonado. 

José Luís Peixoto - É uma angustia quando se lê José Luís Peixoto. É dos autores Portugueses que sigo há mais tempo. Tenho as primeiras edições de "Nenhum Olhar" e de "Uma casa na Escuridão". Mas Peixoto não é bom só aqui! Ao longo dos anos os seus livros são histórias que me encontram sempre. "Em teu Ventre", sobre os pastorinhos de Fátima e sobre a Virgem Maria, "Abraço", "Galveias", e este "Autobiografia", uma história com José Saramago lá dentro. É um livro fascinante. E Peixoto não fica atrás quando falamos de poesia. Peixoto é angustiante!

Afonso Cruz - "Para onde vão os Guarda Chuvas" é para mim a obra mais impressionante de Afonso Cruz. Foi o segundo livro que li do autor, depois de ler "Flores" que também gosto muito. É um autor que se destaca em várias áreas, e que também se aventura em literatura infantil e muito bem. "Jesus Cristo bebia Cerveja" "Principio de Karentina" também são livros a ler do escritor, mas a não perder mesmo é "Jalan, Jalan" 

David Machado - "Índice Médio de Felicidade" e "Deixem falar as pedras", são dois dos livros que mais gostei do escritor. Depois existem os infantis e esses não tenho conta dos títulos que vale a pena ler. E quando digo ler, não é só as crianças, mas também os adultos. "Índice Médio de Felicidade", foi adaptado para o cinema, e a história apesar de se centrar numa época de crise económica que Portugal viveu à alguns anos atrás não deixa de ser uma história que aos dias de hoje é perfeitamente realista.

Ricardo Fonseca Mota - Só li "Fredo" do autor. Mas "Fredo", bastou! É um livro poderoso... com uma história que eu acho que toda a gente que gostaria um dia de escrever, sonha conseguir escrever.
  

Dulce Maria Cardoso - Quem ainda não leu "Eliete" e principalmente de for mulher que leia. "Eliete", "Eliete", uma história notável, mas para mulheres. Também já li " O Retorno" que achei muito bom, mas não tem o peso de "Eliete".

Nuno Camarneiro – “Debaixo de algum céu”, foi o único livro que li deste escritor… aparentemente lembra “Clarabóia” de José Saramago. Quando digo lembra, refiro-me ao enredo do livro. Quanto á escrita é bastante suave e deixa-nos um rasto de tranquilidade. Uns angustiam-nos, outros tranquilizam-nos.







Sónia Louro - Os livros de Sónia Louro são biografias contadas de figuras portuguesas. Amália Rodrigues, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Eusébio... Com a Sónia Louro consegui amar Amália e amar Fernando Pessoa. Duas personagens portuguesas que me eram muito dúbias e que hoje tenho uma admiração profunda.
  
Joel Neto - Ainda só li o primeiro livro de memórias "A vida no Campo". Confesso que tem sido constantemente preterido por outros títulos e outros autores e por vezes desmerecida mente, porque Joel Neto e muito bom no que escreve, e "A vida no Campo" é um livro delicioso. Haja tempo, para ler tudo o resto de Joel Neto.

Nuno Nepomuceno – Deste escritor ainda só li “A morte do Papa”, e dentro do género literário onde se enquadra, considero que é muito bom, muito bom mesmo. Temos poucos escritores portugueses a desafiar o estilo de “Triller”, e em comparação com escritores estrangeiros que vendem milhares de exemplares não acho que o Nuno lhes fique nada atrás. A diferença é que Portugal é pequeno, mas mesmo assim os nossos escritores não o são.

Valter Hugo Mãe – A minha relação com Valter Hugo Mãe é bastante difícil. “ A Desumanização” é um dos meus livros preferidos, e “ As mais belas histórias do mundo” também, mas em compensação não gostei muito de “O nosso reino”, e nem consegui acabar “Homens imprudentemente poéticos”. Por isso encontro-me no limbo com o Valter Mãe.
  
Ricardo Correia – “O Regresso do Desejado”, é uma trilogia do género Romance Histórico. Os dois primeiros volumes já estão editados e o terceiro sairá em Setembro.
O tema é a possibilidade de D. Sebastião não ter morrido ou desaparecido em África e aquilo que Portugal poderia ter sido se isso tivesse acontecido. É tudo imaginação, mas uma imaginação muito, muito boa, e está tão bem escrito, que deu por mim a desejar verdadeiramente que tudo aquilo tivesse acontecido.

Miguel Esteves Cardoso – O primeiro livro que comprei com o meu primeiro ordenado foi um livro de Miguel Esteves Cardoso. A minha primeira compra com o meu primeiro dinheiro. Na altura o livro “O Amor é fodido”, tornou-se um drama. Não gosto de dizer asneiras e na livraria onde fui o livro já não estava em exposição, pelo que tive que pedir. Para dar a volta á questão, pedi o livro de Miguel Esteves Cardoso e corei da ponta dos cabelos à ponta dos pés. É um defeito meu. O livro é tremendo, e já o li duas vezes. É o velhinho lá da estante. Já não leio Miguel Esteves Cardoso à muito tempo. Já tenho saudades.

Inês Pedrosa – Também uma escritora que já não leio há muito tempo, mas que ultimamente também não tem editado. “Fazes-me falta”, e “Fica comigo esta noite”, são dois livros da escritora incontornáveis.

José Tolentino Mendonça – Com José Tolentino descobri outra forma de olhar para Deus. É o primeiro escritor de Teologia que descobri e em relação a ele, não vou fazer referência a nenhum livro em especial porque todos os livros são livros para ler. Quer se acredite em Deus ou nem por isso, o caminho que percorre ilumina, e eu descubro verdadeiros tesouros dentro dos seus livros.

