30 de julho de 2020


A Casa, a Escuridão - José Luís Peixoto


Palavras para a minha mãe

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo.
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho. gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras. sim, mãe, hei-de fingir que 
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste. somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.


28 de julho de 2020

Olive Kitteridge - Elizabeth Strout





É uma história cativante. Profunda até!
Quando comprei o livro, tinha uma ideia diferente da narrativa. Confesso que estava á espera de uma história corrida sobre uma professora de matemática irritante.
Nada mais falso. Olive Kitteridge não é nada irritante, e acho que tenho um pouco dela, neste meu mau feitio e nesta minha capacidade de ser ás vezes uma menina mal comportada.

"Tem a sensação, sentando-se no seu habitual banco do meio, de que as mulheres são muito mais corajosas do que os homens."

Existe uma grande dificuldade dos outros, (nós todos), de lidarmos com pessoas politicamente incorrectas. Pessoas que não tem a bondade nos olhos, que são mais agressivas ou mais críticas. Temos muita dificuldade que nos ponham á prova, que nos chamem á atenção.

"Os traços de personalidade não mudam, os estados de humor, sim."

Mais do que isso, também temos dificuldade em lidar com isso. De encarar que não gostam de nós. Que irritamos, e que temos ciúmes e nos sentimos injustificados e até tristes com a vida e com os outros.

"Ninguém sabe tudo; e ninguém deve achar que sabe." "Toda a gente acha que sabe tudo, mas ninguém sabe absolutamente nada."

Olive Kitteridge é um livro que gira á volta de uma cidade Americana junto á Costa. O livro apresenta vários capítulos com várias histórias de vida de alguém que lá vive. A única relação entre as personagens é Olive Kitteridge, e é ao longo dos outros que vamos descobrindo as várias formas humanas de Olive. Com o virar das páginas descobrimos que não passa de uma forma humana como todos nós.
Somos feitos por camadas, e o que podemos descobrir ao longo do tempo é que essas camadas nem sempre nos suavizam perante os outros, principalmente quando temos alguém muito suave ao nosso lado. "Sabiam eles, nesses momentos, que eram discretamente felizes?"

Tive um fim de semana difícil por isso a leitura do livro foi quase espontânea. Há muito tempo que não tenho memória de sentar-me no sofá a seguir ao almoço e ler, ler, ler, e quando dei por mim, já o livro ia a mais de meio.
E aquilo que realmente me cativou em Olive, foi a sua personagem construída em cima da realidade do ser humano.

"Não tenham medo da vossa fome. Se tiverem medo da vossa fome, serão só mais uns patetas, como toda a gente."

Ás vezes fico muito triste por ter os sentimentos que tenho. Ás vezes acredito que poderia ser uma pessoa melhor e com menos rancor. Ás vezes sinto que quando sou demasiado dada sou constantemente manipulada.
Ás vezes somos todos um pouco como Olive Kitteridge, mas ás vezes somos todos um pouquinho humanos.

"... o que os jovens não sabiam... Não sabiam que corpos flácidos, envelhecidos e enrugados eram tão carentes como os seus corpos jovens e firmes, que o amor não era para se deitar fora descuidadamente..."

P.S - O livro recebeu o prémio Pulitzer Prize, mas apesar das pesquisas que fiz, não consegui descobrir em que ano ganhou esse prémio. Alguém pode ajudar-me?
Foi também considerado o melhor livro do ano para meios de comunicação como o "The Wall Street Journal", ou "USA Today", "People", e "Chicago Tribune"

23 de julho de 2020


A Educação dos Gafanhotos - David Machado




David Machado é um escritor pelo qual tenho um enorme carinho.
"Índice Médio de Felicidade", foi dos melhores livros de língua portuguesa que li, e também adorei "Deixem falar as Pedras".

No que toca a livros infantis e porque tenho uma criança em casa, David Machado também já lá entrou nessa divisão da casa há muito tempo.

Lembro-me de um dia que possamos na praia, de ter lido em voz alta "O tubarão na banheira" vezes e vezes sem conta.
Com as crianças tudo tem de ser repetido até ao limite. Posso dizer sem qualquer dúvida que "O tubarão na banheira" foi o livro mais relido e relido lá em casa.





Quanto A Educação dos Gafanhotos, confesso que a personagem David, me irritou profundamente durante o livro todo.
Talvez tenha sido essa irritação por ele que me manteve disponível para ler o livro até ao fim. 
A história fala da viagem de dois amigos aos Estados Unidos. Começamos com um principio banal.
A viagem coincide com o 11 de Setembro e com o ataque terrorista ás Torres Gémeas em Nova Iorque.
O principio base da viagem destes dois amigos, é a viagem depois da viagem, e David, tem as suas ideias bem assentes de que a vida quotidiana das pessoas só as prende a realidades menores.
Ele pretende cortar os laços da sua vida, para assim poder viver livremente, pois pensa que só assim é que se vive verdadeiramente.
É um pensamento como outro qualquer, com os seus ideais e assente em bases solidas, pelo menos assim pensa David.
No entanto David, dentro de toda a sua filosofia de vida, mostra arrogância perante os seres humanos e as suas ideias contrárias. As suas atitudes com os outros sempre que eles manifestam uma posição diferente é de confronto e chega mesmo a levar umas lambadas pelo caminho.
Essa atitude irritou-me muitas vezes e confesso que demorei mais tempo a ler o livro do que aquilo que realmente pretendia. 

