PROCURA-ME QUANDO A GUERRA ACABAR - AMY HARMON
Em Abril li o meu primeiro livro de Amy Harmon. "O que Sabe o Vento".
Quem segue o Blogue recorda-se que fiz grande alarido do assunto. O livro foi visceral para mim.
Ficou-me nas entranhas e foi a porta para realidades que há muito eu procurava.
Não vou aqui falar-vos dessas realidades porque as mesmas são outros assuntos, que estando relacionadas com livros nada têm que ver com este Blogue.
Estou a divagar eu sei. Por vezes dá-me para isto, e perco-me em conversas que para mim tem sentido mas para vocês, que ainda estão aí desse lado, não faz qualquer sentido.
Com tanto estrago procurei outros títulos da autora e pasme-se, em Portugal só existe mais um título. Este mesmo que têm à vossa frente.
Se a TopSeller por acaso deslumbrar estas letrinhas que eu aqui debito, por favor, traduza mais livros da Amy Harmon. Podem ter a certeza, eu compro!
E aqui me têm! Quatro meses depois do primeiro livro, quatro meses depois de uma longa caminhada eu que eu me fiz finalmente um pouco de gente, ou pelo menos deslumbrei esse conceito, cá estou eu com este livro nas mãos.
Posso dizer que é a primeira vez que abro a porta ao tema que insere a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo.
Confesso que sempre fugi de livros que retratassem essa época. Porquê?
O diabo andou à solta! A maldade pairou no mundo e sobre a Europa com mais violência do que em todas as outras. A degradação de um povo, como povo, como existência foi sempre algo que me fez recuar neste assunto.
Sou católica por formação, cresci e aprendi a ser católica e a acreditar em Jesus Cristo. Tive liberdade para procurar o meu caminho e encontrar o meu próprio Jesus Cristo, da minha melhor maneira possível. Sem pressões, sem imposições, sem ameaças, sem castigos. Assim é Jesus. Se queremos aprender alguma coisa sobre o que ele é e representa eu aconselho o Sermão da Montanha. Mas eu só aconselho. Eu não tenho perspetivas nem certezas. Tenho a minha realidade, e a minha devoção.
Jesus Cristo era Judeu.
Penso que muita gente não o saiba. Eu não o soube durante muito tempo, mas como já disse a minha educação religiosa foi feita há medida da minha vontade.
Os Judeus foram o povo que mais sofreu e foi dizimado por Hitler. Não eram puros, não eram limpos, tinham sangue nas suas mãos, mataram Jesus Cristo.
E assim se fez uma Guerra, e assim quase se destruiu um povo.
"A família é imortalidade. E Hitler destruiu não apenas ramos e raízes, mas árvores inteiras de famílias, florestas! Todos partiram. A Eva era a última Rosselli que restava, a última Adler."
Quem tem presente um pouco da história do Antigo Testamento, e eu confesso que apenas tenho um pouco, recorda a história do Êxodo. Um povo em constante movimento. Para eles o êxodo nunca acaba. Chegaram ao século XX e continuaram em movimento, sem pátria e em fuga.
"Fomos incapazes de criar raízes. Por isso, as nossas raízes estão nas nossas tradições, nas nossas famílias. Nas nossas crianças."
Uma família não é mais do que uma família que se estende e glorifica, que cresce e personifica. Na cultura Judaica a família é um dos símbolos mais importantes.
Eva e Angelo.
Eva judia. Angelo católico e padre. Ele nasceu na América mas os seus avós são Italianos. Ele com onze anos é mandado para Itália para estudar para padre. A mãe morreu quando deu à luz a sua irmã. O pai encaminha-o para os avós e entrega a filha a uma tia desta. A dor torna um homem vulnerável e egoísta.
Angelo nasceu com uma deficiência. Uma das suas pernas não veio completamente formada e ele usa uma prótese.
Ele é uma criança desamparada e triste, profundamente saudoso da sua mãe.
Para ele a mãe não lhe dava simplesmente amor, a mãe era o próprio amor em si.
Eva, dois anos mais nova vive na casa dos avós de Angelo com o seu pai Camillo. Ela é judia. Nascida em Itália, mas judia. Menina travessa, bonita, Eva, Eva! Judia. Meu Deus. Judia em 1938.
"-Por que razão as pessoas nos odeiam tanto."
Ser-se judeu no tempo de Hitler, no fascismo, na cegueira de quem manda, é ser-se um corpo sem alma, uma cana ao vento movida pelo medo. É apenas uma alma ao vento.
Acho que vamos perder a essência da Eva. Que crueldade!
"É uma caraterística distintiva dos judeus. Preferimos morrer juntos a ser separados daqueles que amamos."
"-Eu sei que não me salvaria a mim mesmo se não te pudesse salvar também. Eles quiseram ficar com as famílias."
Esta mulher arrebatou-me a alma. Que personagem!
Eva é doce, é travessa e apaixonada, é uma mulher, e é judia e é rebelde e luta. Resiste.
Até onde temos força para aguentar as contrariedades impostas pelo homem? Até onde!
Quando Eva está no seu limite, ela só encontra uma solução. Lutar. Resistir!
Espero que ela consiga... espero que ela consiga!
Não tenho qualquer dificuldade em dizer que li as últimas páginas em lágrimas. Bem! Não propriamente as últimas páginas mas as últimas oitenta páginas.
Desde que Eva foi descoberta como judia, no Quartel General Alemão em Roma onde trabalhava e roubava o ouro que os Alemães roubaram os judeus. O mesmo era enviado para a Igreja católica que o utilizava para ajudar judeus a esconderem-se.
Ela foi presa e Angelo também. Ela serviu de isco para apanhá-lo, mas nem um nem outro disseram onde estavam os outros judeus. Tiveram a oportunidade de salvarem-se a si próprios mas não quiseram. A resistência em Itália foi isso mesmo.
Oiçam a canção "Bella Ciao" que hoje é mundialmente conhecida devido a "La Casa de Papel".
Esta música é mais do que a banda sonora de uma série que fala de resistência, é a música de um povo que se sacrificou contra o mal.
Eva foi deportada e apesar de eu saber que não estava morta, eu senti um vazio da sua ausência, nas páginas que se seguiram. Acho que escrever bem é isso mesmo!
Sentirmos o que as personagens sentem. A sua dor e a sua alegria. O seu vazio e o seu desespero.
Amy Harmon dá um final feliz para estas personagens.
Acho que é apenas uma pequena homenagem a todos os que não conseguiram ter um final feliz na Segunda Guerra Mundial.
Eu fujo destes livros. Meu Deus! Como eu procuro estes livros.