Tiago Cavaco – “Milagres no Coração” e “Seis sermões contra a preguiça”, são os únicos livros do escritor que estão disponíveis para compra. Mais uma vez quer acreditem em Deus ou não, leiam! Não se vão arrepender!








O Jogo do Anjo - Carlos Ruiz Zafón

"Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar sobre as suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se mais forte. Neste lugar, os livros de quem já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar às mãos de um novo leitor, um novo espírito..."


Ler Zafón é sempre uma estrada difícil de percorrer. Zafón mete-se dentro da nossa pele.
Com "Marina", foi assim, o melhor que li de Zafón até agora. Com "A Sombra do Vento" o mesmo.
Zafón tem um estilo único. Histórias fantásticas a raiar o sub-natural dentro de uma Barcelona de outros tempos. Esta é a formula. O narrador é um homem, mas são as personagens femininas que me marcam.
No caso de "O Jogo do Anjo", são duas, Cristina e Isabella.
 A história apesar de ser, ou estar inserida no "Cemitério dos Livros Esquecidos" e de ser o segundo volume está num tempo anterior ao primeiro livro.
Há personagens já conhecidas, como Dom Anacleto, Barceló, Sempere Filho e o próprio Cemitério dos livros esquecidos que não é uma personagem, mas onde todos param em alguma parte da sua vida. É o chamamento dos livros.

Este livro é uma história e demónios, de casas malditas e de pessoas amaldiçoadas. Mas é também uma história de amor profundo e de amigos para sempre.
Confesso que demorei mais tempo a ler o livro do que esperava. É um livro mais difícil de interpretar.
Certas personagens tiveram um caminho doloroso e estranho, e é difícil continuar caminho com esses acontecimentos. Saí daqui sem perceber a realidade da ilusão. Que fiquei no limbo sem saber se o "Patrão" é um Deus ou o próprio Lucifer.
Duvidei da realidade, e terminei o livro duvidando das acções das personagens. 
Hesitei e hesito naquilo que David Martin sabe que fez ou sequer fez. 

No meio disto tudo estão os livros, e os livros também, podem ser uma espécie de fé ou religião. Podem ser um caminho para a nossa redenção ou para a nossa loucura.
O sermão do padre rebelde e desobediente no enterro de Sempere pai é um verdadeiro hino a Deus e aos livros;
"- O senhor Sempere e eu fomos amigos durante quase quarenta anos, e em todo esse tempo só falámos de Deus e dos mistérios da vida numa ocasião. Quase ninguém sabe, mas o amigo Sempere não entrara numa igreja desde o funeral da sua esposa Diana, para junto da qual o acompanhamos hoje a fim de que jazam um ao lado do outro para sempre. Talvez por isso todos o consideravam um ateu, mas ele era um homem de fé. Acreditava nos amigos, na verdade das coisas e em algo a que não se atrevia a dar nome nem rosto porque dizia que para isso serviam os padres. O Senhor Sempere acreditava que fazíamos todos parte de algo e que, ao deixar este mundo, as nossas recordações e os anseios não se perdiam, passando a ser recordações e os anseios dos que vinham ocupar o nosso lugar. Não sabia se tínhamos criado Deus à nossa imagem e semelhança ou se ele nos criara a nós sem saber muito bem o que fazia. Acreditava que Deus, ou fosse o que fosse que aqui nos trouxera, vivia em cada uma das nossas acções, em cada uma das nossas palavras, e se manifestavam em tudo aquilo que nos fazia ser mais do que simples figuras de barro. O Senhor Sempere acreditava que Deus vivia em pouco, ou muito, nos livros, e por isso dedicou toda a sua vida a partilhá-los, a protegê-los e a assegurar-se de que as sua páginas, como as nossas recordações e os nosso anseios, nunca se perdessem, porque acreditava, e fez-me acreditar a mim também, que enquanto houvesse uma única pessoa no mundo capaz de os ler e os viver, haveria um pedaço de Deus ou de vida. Sei que o meu amigo não teria gostado que nos despedíssemos dele com orações e cânticos. Sei que lhe teria bastado saber que os amigos, os muitos que hoje aqui vieram despedir-se, nunca o esqueceriam. Não tenho dúvidas de que o Senhor, embora o velho Sempere não o esperasse, receberá a seu lado o nosso querido amigo e sei que viverá para sempre nos corações de todos os que hoje aqui estamos, de todos os que um dia descobriram a magia dos livros graças a ele e de todos os que, mesmo sem o conhecerem, um dia atravessaram as portas da sua pequena livraria onde, como gostava de dizer, a história acaba de começar."

Eu adorei, mas eu adoro Carlos Ruiz Zafón. 

19 de agosto de 2020


A Princesa do Dia e o Príncipe da Noite ou "Como nascem as histórias" - Lisbeth Renardy & Adeline Yzac 