Mas temos muita gente há nossa volta assim se pensarmos bem, aliás, muitas das vezes também nós somos um pouco assim.
Talvez o que me tenha irritado mais, foi a constatação de que por vezes também eu consigo ser assim. 
É necessário nos controlarmos mais, nos vermos mais ao espelho. Não para vermos se temos uma cara "laroca", mas para verificarmos e analisarmos as nossas atitudes. Com os outros e com o mundo. Principalmente tentarmos perceber se somos realmente tão bons como nos temos em conta.
Somos capazes de ficar decepcionados de vez em quando, isto se soubermos ser verdadeiros e justos!

Para mim não é o melhor de David Machado, pelas razões que já referi em cima, mas é muito bom!
  

22 de julho de 2020

Amália Rodrigues - Lágrima (com letra)

Amália Rodrigues - Nem chegaste a partir!

No dia 23 de Julho, comemora-se o centenário da nascimento de Amália Rodrigues.
Aqui, neste Blogue de Livros, gosto de falar de livros, mas hoje queria-vos falar de Amália.


Comecei a olhar para Amália Rodrigues, no dia em que ela morreu. (6 de Outubro de 1999). Nunca antes tinha perdido muito tempo com Amália. 
Era nova, e o fado não me seduzia.
Amália quando aparecia na TV (só a via na TV, nunca a vi ao vivo, ou sequer a conheci), considerava-a muita atabalhoada.
Como disse, era nova e era difícil ter um bom julgamento das pessoas, pelo menos um julgamento justo.
Acho que só refinamos isso com os anos, muitos de nós nem refina e outros onde eu me incluo, por ser uma menina mal comportada, ás vezes refino, outras vezes não.

Mas lembro-me perfeitamente do dia em que Amália Rodrigues morreu. Lembro-me de uma multidão em frente á sua janela a aplaudir, e que este gesto me percorreu a espinha e que fiquei triste durante muito tempo. Senti-me uma pessoa injusta.

A partir daí deixei de ver Amália da mesma forma. Comecei a respeita-la e até a compreender o seu comportamento em público.
Uma mulher que precisava de público para se sentir viva. Isso deixava-a vaidosa. E uma mulher vaidosa é uma mulher alegre, nem que por dentro esconda grandes tristezas.



Como aqui falo de livros, queria aqui para além de falar de Amália, falar de um livro que li, no Verão de 2017, com o título Amália - O Romance de uma vida da escritora Sónia Louro.
Foi o primeiro livro que li da escritora, e aquilo que tenho de mais importante a dizer sobre ela é; Leiam todos eles!!! (Amália Rodrigues, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz), todos escritos por Sónia Louro de uma forma magistral e com uma profunda pesquisa.

Quando li o livro sabia pouco ou nada da vida pessoal de Amália. Já tinha desfolhado algumas revistas com histórias sobre Amália, e algumas até com histórias contraditórias.
Refiro-me a questões políticas e a questões amorosas, que vem com alguma frequência retratadas em revistas. Acredito que é isso que vende.
No livro de Sónia Louro essas questões são tratadas de uma forma secundária. É claro que se fala de Salazar, como não poderia deixar de ser, mas Amália nunca é retratada como fascista, nem comunista.

Se gostei do livro? Gostei muito.
Sónia Louro apresenta-nos uma Amália sem jóias nem adereços. Uma Amália genuína e simples como realmente ela deveria ter sido.
Se tinha fama? Tinha. Se era fútil? Como qualquer artista, como qualquer pessoa conhecida que anda na boca do mundo.
"Eu nunca tive publicidade! Mas, muito mais esperta do que a caricatura que até ela sabia fazer de si própria, logo corrigiu: "Bem, quem sou eu para dizer que não preciso... se até o sino da igreja tem badalo?!"



O que mais me fascina em Amália é que ela não se limitava a cantar o fado, ela vivia o próprio fado. Intimamente ela era uma pessoa que se alimentava da tristeza, da mesma forma que o fado se alimenta da tristeza e da saudade. Talvez por isso o soubesse cantar tão bem.
Descobri também que Amália escrevia, e que algumas letras das músicas eram da sua autoria.
É o caso de "Estranha forma de vida" e "Lágrima".
Poemas profundamente tristes que na voz de Amália ressoam nos nossos ouvidos, foram nada mais nada menos que escritos por ela.

Politicamente Amália Rodrigues sofreu na pele a inveja Portuguesa.
Em Portugal depois da revolução era considerada uma estrangeira. Nesses tempos e porque o Estado Novo aproveitou a sua imagem foi acusada de fascista e era lá fora nos palcos de Paris ou em Nova Iorque que tinha sucesso. 
Amália percorreu o mundo. França, Itália, EUA, Brasil, Argentina, Israel e Japão. Só em 1987, com a música "Povo que lavas no rio" é que o público reencontrou Amália e esqueceu a inveja, ou talvez não. Talvez depois fosse "coll" gostar de Amália já que os outros países a amavam.

