Marina - Carlos Ruiz Zafón
Tinha intenções de ler o livro em cinco dias, mas demorei menos de três.
Apanhou-me logo na primeira página, ainda o autor ia no prólogo.
A história ainda estava por começar.
"de todos os livros que publiquei desde que comecei neste estranho ofício de romancista, lá por 1992, Marina é um dos meus favoritos."
"Marina é possivelmente o mais indefinível e difícil de catalogar de todos os romances que escrevi, e talvez o mais pessoal"
A história é uma vertiginosa alegoria a um amor jovem condenado á nascença. Para nos distrair desse enredo Zafón monta uma história quase fantástica de seres transfigurados que o narrador, Óscar e a sua amiga Marina tentam descobrir.
Quando li o prologo do livro tive a tendência para caminhar apenas por um caminho da história e esperei sempre que o desaparecimento de oito dias e oito noites a que Óscar se refere no inicio, tivesse relacionado com a fantástica história da vida de Mikhail Kolvenick.
Essa história mirabolante, que roça as histórias fantásticas, com seres estranhos e deformados toma conta do livro e Zafón obriga-nos pelo caminho que nos traça, a colocarmos de lado aquilo que realmente é importante dizer. Isso fica para o fim. Todo o livro é um preâmbulo para o fim que nos espera a todos.
"Só desaparecem as pessoas que têm lugar para onde ir."
Ainda estamos no prologo e estamos longe de perceber a razão desta afirmação.
Óscar e Marina são duas personagens improváveis que se conhecem por acaso. São jovens, devem de rondar os 15 a 16 anos.
Óscar vive num internato, longe e esquecido pela família e Marina vive com o pai, não vai há escola, e habita uma casa antiga, isolada, desprezada e desgastada e sem acesso á electricidade.
Germán, pai de Marina tem uma história de vida cativante, e Marina é uma mulher madura dentro de um corpo de adolescente. Óscar é impulsivo e como toda a juventude age perante as situações de forma irreflectida.
Marina apresenta a Óscar o mistério da campa desconhecida, mas a sua valentia fica por aqui. Depois as despesas da acção e a procura da verdade ficam por conta de Óscar.
Essa impulsividade de Óscar não retira a Marina o papel principal. Maria é o centro da história.
É como já referi a menina grande. É da sua boca que saem as grandes frases.
"- Não se pode entender nada na vida enquanto não entendermos a morte."
Óscar não passa de um rapaz sem rumo e sem sonhos. Marina dá-lhe esse rumo e esses sonhos.
"Quem não sabe para onde vai não chega a parte nenhuma."
Desde a página 159 que é impossível pousar o livro. Li até ao fim de um fôlego.
O desvendar da história de Mikhail Kolvenick, a morte do Polícia Florian, a verdadeira identidade de Maria, o incêndio do Teatro Real.
A loucura dessas horas. O fim da aventura, e o caminho que se fecha entre Óscar e Marina.
Confesso que não pude conter as lágrimas no final.
"Passamos com frequência horas abraçados sem falar, sem nos movermos. Uma noite, era quinta-feira, Marina beijou-me nos lábios e sussurrou-me ao ouvido que me amava e que, acontecesse o que acontecesse, me amaria sempre!"
Esperei desde o inicio da história por esta frase. Marina amava Óscar assim como Óscar sempre amou Marina.
" À medida que avançava na escrita, tudo naquela história começou a ter sabor a despedida e, quando a terminei, tive a impressão de que qualquer coisa dentro de mim, qualquer coisa que ainda hoje não sei muito bem o que era, mas de que sinto falta dia a dia, ficou ali para sempre."
Este é um desabafo do autor sobre o livro. Vem na contra-capa. Foi das primeiras coisas que li.
Da minha parte só posso dizer, à medida que avançava na leitura, e chegava ao fim, tudo me sabia a despedida, e quando a terminei senti a falta de qualquer coisa que perdi para sempre. Marina.