" Há muito, muito tempo, havia de um lado o reino do Dia e do outro o reino da Noite.
No primeiro reino, o Sol nunca se punha. No outro, era a noite que não se punha nunca.
A filha do rei do Dia e o filho do Rei da Noite apaixonaram-se.
Pouco tempo depois, casaram.
A princesa do Dia instalou-se no palácio do marido, o príncipe da Noite. No caminho, a jovem princesa recebeu muitos e variados presentes dos habitantes do reino do seu pai.
Uma velhinha até lhe ofereceu uma pequena noz, uma noz pequenina e avermelhada, dizendo: <Se algum dia te sentires muito triste, abre esta noz e ela ajudar-te-á.>
A princesa agradeceu o presente. Guardou a noz no bolso e nunca mais se lembrou dela.
A jovem princesa começou por viver feliz no palácio do rei da Noite. Tudo era novo e atraía a sua curiosidade. O marido adorava-a e toda a gente gostava dela.
Porém, no reino da Noite, tudo era escuro e triste. Não passou muito tempo até a princesa perder o riso e a alegria. Tudo lhe metia medo. Ouvia ruídos estranhos e sinistros. Sentia falta da luz. Sentia falta das cores.
A jovem princesa adoeceu. Ficou magra como um junco e branca como leite.
Nenhum dos médicos que acorriam à sua cabeceira conseguia curá-la.
Mas numa noite, enquanto a aia arrumava os vestidos, a pequena noz caiu no chão, ao lado da cama da princesa. Então, a jovem lembrou-se das palavras da velhinha: <Se algum dia te sentires muito triste, abre esta noz e ela ajudar-te-á.>
A princesa abriu a noz. Cá para fora, saltou uma velhinha. Era uma contadora de histórias, que logo começou a narrar. O palácio encheu-se de cor e de luz e a princesa curou-se.
Como todo o reino ia visita a princesa para ouvir a contadora, algo de estranho começou a acontecer. Uma a uma, as pessoas começaram também a contar histórias. Já ninguém dormia. Já ninguém trabalhava.
Preocupados, o rei do Dia e o rei da Noite reuniram-se e decidiram partilhar a luz e a escuridão.
Metade do tempo, o Sol iria iluminar o reino da Noite, enquanto a sombra levaria a escuridão ao reino do Dia. Depois trocavam.
E foi assim que nasceram as histórias. E com elas os dias e as noites."

Este foi um dos muitos livros que foram lá parar em casa no tempo do primeiro ciclo.
Foi prenda de Natal, e como podem ver é uma história simples, simples, simples. Cabe até dentro de uma noz.
Como todas as histórias infantis o texto é curto e claro. O poder das histórias na vida vazia e crua das pessoas crescidas. O direito à fantasia e à imaginação como alegria de viver.
Tudo coisas que esquecemos quando crescemos, ou que nos tentam fazer esquecer!

É um livro muito popular lá em casa. A capacidade que o escuro e a solidão tem para nos derrubar, e a força na luz e nas histórias que nos podem transformar.
Era tão bom que a vida fosse assim tão simples! Só que por vezes é bem mais frágil.


Obra Completa de Alberto Caeiro - Poemas Inconjuntos (1915)



Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que fazem os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.
Ter beleza é mostrar beleza. Como poderia ser sem se mostrar?

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achara nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva-
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amaria,
Mas não fui amado.
Não fui amada pela única razão que é a razão.
Porque não fui amado.

Consolei-me voltando só ao sol ou à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

16 de agosto de 2020

O Discípulo - Hnorth & Rosenfeldt



E vamos falar de Sebastian Bergman de novo.
Pois é!
Parece que foi ontem que escrevi a minha opinião sobre o primeiro livro da saga Sebastian Bergman. e já estou aqui de novo para falar outra vez do mesmo assunto.!
Já estou a ver aí algumas "caritas", com aquela expressão de repetição.
Outra vez!?
Pois é!
A bem dizer estou na "lama", e agora para sair um pouco dela, decidi que não vou ler a saga seguida, mesmo que a minha mente e o meu corpo peçam os restantes livros já, já de seguida.
Sou capaz de ficar ainda mais viciada e não pode ser. O vício tem de ser pelos livros, por todos os livros, não é?

Agora o livro, O Discípulo! É para isso que cá estamos!

Se no primeiro livros "Segredos Obscuros", Sebastian Bergman era acima de tudo irritante e irritante, neste segundo livro "O Discípulo", Sebastian passou a ser principalmente, efectivamente, com toda a certeza, humano.
O livro, é superior ao primeiro, por isso eu prevejo que os restantes serão definitivamente muito mais entusiasmantes.
Neste segundo livro Sebastian descobre que tem uma filha, e descobre que essa filha é a Vanja, com quem trabalhou no caso Eriksson. A sua relação com ela é péssima, em parte porque são muito parecidos e em parte porque Sebastian não cria empatia com ninguém.
A sua forma de lidar com as pessoas é no mínimo irritante, e a forma como responde aos outros e ultrapassa todos os limites da cordialidade fariam qualquer um de nós lhe virar as costas.
Confesso que num contexto de história contada, estes diálogos são-me muito interessantes, mas que na vida real também eu não consigo lidar com pessoas com este carácter e virava-lhe as costas com toda a certeza.

Contudo esta descoberta deixa Sebastian numa situação nova e os alicerces da forma como encara a realidade transformam-se.
Agora se quisermos ser um pouco "profile" como Sebastian o é, diríamos que a sua conduta apenas tenta esconder uma infância controlada e parca em amor.
Sebastian lê os outros até nos seus gestos e na forma como reagem ás situações e neste segundo livro Sebastian é posto nesse plano. Não naquele plano em que ele lê os outros, mas quando os outros o lêem a ele. 
De repente Sebastian tem algo a perder!

É neste ambiente que em Estocolmo, no pico do uma vaga de calor uma série de mulheres são assassinadas da mesma forma que há quinze anos por Edward Hinde assassinou outras quatro mulheres.
O grande responsável pela detenção de Edward foi o trabalho do irritante Sebastian Bergman.
A detenção de Edward deu a Sebastian a notoriedade e a fama. Escreveu livros, deu palestras, viajou pelo mundo a explicar e desenvolver as teorias de como pensa a cabeça de um assassínio em série.
Enquanto isso, Edward permanecia preso numa cadeia de alta segurança, isolado, sem acesso ao mundo exterior, sem Internet, com controle de movimentos (aparentemente), e com muito tempo para pensar em como se poderia vingar.
Agora, quinze anos depois os crimes voltaram, Edward Hinde continua preso, e para desconcerto de Sebastian as vítimas foram todas suas amantes.
Assistimos ao desmoronar de uma personagem que estávamos habituados a ver de uma forma diferente e isso transforma a história noutra história.