Diva, Rainha do Fado, a VOZ.
Tudo isto se pode dizer desta mulher extraordinária que por um acaso e só por um acaso é a maior artista Portuguesa.
Levou Portugal aos maiores palcos do mundo, foi invejada por Edith Piaf, assediada por Onassis, cortejada por estrelas de Hollywood e amada por todos os que a ouviam cantar.
Aqui para nós que ninguém nos ouve, se se derem ao trabalho de procurar as fotografias publicadas de Amália ao longo de todos os anos e se olharem com carinho também conseguem ver que Amália sempre foi uma mulher extremamente bonita. De uma beleza latina. Até ao final.
É não é?

Na capa de dentro do livro temos uma citação de Filipe La Féria "Amália, o romance da sua vida, é um livro que Amália gostaria de ter lido, sorrindo ás vezes, chorando nas páginas que descobrem o seu imenso coração de mulher."
Quem o lê, descobre que Amália sempre foi uma mulher madura, mas também uma mulher desamparada pela sina da tristeza. Sempre a tristeza. 
Teve o mundo a seus pés, mas não teve felicidade nem autoconfiança. Precisava do amor e da admiração dos estranhos para se sentir minimamente viva. E gostava de aplausos, ansiava por eles. Para um artista, são uma droga de felicidade. Não há que censurar.

Num programa "Olha que dois", que ainda pode ser visto no canal Youtube, Amália explica o significado que as palmas tinham para ela;
"As pessoas que cantam, que são artistas durante muito tempo, sobretudo assim como eu, têm duas mortes: uma é quando deixam as palmas, outra é quando morre realmente. Toda a gente tem uma tendência para adiar a morte, eu adio as duas."

Em 1990, num concerto no Coliseu, Amália mostrou aquilo que sempre fora. Uma mulher excepcional que amava acima de tudo o seu país e o seu povo. Note-se bem... o seu povo!
Na pág. 350, Sónia Louro recorda esse momento. Sentimos Amália junto de nós. Sentimos Amália como ela era. Grande!
"O público estava de pé, aplaudia-a e chamava-a e ela ainda nem um "aí" dissera. Tirou o microfone do tripé e disse:
-Muito Obrigada![...]- Muito Obrigada. Eu já tenho tido muitas noites bonitas que me podiam dar uma segurança maior em mim, mas não tenho nenhuma. Ainda bem que vossemecês são sempre muito simpáticos. Bem-Hajam! E cá estão mais uma vez. Muito Obrigada. Muito obrigada por terem vindo. Que Deus me perdoe."
"Amália chorou a cantar e o público acompanhou-a nas lágrimas."
"Que Deus me perdoe", Amália pedia muitas vezes perdão a Deus por não ser uma pessoa mais contente.
Não é que Amália não fosse uma pessoa agradecida, mas pedia constantemente perdão a Deus, por Ele dera-lhe tudo sem ela procurar nada e, no entanto não conseguia ser feliz.

Mas só uma pessoa com tristeza na alma, pode canta assim...





"Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar, 
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria 
Quanto choro a cantar..."


Se quiserem perdem um tempo das vossas vidas para coisas do passado, existe também no Canal do Youtube https://youtu.be/1ARyt6_gDkk, o programa Parabéns de Hermano José e Amália Rodrigues no Ano de 1994.
São 50 minutos de pura Amália...


20 de julho de 2020


O Sentido do Fim - Julian Barnes


A história revelou-se surpreendente e até bastante inspiradora para projectos futuros.
Sou marinheira de primeira viagem no que toca a Julian Barnes, e posso dizer que não me arrependi da compra.

O livro é pequeno e passou a ser uma leitura de fim de semana. 
A história de um homem (Tony) de meia-idade, que conta na primeira pessoa como foi a sua vida desde o liceu até há idade madura. Uma vida sem sobressaltos, vivida com a maior das precauções, não de forma cobarde, mas como o próprio indica de forma cautelosa.
Por um acaso, é na meia-idade que descobre que nem sempre todas as suas acções foram pensadas para não magoar os outros, e algo que ele até já nem se lembrava que tinha feito por despeito e ciúmes, por tão insignificante que tinha parecido, foi afinal o principio de uma influência trágica em outras pessoas.

A escrita de Barnes é notável, a fluidez com que vai desfiando a sua história é até encantadora.
Foi com algum receio que adquiri este livro, mas posso dizer que para mim valeu mesmo a pena.
Tony é um típico Inglês, uma personagem construída de forma perfeita.
Damos por nós com um sorriso no canto do olho em certas frases que são construídas de forma magistral.

"E não havia argumento contra <sinto>, porque as mulheres eram especialistas a sentir, e os homens vulgares principiantes."

Damos por nós com uma sensação de leveza na vida que não tem, e do quanto fazemos uma má avaliação das nossas acções e comportamentos. 
Por vezes não somos assim tão boas pessoas como julgamos ser.
Ás vezes...na maioria das vezes, temos-nos em alta estima, mas decepcionamos.