Não estava preparada para um Sebastian incapaz de lidar com uma situação de ruptura. Ele é completamente ultrapassado em todos os sentidos. Pelos colegas do departamento de investigação criminal onde se inclui a sua filha Vanja e pelo próprio Edward que o manipula como não conseguiu fazer há quinze anos atrás. Ele consegue ver até o que os outros não conseguem ver.
Que a sua falta de capacidade de lidar com a situação não é porque se sente ultrapassado e preterido pelos outros. Que a culpa que o assola o diminui é um facto, mas não é único. Ele tem de esconder aos olhos de todos a sua relação directa com Vanja. 
Essa capacidade que Sebastian têm de ter é o que pode definir que Vanja não se torne também um alvo.

Estivemos quase a perder o Sebastian, mas como quase todas as pessoas é no momento crucial que o jogo vira e aquilo de que somos feitos renasce. Não foi diferente com Sebastian, e o interrogatório que ele faz a Ralph Svensson a partir da página 630 é ensurdecedor. Magistral! 
Foi quase, quase no fim, mas Sebastian Bergman voltou melhor do que nunca.

Como já tinha dito na opinião do primeiro livro esta é uma saga, cuja estrada quero percorrer. 

(NOTICIAS - LIVROS)
(Retirado da Revista Expresso edição 8 de Agosto de 2020 - Texto de Luís M. Faria)



Nunca virei a minha bitola para os livros científicos, ou de investigação, ou mesmo livros de jornalista que falam sobre temas específicos da sociedade.
Já deu para perceber que a minha escolha recai, apesar de com os anos se alargar em várias áreas, sempre dentro daquilo que é a imaginação e a produção literária do escritor.
Ou seja, sem mais rodeios, apenas me interesso por literatura e o resto passa-me ao lado, talvez por incompetência minha.
O melhor que consigo, são alguns livros de Teologia e autores específicos como José Tolentino Mendonça, Tomás Halik, e o próprio Papa Francisco.
Mas este livro que vos apresento aqui, não sendo literatura quero muito ler. Ainda não li, outra novidade no Blogue, mas depois de ler a publicação na revista do Expresso no passado dia 8 de Agosto fiquei com a certeza que quero mesmo ler este livro.
Provavelmente não vou conseguir ler até ao fim como aconteceu com o livro de António Damásio "O Sentimento de Si", mas vou com a esperança que sim, e que no fim saberei um pouquinho mais sobre aquilo que nos rodeia hoje em dia.
Porque hoje em dia, apenas vivemos de dúvidas, de muitas dúvidas.


(texto completo da Revista Expresso)

ESTAVA LÁ TUDO
Uma obra exemplar de divulgação científica cuja mensagem podia ter poupado muitas vidas.


"Em entrevistas dadas recentemente, David Quammen tem dito que a maior surpresa em relação à pandemia não é o facto de estar a acontecer, mas de nos termos preparado tão pouco para a sua chegada. Com efeito, ela não só era previsível como foi expressa e repetidamente prevista por muitos cientistas - e por divulgadores da ciência como ele. Um dos avisos inequívocos foi justamente "Contágio", publicado em 2012.
Com um background em literatura, que se reflecte na qualidade da sua escrita, Quammen tem colaborado em revistas como a Harper´s, a The Atlantic e a Nacional Geographic. O presente livro explora a história de vírus como o Ébola, o Hendra (um vírus que atinge cavalos e se transmite a humanos), o VIH, o Machupo, o Nipah, o SARS, a gripe... Além dos vírus, há outras doenças transmissíveis de animais para humanos que Quammen também refere. No conjunto, as chamadas zoonoses são responsáveis por cerca de 60% das doenças infecciosas que atingem os humanos. Isso devia bastar, ou ter bastado, para a importância do assunto ser compreendida, mesmo que a terrível ameaça não tivesse agora concretizado.  
Em 2012, Quammen escrevia "A Próxima Grande Pandemia [...] é um assunto abordado pelos cientistas que estudam doenças em todas as partes do mundo. Pensam sobre ela, falam sobre ela e estão habituados a responder a perguntas sobre ela. Enquanto trabalham ou discutem pandemias do passado, a Próxima Grande Pandemia está directa ou indirectamente a rondar-lhes os pensamentos." Agora que ela chegou, o livro não vale apenas por nos repetir coisas que tivemos de aprender nos últimos meses, mas por contar histórias que não sabíamos. Frequentemente são puras histórias de detective.
A procura das origens da sida é um bom exemplo. A posta aparentemente decisiva para determinar o momento em que o vírus passou de animais para humanos foi a divergência evolutiva entre diferentes estirpes do VIH-1 do grupo M. detectadas em restos humanos. Sendo conhecida a taxa média de mutação do vírus, explica Quammen, chegou-se a uma data estimada de 1908, ou seja, muito antes do que anteriormente se julgava.
Não menos fascinante é a história do vírus Hendra, que abre o livro, ou a do Ébola, onde Quammen encontrou a imagem particular que o impressionou - 13 gorilas mortos. Essa imagem nem sequer lhe surgiu directamente, mas através do relato de três habitantes locais no Gabão. Apesar disso, foi suficiente para lhe vincar de forma indelével a inter-relação entre humanos e animais quando se trata de vírus, em especial de vírus emergentes, lançando-o na sua aventura de descoberta.
O declínio da imprensa tradicional está a destruir a possibilidade de fazer jornalismo a um certo nível, e os relatos de Quammen são uma boa demonstração daquilo que se perde. O tipo de viagens que ele fez e de acesso que teve provavelmente não serão possíveis daqui a algum tempo, mesmo depois da pandemia passar. A sua abordagem é tão competente na descrição de aspectos pessoais como na explicação de evoluções e conceitos científicos. Sobre a questão do vírus serem ou não serem vivos, ele é agnóstico, chamando-lhes "atalhos mecânicos para o próprio principio da vida" e notando as estratégias complexas que usam para se auto preservar e multiplicar, como qualquer ser vivo. "Os vírus só podem replicar-se no interior das células vivas de outro organismo", escreve Quammen. "Costumam habitar num tipo de animal ou planta, com o qual as suas relações são íntimas, muito antigas e frequentemente (mas nem sempre)comensais. Ou seja, dependentes mas benignas.
Não têm vida independente. Não causam comoção. Podem matar alguns macacos ou aves de vez em quando, mas essas carcaças são absorvidas depressa pela floresta. Nós, humanos, raramente temos oportunidade de notar [...]. Mas agora a perturbação dos ecossistemas parece estar a libertar esses micróbios num mundo mais amplo e com uma frequência cada vez maior. Quando as árvores caem e os animais nativos são abatidos, os germes voam como poeira de um armazém demolido. Um micróbio parasita assim sacudido, despejado, privado do seu hospedeiro habitual, tem duas opções: encontrar um novo hospedeiro, um novo tipo de hospedeiro, ou extinguir-se. Eles não nos escolhem de propósito como alvos. O que acontece é que nos pomos aberta e abundantemente á sua disposição."
Crescimento enorme da população humana ao longo das últimas décadas, disrupção de habitats naturais, conectividade cada vez maior das sociedades humanas. Estas são variáveis decisivas das epidemias, talvez mais do que a própria evolução do vírus e as respectivas taxas de mutação (muito mais elevadas nos vírus de ARN, como SARS-CoV-2). Uma vez desencadeada a pandemia, o comportamento humano volta a ser decisivo, mas agora os actos do dia a dia, que, multiplicados, afectam de forma decisiva o progresso da doença.


Há semanas, o economista Paul Krugman publicou um texto intitulado "A América bebeu o futuro das crianças". Nele dizia que o á vontade com que os americanos voltaram aos hábitos gregários pré-confinamento, em parte devido á irresponsabilidade de políticos, tinha levado a uma subida drástica das infecções que provavelmente iria tornar impossível reabria as escolas no outono.
Como a escolaridade presencial é essencial para as crianças realmente aprenderem, a irresponsabilidade de muitos adultos poderá ter comprometido irreversivelmente o futuro de uma geração ou pelo menos das usas faixas menos desfavorecidas.
O paradoxo é que, numa altura em que finalmente começa a ser aceite a noção de que a soma de milhões de comportamentos individuais tem efeitos sobre o fenómeno difuso como o aquecimento global, muitas das mesmas pessoas que evitam plásticos de utilização única parecem não ter escrúpulos em sair à noite para beber em estreita proximidade com um grupo de amigos ás vezes numeroso. E o fatalismo com que alguns deles justificam esses comportamentos ("de qualquer forma, todos vamos apanhar o vírus") não é menos irracional do que a atitude anticientifica dos negacionistas das alterações climáticas que eles próprios criticam. 
Tal como uma epidemia de um vírus, uma epidemia da desinformação é contagiosa, e uma das suas estirpes mais perigosas é a ignorância deliberada.
Conforme lembra Quammen num artigo de Janeiro que esta edição do livro já inclui "a pandemia não foi um acontecimento novo ou um infortúnio que nos aconteceu". Continua a não ser.

13 de agosto de 2020


A arte de se maravilhar com Francisco e Jacinta de Fátima - Jean-François de Louvencourt




Hoje é dia 13 de Agosto, um dos dias fortes em Fátima.
Para quem sabe, Nossa Senhora de Fátima apareceu aos Três Pastorinhos de Fátima de Maio a Outubro de 1917, sempre no dia 13.
Acrescido a esse facto, Agosto tem o significado dos Emigrantes. 
E Emigrante que se preze, cristão que venha passar férias em Agosto em Portugal, ao dia 13 vai a Fátima. É essencialmente uma atitude de gratidão. É  fé.
Aquele sentimento que é único e vivido de forma única por cada um de nós. Algo que nos puxa para a frente, nos ampara e nos acolhe.
Eu creio! 
Todos cremos em alguma coisa. Até os ateus crêem na sua descrença. Que não é aquilo que os move, mas o facto de não acreditarem que os move.
Eu creio! Felizmente. Digo, felizmente porque sinto que a minha existência não tinha sentido se não acredita-se que alguma coisa me ampara. Que me fortifica. E creio que não sou eu, que não é pura e simplesmente só a minha vontade, mas também a minha crença.

Vou com frequência a Fátima, duas a três vezes por ano, mas nunca fui a um dia 13. Nunca experimentei a fé como uma partilha com a multidão, mas como um acto isolado, como um momento solitário. Escolho assim, dias mais sossegados, não carregados de significado para o mundo mas cheios de significado para mim.
Provavelmente as sensações que se tem a um dia 13 de Maio, são completamente diferentes. É algo que vou ter de experimentar um dia, mas também para isso é preciso criar a capacidade para as multidões. Para estar no meio de muitos outros. 
Como vou a Fátima desde miúda, já dou por mim a passear pelas ruas e não me  limito ao recinto da oração. E acreditem, o peregrinar por Fátima, por aquelas traseiras do Santuário em que o silêncio é revelador é tão importante como rezar na Capelinha das Aparições.
É lá, nesses passeios pelas ruas desertas que ninguém atravessa com o vento a restolhar nas árvores que eu creio.
Descobre-se outra Fátima. A mesma terra, mas outros caminhos.
Lembro-me que umas das últimas vezes, dei por mim a pensar no seguinte: O que Lúcia, Francisco e Jacinta conseguiram fazer de Fátima. Será que quem vive e trabalha em Fátima tem noção disso. Verdadeiramente noção?
E quem eram os três Pastorinhos? Eu sei, que a personagem principal desta história é a Nossa Senhora de Fátima, mãe de Jesus Cristo. Mas há Nossa Senhora eu deixo para outra altura, pois é uma personagem fascinante e merece destaque. Por hoje ficamos com Francisco e Jacinta de Fátima.