"... também ser adulto decepciona. Também a vida decepciona. Ás vezes penso que a finalidade da vida é reconciliar-nos com a sua eventual perda esgotando-nos, e provando, por muito tempo que leve, que a vida não é tão boa como se diz."







Agora vou tentar encontrar o filme em alguma plataforma para ver. 
Estou curiosa para saber o resultado destas páginas na tela.
Já percebi pela apresentação no Youtube que o filme tem algumas diferenças, mas a base da história está lá. 

17 de julho de 2020



Isto Acaba Aqui - Colleen Hoover
"Quinze segundos. É tudo o que é preciso para mudar completamente tudo sobre uma pessoa. Quinze."





Acabei o livro hoje de manhã cedo. Tenho por norma ler um pouco antes de deitar-me e acordar uma hora antes daquilo que são as minhas necessidades e aproveitar esse silêncio da casa para ler.
Descobri que é bem melhor do que de noite, pois a minha mente está bem mais desperta. 
Pelo menos a minha! Tenho consciência que não somos todos iguais e cada um tem os seus tempos!

Cheguei a Colleen Hoover impulsionada por outras opiniões. Comprei o mais recente "Sempre Tu", mas achei que não seria o melhor livro para o começo. Fiz nova pesquisa e entre "Verity", "Isto acaba aqui" e "Confesso", segui o instinto e optei por "Isto acaba aqui". 
Aqui um parênteses, a capa também ajudou!


Sou muito resistente em relação a escritores Norte americanos. Não são a minha primeira preferência. O mundo Americano nem sempre me agrada, e tenho poucos como referência. 
Talvez o mais importante e que gosto mais seja John Steinbeck. Também já tive a minha fase Paul Auster e Nicholas Sparks e claro está George R.R. Martin.

Foi com essa postura que encarei Colleen Hoover, com alguma desconfiança, e foi com essa mesma desconfiança que comecei a ler "Isto acaba aqui"

Foi um inicio lento e parecia até uma história um pouco banal. A parte dos diários de Lily por vezes são até um pouco monótonos, tendo em conta que no inicio do livro, na primeira conversa entre a Lily e Ryle, essa história é exposta de uma forma clara.
Considero que a sobreposição das duas histórias não favorece o resultado final e ainda andei muito tempo há deriva naquilo que poderia pensar.
Confesso que por vezes a história levou-me para outros caminhos diferentes e fiquei com duvidas em relação aos sentimentos de cada um, principalmente aos sentimentos de Lily.
A minha confusão era plenamente natural já que a própria Lily estava a viver essa mesma confusão.

Apesar disso a escrita é muito fluente e a própria história ganha outra dimensão a partir do momento em que Lily é agredida pela última vez e pede ajuda para sair de casa. Toda a narrativa passa a ter a dimensão que merece.
O desfecho das várias personagens que compõem a história, mostra uma escritora e um ser humano maduro, que soube ir ao ponto principal da questão sem medos.

Todos nós temos tendência para julgarmos os outros. Mas temos pouca capacidade de compreender a alma humana. Em condições normais e na forma como a escritora apresenta toda a história muitos de nós teríamos tendência a acreditar num final harmonioso.
Não poderia ter sido mais harmonioso! Por vezes amar também é deixar o outro viver a sua vida.
Como refere a mãe de Lily na conversa que tem as duas, sobre o assunto, quando se ama alguém aquilo que mais queremos para essa pessoa é não a magoarmos, é não a fazermos sofrer, e por vezes para isso acontecer é preciso deixar essa pessoa ir... é a maior prova de amor!
Muitas provas de amor, são dadas no sentido contrário! Quantos de nós temos capacidade disso?

O livro apresenta-nos duas histórias distintas de viver uma agressão. A da mãe de Lily pelo marido desta e pai de Lily. E a de Lily por Ryle, o seu namorado e depois marido. 
A primeira vez que a mãe de Lily é agredida já está casada. A primeira vez que Lily é agredida ainda não está casada.
O pai de Lily só tem comportamentos agressivos com a mulher, mas apesar de Lily não sofrer na pele essas agressões, cresce com uma profunda magoa para com o pai.
Com Ryle passa-se precisamente a mesma coisa. Os comportamentos agressivos são só dirigidos a Lily, mas este trás um passado com um trauma profundo.
A forma como as duas encaram estas realidades é diferente e nenhuma delas pode ser condenada.

Um livro poderoso, sobre um tema com demasiadas ambiguidades.
Como fazemos quando uma boa pessoa nos magoa? 
É fácil ver a coisa, quando o agressor é arrogante e narcisista, como o pai de Lily. É mais difícil dar a volta há questão quando o agressor não é um agressor nato, mas descontrola-se!
Colleen Hoover surpreende nesse ponto especifico. Nunca nos apresenta o agressor como uma má pessoa. Ele não é má pessoa.
"Não existem pessoas más. Somos todos apenas pessoas que ás vezes fazem coisas ruins."    

Por isso e por muito mais é que considero que a parte final do livro, a partir daquele pontinho que referi em cima, da ultima agressão de Ryle a Lily, é verdadeiramente inspiradora, pela capacidade que as personagens (todas elas!) tem de seguirem o caminho certo, por mais que custe! Em nome do Amor.    