A arte de se maravilhar com Francisco e Jacinta de Fátima de Jean-François de Louvencourt é um livro maravilhoso sobre os dois pastorinhos.
Nunca nenhum livro sobre a sua vida tinham-me despertado tanto interesse.
O prefácio do livro, estende-nos o tapete para um caminho de descoberta de duas vidas que decidiram maravilhar-se com a vida.
"há uma pergunta curta, mas certeira, que sintetiza o essencial desta obra: para que serve viver? A resposta mais bela é-nos dada por Francisco e Jacinta: serve para nos maravilharmos!"
Duas crianças simples e inocentes, sabiam mais da vida do que os doutores das leis. Sabiam mais que muitos de nós. Sabiam mais do que eu! 
Os Pastorinhos eram seres humanos simples, muito simples mesmo, alguns até podem referir ingénuos, apesar de eu não aceitar que ingenuidade seja um defeito.
Eles procuraram no seu sacrifício diário, salvar o mundo e consolar a Deus. Mas faziam-no de forma serena e não o faziam em frente aos outros.
Para eles só os olhos de Deus e de Nossa Senhora verdadeiramente interessavam.
E a fé deles, o crer em Deus e na Nossa Senhora, era algo tremendamente forte. Eles foram desprezados, caluniados, perseguidos inclusive pelo poder político local. Mas o crer em Deus estava lá, inabalável.
"Em Aljustrel não se dava o mínimo crédito ás afirmações dos pequenos. Motejos, acusações de intrujice, censuras ásperas á fraqueza dos pais ou incapacidade de lhes darem educação e o correctivo que tais circunstâncias reclamavam"
Se compararmos com o Novo Testamento, recordamos quando Jesus Cristo foi pregar á sinagoga da sua terra natal, e foi escorraçado e insultado, chamado de mentiroso e desacreditado.

A fé cristã assenta muitas vezes sobre coisas questionáveis para o ser humano. Muitas vezes essas ideias, essas certezas, são difíceis de compreender  e aplicar nos tempos que atravessamos. Acredito que em todos os tempos da história, seja difícil assimilar esses ensinamentos. 
Por vezes vejo séries ou documentários na TV, de tempos antigos ou até livros de época que retratam a Igreja como uma comunidade opressora sobre todos os poderes ou pessoas. A inquisição é uma dessas fases. É difícil acreditar na Igreja depois da Inquisição.
A própria construção do país Portugal assenta em cruzadas contra Mouros e Muçulmanos, perseguições a Judeus.  Guerras Santas em nome de um Deus, feitas pelos homens.
Aos dias de hoje, concluímos que os Cristãos são o povo mais perseguido.
Enfim! Quando falamos disto não falamos de fé, mas de poder e política, e a Igreja não é Jesus Cristo. A Igreja por vezes apenas parece uma instituição que se serve de Jesus Cristo a todos os níveis.
Tenho algumas ideias a esse respeito mais não estou aqui para aprofunda-las.

Apenas e porque é 13 de Agosto, queria falar-vos deste livro que conta de uma forma magistral o pensamento simples e puro de dois pastores que viram Nossa Senhora de Fátima e se sentiram maravilhados por isso.
Perguntei-me muitas vezes, nas minhas visitas a Fátima, porquê eles? Afinal eram só Pastores.
A leitura deste livro leva-nos á questão contrária. 
Só poderiam ter sido eles!
Francisco era o rosto da misericórdia "ele nunca falava da vida dos outros nem se metia naquilo que não lhe dizia respeito. Francisco tinha um verdadeiro sentido de respeito e amor ao outro. Não julgava, não condenava e acolhia o que de melhor o outro tinha"
Jacinta era uma força da natureza. Era por vezes contida, por vezes caprichosa. Enquanto que Francisco tinha já aquele espírito pacifico e benevolente que as aparições de Fátima mantiveram, em Jacinta a transformação foi mais profunda. A sua existência de vida é também bastante mais sofrida. Até a sua doença é mais sofrida, como se o seu processo de aprendizagem fosse mais doloroso.
Existe outro livro "Jacinta de Manuel Arouca" que retrata a vida de Jacinta. Também a ler.
Para quem não sabe tanto Francisco como Jacinta morreram de Gripe Espanhola, muito falada actualmente devido ao COVID-19.

"o sofrimento desestabiliza e fragiliza" é uma dolorosa observação que me vem á memória quando visito as campas de Francisco e Jacinta na Basílica de Fátima.
A pergunta que se coloca é; Nossa Senhora apareceu a Francisco e Jacinta, mas não os salvou do sofrimento.
Para os Pastorinhos o sofrimento não fragilizou, e para a maioria de nós tão pouco. O sofrimento humaniza-nos e até pode dar sentido a uma vida vazia.
A nossa existência têm sentido? 
Têm! Com toda a certeza, mas é necessário caminhar e persistir até ao fim, seja qual for a dificuldade do caminho ou o tamanho do sofrimento.


9 de agosto de 2020


Segredos Obscuros - Hjorth & Rosenfeldt


" - Lembras-te do que me disseste na última vez em que nos vimos? Disseste-me que Deus me tinha deixado. Que ele tinha retirado de mim a sua mão.
Junto à lápide inacabada no adro da igreja da cidade em que ele crescera, onde ninguém o conhecia, ninguém o procurava, ninguém lhe sentia a falta, Sebastian olhou para a fotografia da sua falecida mulher e da sua falecida filha. Um estado de coisas que era verdadeiro em qualquer cidade. Sebastian limpou as faces com as costas da mão esquerda.
- Tinhas razão."