16 de julho de 2020


Eu sou uma antologia - 136 autores fictícios - Fernando Pessoa 


Na minha futilidade gosto sempre de regressar a Pessoa. Fernando Pessoa.
A paixão é recente, confesso, tem uma meia dúzia de meses. Podia ser pior!
Uma falha em mim, que necessitou de anos e anos de leitura para devorar em pleno um pensamento como Fernando Pessoa e o seu Livro do Desassossego.
Sei que terei de voltar a ele, muitas e muitas vezes. Por necessidade. É preciso encontrar o nosso chão.

Quanto a este Eu sou uma antologia - 136 autores fictícios, desfolhei-o aos poucos, porque é um livro de descobertas. Têm de ser devagarinho. A tentativa é chegar á sabedoria. Como se isso fosse possível! Sou apenas um ser humano... uma menina muito mal comportada.

A sabedoria não me assiste. Posso apenas de forma efémera tocar nela.

Da autoria do "Pip Secretary", este poema dos Ratinhos é escrito em 1902, n´O Palrador, o segundo jornal fictício criado por Pessoa.
Como vêm, Fernando Pessoa era uma mente cheia de ideias...






OS RATOS

Viviam sempre contentes,
No seu buraco metidos,
Quatro ratinhos valentes,
Quatro ratos destemidos.

Despertaram certo dia
Com vontade de comer,
E logo á mercearia
Dirigiram-se a correr.

O primeiro, o mais ladino,
A uma salsicha saltou,
E um bocado pequenino
D´essa salsicha papou.





Eu choro do rato a sina,
Que a tal salsicha matou,
Por causa da anilina
Com que alguém a colorou

O segundo, coitadinho,
Á farinha se deitou,
E comeu um bocadinho;
Um bocadinho bastou.

Após comer a farinha
Teve elle a mesma sorte,
Pois o alumen que ella tinha
Conduziu-o assim á morte.

O terceiro, p´ra seu mal,
Gotas de leite sorveu,
Mas o leite tinha cal;
Foi por isto que elle morreu.




O quarto, desconsolado,
A negra morte buscou,
E julgou tel-a encontrado,
Quando veneno encontrou.

E sorvendo sublimado,
Enquanto este gastava,
(Agora invejo-lhe o fado),
O feliz rato engordava.

É só cá n´este terreno.
Que caso assim é passado-
Até o próprio veneno
Já fôra falsificado!

13 de julho de 2020


Um Gentleman em Moscovo - Amor Towles


Se quando pegarmos no livro virarmos a contra capa, aparece um texto muito interessante, sugestivo até;
"Amor Towles, oferece-nos um dos mais requintados e (melancólicos) romances dos últimos anos. Uma obra épica, habitada por uma galeria de personagens inesquecíveis e servida por uma escrita de uma elegância cada vez mais rara nas letras contemporâneas."

Para mim, foi isso mesmo!!

Aleksandr Rostov, conhecido para os mais íntimos por Sacha, é uma personagem bafejada pelo optimismo.
A história decorre entre os anos de 1922 e 1954, e durante 32 anos aquilo que mais salta há vista em toda a história foi o profundo optimismo com que o Conde Rostov encarou a sua vida e todas as suas contrariedades e incómodos. São 540 páginas dedicadas ao optimismo.

É um livro lento, ou melhor um livro para se ler devagar.
Têm passagens memoráveis, e ensina-nos algumas coisas, aliás muitas coisas, que no comum dos nossos dias, na nossa labuta diária, tomamos como certo e não nos apercebemos da subtileza da vida.
Rostov é um conde Russo, que devido a um poema que escreveu, ficou em prisão domiciliária no Hotel Metropole. Quanto tempo? Definitivamente.

Sim! Perceberam bem. Para o resto da vida. Estamos na Rússia (centralizem-se no espaço), e estamos em 1922 (centralizar também no tempo).
A história atravessa a Segunda Guerra Mundial e termina em 1954.
Ou seja sobre o mundo, sobre as convulsões e as transformações muito há a contar. Em todo o mundo existiram transformações incalculáveis, políticas, sociais e até de saúde, no entanto este homem viveu todo este tempo fechado num hotel de luxo, numa vida simples.
Aquilo que o deveria matar por ironia do destino é o que o mantém vivo. 
Lá dentro Rostov reinventa-se. Começamos por ter uma primeira parte do livro em que temos que assistir há transformação de um homem perante uma realidade diversa. 
Os momentos iniciais de tédio são chamuscantes. O tomar de consciência que aquilo que nos pode muito bem apetecer fazer não nos é permitido.
Mas Rostov não perde muito tempo neste tédio e lá dentro de onde não pode sair, reinventa-se e posiciona ao longo dos anos os seus sonhos.
"Quando a vida impossibilita um homem de realizar os seus sonhos, ele inventa uma maneira de os realizar, seja como for." 