Comprei este livro depois de ver a opinião de Maria João Covas da "Livrosgosto" (livrosgosto.blogspot.com), no Youtube.
A Maria João tem um blogue também de opinião, e um canal no Youtube onde publica as suas opiniões. Gosto muito de ver os seus vídeos. Têm uma biblioteca como pano de fundo inspiradora, e adoro a sua maneira de falar e a forma como apresenta as suas leituras.
Têm mais graça do que eu, pois a Maria João Covas fala e espalha simpatia e eu escrevo. Às vezes ler é chato, eu sei, mas eu não tenho a amabilidade, nem a empatia de Maria João Covas. Sou uma menina mal comportada.
Quanto aos Segredos Obscuros, recomendo que mesmo que leiam a minha opinião até ao fim, dêem uma espreitadela á opinião da Maria João Covas. Prometo que não se vão arrepender!

Agora, quanto ao livro propriamente dito, há muito a dizer de facto. Principalmente porque estamos perante uma Saga, que já está intitulada de Saga Sebastian Bergman. E o que significa isso? 
Significa que se gostarem muito, muito deste livro, ainda se vão poder regalar com mais cinco título já editados. Não creio que os escritores fiquem-se por aqui.
Os autores são Suecos e são uma dupla. Os nomes são estranhos e difíceis de dizer, mas como estou apenas a escrever e quem tem de ler são vocês, os nomes deles são Michael Hjorth e Hans Rosenfeldt. Fácil, não é?
Segundo a contracapa do primeiro volume, este Segredos Obscuros, é a série policial nórdica de maior sucesso internacional.
Apesar de já estarem editados 5 títulos, as histórias são todas independentes. A única relação entre os livros é Sebastian Bergman.
E quem é Sebastian Bergman?
Bom...Sebastian é um psicólogo forense que presta serviços á polícia quando solicitado. Há parte disso, é um individuo irritante, insuportável, sexista, pedante, convencido e ríspido. Chega a ser brusco e revoltado.
A sua vida é um desastre. As suas relações são breves momentos de sexo, com desconhecidas. Os seus pais odiavam-no e ele a eles. A sua mulher e a sua filha pequena morreram no Tsunami no Oceano Índico.
Mas é precisamente o comportamento deste homem que nos prende ao livro até ao fim. Os seus diálogos são irritantes, mas são aquilo que nos faz prosseguir.
Porque Sebastian Bergman não é só defeitos. Ele compreende os outros só pelo olhar. Ele sabe daquilo que as pessoas são capazes e do que pensam. A maneira como vivem e o porquê de o assim fazerem. Ele não julga mas interpreta.

Com a morte de um rapaz na sua cidade natal, na altura em que Sebastian Bergman volta a Vasteras, pela morte da sua mãe, leva a que após outros acontecimentos, Sebastian Bergman entre para a equipa policial que tenta resolver o homicídio.  
Alguns policias já o conhecem de outros tempos e outros casos policiais, outros passaram a conhecê-lo agora. A opinião entre todos, com o tempo vai-se tornando uniforme. Sebastian é insuportável!
Contudo é o contributo de Sebastian que permite apanhar o verdadeiro culpado.
Vasteras era uma cidade na qual Sebastian não ia há mais de trinta anos. O seu pai morrera á vinte e dois anos e a sua mãe acabava de morrer há poucos meses. Nunca mais os viu, nem teve intenções de o fazer. Não tinham relação familiar. Sebastian considerava o pai uma pessoa opressora demasiadamente preocupada com as aparência e a mãe demasiadamente ligada a essa forma de vida.
Os pais não conheceram a sua mulher e a sua filha.
Quando Sebastian chega a Vasteras a morte do rapaz já tinha acontecido, e a incapacidade da policia local faz com que seja chamada uma equipa de Estocolmo para resolver o caso. Essa equipa é nada mais nada menos que a equipa que Sebastian colaborou em tempos em casos de homicídios.
Enquanto Sebastian, tenta organizar a chamada "tralha" da mãe descobre entre as suas coisas, 3 cartas que lhe foram enviadas dizendo que Sebastian foi pai há 30 anos atrás.
Sem rumo e sem ninguém, Sebastian vê nessa remota possibilidade um principio de vida que não tem agora sem mulher e filha, e o envelope com a morada da suposta mãe da sua filha é o principio para Sebastian se oferecer para ajudar no caso policial de homicídio do rapaz em Vasteras.

Com o tempo, vamos descobrindo também o lado humano de Sebastian Bergman, como não poderia deixar de ser. 
Ele está lá em todos nós. Uns só têm umas finas camadas que o separam do olhar comum, outros tem de se procurara com mais cuidado.
O relato da vida de Sebastian   mostra que o amor quando esteve presente na vida dele o transformou num homem diferente do que se sempre fora. A falta desse amor voltou a coloca-lo no lugar de partida.
A sua verdadeira humanidade é particularmente visível, nos acontecimentos posteriores há descoberta do verdadeiro assassino do rapaz.
Um homem que poderia escolher simplesmente voltar costas há situação, arriscou a sua vida, para salvar a alma de um miúdo atormentado pelo desespero. 
Acho que é o ponto de viragem para aquilo que podemos esperar de Sebastian Bergman para o futuro.

Gostei muito da história. Acho a personagem Sebastian Bergman impecavelmente construída.
Estou dentro desta estrada para os próximos títulos.

8 de agosto de 2020


VAMOS FALAR DE LIVROS INFANTIS!