Sem nunca deixar de ser um Gentleman, alguém que vem de outro estatuto social, passa a ser chefe de mesa do melhor restaurante do hotel. Convive com o porteiro, o barbeiro, o Chef de cozinha e a costureira. E mantém uma relação amorosa com uma actriz russa de uma forma secreta anos e anos a fio.
Confusos? Uma actriz? Uma relação amorosa em segredo durante anos e anos? Sacha, para os íntimos gosta de guardar cada botão na sua caixa!
"Por natureza, os seres humanos são tão caprichosos, tão complexos, tão deliciosamente contraditórios que merecem não só a nossa consideração, mas também a nossa reconsideração... e a nossa inabalável determinação em nos abstemos de uma opinião até termos interagido com eles em todos os contextos possíveis, a todas as horas possíveis."

Como alguém que não sai das suas 4 paredes, não se apercebe das transformações exteriores, (a rua que se alterou, o prédio que foi demolido, o hospital de referencia) mas pelo que ouve lá dentro consegue ter uma percepção do mundo e das suas convulsões.
Nos primeiros anos trava amizade com uma menina de 13 anos, Nina, que aí está, lhe devolve a garotice, e refina ainda mais o seu optimismo.
As conversas e as refeições entre os dois são momentos deliciosos. 
"As boas maneiras não são como os Bombons, Nina. Não podemos escolher só aqueles de que gostamos mais. E acima de tudo, não podemos dar uma dentada nos bombons e depois voltar a guardá-los na caixa..."
Mais tarde Rostov recebe a filha de Nina de seis anos, Sofia, para uma temporada curta que se transforma numa temporada até há sua vida adulta.
Sofia passa a ser a sua filha, e o seu quartinho no quinto piso, com 9 metros quadrados é pequeno e grande para uma relação de incómodos que como Sacha diz, são aquilo que realmente é importante na sua vida.

Tenho muita estima por histórias que desfilam quase a vida inteira de uma personagem. Consegue-se ver a essência do ser humano. Não ficamos pela perspectiva de carácter momentâneo, ou de uma fase da vida. Temos a vista toda!

Que mais posso dizer. O Conde Rostov é uma aprendizagem, um exemplo. Nestes tempos atípicos é até um conselho para quem o lê, e para quem gosta de ver aquilo que está para além da história.
Explicando isto de uma forma crua, e sempre, sempre na minha perspectiva, de 1922 a 1954 o Conde Rostov vive em prisão domiciliaria no Hotel Metropole por causa da autoria de um poema.
(Poderia ser pior, podia ter sido morto!). São 32 anos, em que se reinventa, sempre de uma forma lúcida, sempre com esperança no futuro, nunca com mágoa ou ressentimento.  
E nós? Estamos fartos de quê?
Será que não sabemos adaptar-nos? Caminhar em frente dentro das expectativas e exigências que nos dá a realidade de hoje?

Um livro de leitura obrigatória. Parece uma peça musical de um concerto clássico. Uma melodia de 540 páginas que me deixou completamente rendida a Amor Towles. Um poeta que escreve prosa. Que cria personagens perfeitas e diálogos que nos deixam um sorriso no canto dos lábios.

"Dissera que as nossas vidas se regem por incertezas, muitas das quais são disruptivas ou até assustadoras, mas que, se perseverarmos e nos mantivermos generosos, podemos ser agraciados com um momento em que, se repente, percebemos que tudo o que nos aconteceu foi necessário, sobretudo quando nos encontramos no limiar de uma vida nova e arrojada que estávamos destinados a viver desde o principio."

Há! E já agora, (eu sei que não devia dizer isto, porque vou tirar a graça toda a quem não leu o livro, mas não resisti!), não foi o Conde Rostov que escreveu o poema que o deixou em prisão domiciliaria. Ele apenas fez um favor a um amigo, ou apenas quis proteger um amigo.
Temos muito que aprender com Sacha! 
Mas será que queremos mesmo? Tenho fé que sim!

8 de julho de 2020


O dia em que perdemos a cabeça 
O dia em que perdemos o amor
 Javier Castillo


Admito que as expectativas com que parti para este dois livros de Javier Castillo eram muito grandes.
Provavelmente altas demais para o género literário em que eles se inserem, e de quem eu em tempos devorava, e hoje muitos anos depois já não vejo com o mesmo interesse.
Como já referi uma ou duas vezes, não considero um género menor dentro do panorama literário, mas acredito que em todos os leitores existem fases da nossa vida que estamos mais virados para determinadas coisas do que outras.
No tempo em que tinha 20 anos este era o meu estilo de livro. Poderia ser devorado numa tarde de Domingo na esplanada da Inatel da Foz do Arelho. Super!!
Com os anos os triller´s foram desencantando-me, e caminhei para outras estradas.
Não deixo de considerar uma boa leitura. Lê-se, é certo, com muita vontade de chegar ao fim e descobrir a lógica de tudo aquilo. É sem sombra de dúvidas uma leitura viciante que não encontramos noutras paragens.

Quanto a Javier Castillo e a estes dois livros específicos, o tema é mais complexo. 
Muita informação, muitos comentários em Blog´s, no Goodreads e na impressa escrita, e muitos livros vendidos.
A leitura é viciante, tem de ser seguida para se perceber. Javier Castillo um fenómeno literário. As capas são lindíssimas.

O que é que eu achei? Há, pois... é isso que importa! Pelo menos aqui.
Vamos lá!

Os capítulos são pequenos o que torna fácil a forma como vamos evoluindo na história. É muito fácil, e fazemos quase sem dar por isso. Ler 100 páginas. Upps... já li isto tudo?
É realmente simples... para terem uma ideia não demorei uma semana a ler os dois volumes.
Para a minha realidade posso considerar que foi um tempo curtíssimo, dado que a minha disponibilidade diária para ler não é muita.

Não sei porquê, quando li as críticas e as opiniões no Goodreads e em outros Blog´s, fiquei com a ideia que a história seria diferente, e confesso que graças a essa percepção o primeiro livro foi-me estranho.
Considero a base da história sólida, mas por vezes tem pouca lógica. Algumas personagens, pelo enredo seriam ou são importantes, mas as suas vivências desvanecem-se.
Contudo, a forma como o escritor vai contando a história e o desenrolar dos acontecimentos, são o suficiente para manter o livro até ao fim.
Tomei até a decisão de ler o segundo volume "O dia em que perdemos o amor", porque o primeiro deixa demasiadas pontas soltas, que para mim, dentro de mim, precisavam de respostas. Eu queria essas respostas!

Do primeiro livro fica a luta trágica de um pai em busca das filhas.
A melhor parte do livro é o interrogatório da inspectora do FBI ao chamado "Decapitor".
Quando duas pessoas de reencontram, e só uma sabe quem é a outra.
É curioso assistir a essa conversa, quando uma pessoa conta uma história e faz questão de a contar de inicio, história essa que foi vivida pelos dois, e quem a ouve, não sabe nem sonha que se fala dela própria.

"- Diz-me Jacob, porque foste detido?
- Porque precisava de te encontrar, Stella Hyden."

Não gostei do fim do primeiro livro, considero a personagem principal Amanda muito fragilizada e aquilo que se passou na sua vida não foi explicado. Ficaram muitas pontas soltas nessa parte.
O seu desaparecimento, o que lhe aconteceu e o porquê do seu destino ser diferente das demais.
A forma como ela se relembra da sua vida anterior é muito pouco explorada.
Enquanto que Jacob e Steven, o pai, tem oportunidade ao longo do livro de desenvolver as suas histórias, a de Amanda fica apenas pelas suposições.

No segundo livro, "O dia em que perdemos o amor", a história reinventa-se, e os objectivos são outros.
Crescem outras personagens, e floresce a personagem "esquecida", do primeiro livro, Cláudia.
Amanda mais uma vez passa a ser uma personagem de segundo plano e a sua existência torna-se repetida.
Dá até que pensar... Lá vamos nós outra vez!
Apesar de serem dois volumes ligados e apesar de existirem certas continuações e até certas resposta que só obtemos no segundo volume, a história de "O dia em que perdemos o amor", é sobre outra personagem.
Aquilo que Amanda, Jacob ou Steven foram ou precisam de ser importa pouco ou tem pouca relevância no segundo livro.
Este espelha a vida de Cláudia, a irmã mais nova de Amanda que desapareceu na mesma altura e que nunca foi encontrada e se suponha morta.

"A imaginação de uma criança com delírios que brincou durante dias pondo toda a gente contra o seu próprio dogma."

Cláudia revela-se surpreendentemente pela negativa em todos os aspectos. O fanatismo que destrói.

Mesmo tendo terminado a leitura deste dois volumes no passado mês de Junho, ainda me sinto um pouco confusa quanto há história.
Tive muitas dúvidas em relação ao Post a publicar. Não posso afirmar que não gostei, que achei pobre, que não me encantou, porque quando isso acontece não leio até ao fim nenhum livro.
No entanto estou confusa, fiquei confusa, ainda estou confusa! Não consegui largar o livro. Li o primeiro e peguei no segundo logo a seguir.
A história deixo-me sentimentos inexplicáveis.







3 de julho de 2020


Antes de ser Feliz - Patrícia Reis


Não conhecia a autora. 
É engraçado como certas coisas nos passam ao lado.
Ás vezes penso que ando distraída.
Encontrei o nome Patrícia Reis numa referência de João Tordo no seu Manual de Sobrevivência de um escritor. Nele, João Tordo menciona em dada altura a escritora Patrícia Reis.
Patrícia Reis?

Fui pesquisar e descobri que até leio com frequência muitas crónicas que aparecem suas com regularidade no "Sapo" ou mesmo no "Facebook".

Se é assim, vamos aos livros!
Comecei por este "Antes de ser Feliz". Andei indecisa, sobre o titulo a começar... aparentava muita escolha boa. Alegro-me profundamente da escolha pois para mim o livro é mesmo bom.


Posso dizer que o devorei. 
Contado a uma só voz. A voz do Pedro, que desfia a sua dor por um amor que não o compreendeu. Um amor juvenil, de banco de escola primária. 
É uma história simples, muito simples até, mas têm lá tudo. Aquele fado da vida que só os Portugueses sabem contar.
Nostalgia e Saudade são palavras para os Portugueses dissecarem, experimentarem, indagarem... 

Pedro corre o fio dos seus sentimentos de criança, da sua vida familiar e das suas vivências com pessoas de outro estatuto social. Mas Pedro quer contar e compreender o seu amor por aquela que o escolheu quando entrou na sala de aula, tão pequena, e sobre aquele ao lado de quem ela se sentou.