A estante lá de casa de livros infantis, cresceu muito durante algum tempo. 
Havia um frenesim escolar. Um jogo incentivado pela Professora Primária da pequena.
Os meus agradecimentos á Professora Maria João Mateus, uma extraordinária senhora, que pela disputa entre as crianças conseguiu criar o hábito da leitura.
Coisa, que eu, com muito esforço e muita entrega nunca o consegui verdadeiramente.
Contava que o meu exemplo fosse o suficiente, mas não era. Por vezes era até um desestimulo.

Mesmo assim os 4 anos do primeiro ciclo foram bastante produtivos, e antes de iniciar a saga Harry Potter, o vício do momento e outros géneros que tais, como o Estranhão, a Rapariga Totó e o Geronimo Stilton, passaram outras pérolas lá por casa.
Livros verdadeiramente incríveis, com histórias belíssimas e cheias de aprendizagem. 
E o grafismo, então!A ilustração!
Pedaços de imaginação sem precedentes. É admirável a quantidade de escritores que dedicam tempo a escrever para as crianças.
E escrever para criança não se pense que será mais fácil do que escrever um romance.
Entre 20 a 40 páginas temos de colocar lá tudo, de uma forma lógica para a cabeça em desenvolvimento de uma criança.

Como disse, a estante dos livros juvenis até é bastante composta. Escolhi 14 títulos para a vossa inspiração;


O Tubarão na Banheira - David Machado - Perdi a conta ás vezes que li e reli este livro. A história é tão engraçada e tudo começa com o esquecimento do avô do sitio onde colocou os óculos. Afinal estavam partidos no fundo do sofá. Avô e neto foram pescar para matar o tempo, e porque o avô não via bem, acabaram com um tubarão dentro da banheira. Hilariante! É uma história para ler em voz alta, muitas e muitas vezes. 


Uma noite caiu uma estrela - David Machado - A primeira vez que vi este livro foi no Fólio de Óbidos, quando tive a sorte de encontra o escritor David Machado, e até tenho autografado O Tubarão na Banheira. O livro é tremendamente escuro, e na altura não convenceu a pequena, e eu não comprei. Fiz-o mais tarde como prenda de Natal, e a história fala dos medos que temos cá dentro. Dos sonhos também. Aqui a ilustração é tão gratificante que o livro faz parte dos livros "não emprestáveis". Este livro não sai de casa, por nenhuma razão!


A Princesa da Chuva - Maria Dulca Soares - Perdi a conta aos livros que estão na estante desta escritora. Tudo o que era da Maria Dulca Soares era para ler. Este é mais um deles Um livro que fala de coragem. 


A Fada Oriana - Sophia de Mello Breyner Andresen - De todos os livros que aqui apresento, este é sem dúvida um dos meus favoritos. Quando o lemos em casa, foi para um projecto na escola. Um projecto tão grande que participamos na construção de uma fada em cartão. Ficaram penduradas no tecto da escola um ano inteiro. Ali a nossa fada Oriana que ajudamos a construir. Este foi o livro que deu inicio ao principio da emancipação. Lido antes de tempo, permitiu a viragem para outras realidades mais cedo. Uma compreensão da realidade. Quanto á história, para além de ser belíssima, ensina-nos a todos, pequenos e grandes, que os outros estão cá, e que nós estamos cá para os outros, sendo fadas ou simples seres humanos.


O Rapaz de Bronze também de Sophia de Mello Breyner Andersen - outro livro lindíssimo e com uma história comovente de Sophia. Não consigo sequer pôr em palavras a emoção que é ler este livro. Tremendamente emotivo e de uma delicadeza que só a Sophia nos podia dar.


O filho do demónio - Alice Vieira - Desta escritora a escolha é muita... muita mesmo. Quem não se lembra de Rosa, minha irmã Rosa. Um livro que nos fala de inteligência. A não perder!



O incrível rapaz que comia livros - Oliver Jeffers - Este livro veio da biblioteca municipal vezes e vezes sem conta. Um rapaz que come livros e que cada vez se torna mais e mais inteligente, até que um dia...pois, pois! É melhor lerem. Vão adorar. 



O Beijo da Palavrinha - Mia Couto - Quase todos os grandes escritores contemporâneos, tem um livro editado para crianças. Já aqui referi David Machado, e os outros vem a seguir. É fascinante a simplicidade que todos eles são capazes. Uma história sobre a capacidade dos sonhos, o amor ao mar, e a doença.


A girafa que comia estrelas - José Eduardo Agualusa - A história de uma girafa que passava a vida com a cabeça nas nuvens e uma galinha do mato, que falava que se desalmava.


As mais belas coisas do mundo - Valter Hugo Mãe - Este livro contém várias histórias. Para mim, lá dentro está a melhor história do mundo.



O Elefante Cor-de-Rosa - Luísa Dacosta - Amizade, solidariedade e entreajuda, numa história de elefantes.



A Contradição Humana - Afonso Cruz - A autenticidade das crianças. Por vezes, nós adultos deveríamos parar um poucochinho na nossa vida e ouvir o que uma criança têm a dizer sobre o mundo, com os outros. Um livro ilustrado para gente grande ler obrigatoriamente. 



A Maior Flor do Mundo - José Saramago- É Saramago, sem tirar nem pôr. Mas Saramago no seu melhor. Mesmo no seu melhor!


Desculpa, mas esse livro é meu - Charlie e Lola - Lauren Child - Muito difíceis de encontrar em Português. Neste momentos já se encontram todos esgotados, mas recordo-me que na Biblioteca encontramos outro " Eu nunca na vida comerei tomates"
Lola, bem! O que dizer de Lola... uma menina inacreditável. Como a minha filha diz. Esse livro é muito bom!


Se tiverem filhos pequenos, ou se simplesmente gostarem de histórias de crianças não deixem de passar os olhos por estes títulos.
Cada um melhor que o outro!