Patrícia Reis não é meiga com a personagem feminina. Apresenta-a como um ser frio. 
Esta é a impressão recorrente do livro. Distante, senhora de si... "cabrita", impetuosa. Enfim, segura de si.
Não é mais do que um ser revoltado pela perda. A desolação escondida atrás da arrogância.
Há pessoas que não se deixam viver...
Não condeno Inês. Só sabemos o seu nome quase no fim do livro.
É uma personagem contraditória, escrita para ser odiada, mas acredito que a autora quer-nos mostrar algo mais que está por baixo da pele de Inês.
Não é fácil ver... costumamos avaliar as pessoas pelo que ouvimos e vemos delas e não por tudo que escondem dentro da alma.

No caso de Pedro, é muito fácil gostar ele. Do seu amor inocente. Da sua vida mínima e carente. Sem amor em casa, procura o amor nos outros que o rodeam. Encontra essa entrega no pai e no tio de Inês, dois seres isolados e solitários. 
Não o encontra em Inês... ela quer o controlo para si. Pedro ou as pessoas não fazem parte dos seus planos.

Bem vistas as coisas, todas as personagens têm em comum a solidão que os assola. Procuram o amor naquele que não o dá, e não olham para o amor de quem lhe estende a mão.
Inês é esse paradoxo. Presa no amor da mãe que a abandonou ao acabar com a sua própria vida.
Das entranhas onde saímos está sempre a nossa cura e o nosso desespero.
Para Inês os outros passaram a ser acessórios, e o deixar-se levar, seria a porta aberta para mais abandonos.
Não é fácil gostar ou compreender-se Inês. É possível, mas não é fácil.
Patrícia Reis oferece-nos essa possibilidade, não é fácil alcança-la.
Creio ser o grande desafio que a autora nos coloca em toda a história... compreender Inês!

O fim, fica também por nossa conta. Ao fim de muitos anos de ausência, Pedro consegue chamar por Inês, e o que sairá daí ficará ao nosso critério.
O título do livro, é um caminho válido.

"Meu amor, é longa a história, eu sei. Quando chegares, cá estarei e não contes com o meu silêncio, a porta está aberta e serei imprevisível. Ando a treinar. E sei ao que vou. Não serei o mesmo e, apesar disso, serei eu. Aquele que tu escolheste quando entraste na sala de aula, tão pequenina, aquele ao lado de quem te sentaste. Sou ainda o teu estrangeiro mais íntimo e, mesmo que tenham passado por ti outros tantos, serei sempre o teu primeiro homem."

Gostei muito

1 de julho de 2020



Universo HARRY POTTER

Primeira edição do Harry Potter em Portugal


"Harry Potter é uma série de sete romances de fantasia escrita pela autora britânica J.K. Rowling. A série narra as aventuras de um jovem chamado Harry Potter, que descobre aos 11 anos de idade que é um bruxo ao ser convidado para estudar na Escola de Magia e bruxaria de Hogwarts." 

Este paragrafo não é meu, mas da Wikipédia. Precisei deles para iniciar este Post. É que o Harry Potter para mim é uma longa história.
Também precisei do Google para me situar no tempo, e enquadrar o Harry Potter na minha vida.
O primeiro livro "Harry Potter e a Pedra Filosofal" é publicado em 26 de Junho de 1997.
Tinha 20 anos e considerei Harry Potter um livro para crianças. Não o li, portanto.

Em 2001 saiu nos cinemas o primeiro dos oito filmes. Também não vi nenhum.

A minha irmã pouco mais velha, era, e é fã de Harry Potter.
Comprou todos os livros, inclusive uma edição Inglesa dos Talismãs da Morte. Viu todos os filmes, sem mim, claro!
Começo a suspeitar que aos vinte anos tinha alguns ares de superioridade. Espero que já tenham passado!

A Wikipédia tem coisas fantásticas sobre o Harry Potter, como por exemplo "actualmente é a terceira série cinematográfica de maior bilheteira de todos os tempos, perdendo o posto de primeiro e segundo lugar apenas para o Universo cinematográfico Marvel e para a Star Wars."
E os livros? Vamos outra vez ao Wikipédia.
"Até Maio de 2015, já haviam sido vendidos 450 milhões de cópias em todo o mundo, e traduzida para 73 idiomas."
Que barbaridade. Estes números tem cinco anos. Podemos imaginar quantos milhões de exemplares terão sido vendidos até aos dias de hoje!

Para mim, mesmo com tanto barulho não deixava de ser um livro para crianças. Fim da história.




Vinte anos depois o universo escolar não mudou muito. A minha filha no 5º ano, a aprender com mais vontade a língua Inglesa e estimulada por colegas, fãs de Harry Potter, sai-se um dia com o Harry Potter de dentro do bolso!
" - O quê, mas ainda vêem Harry Potter? - Tens a certeza filha?"
"- Sim, a Joana têm e sabe tudo do Harry Potter. Até leva o livro para a escolar para ler, já vai no terceiro. - Posso ver os filmes? Compras-me o livro?"
"- A tia emprestou-te há dois anos e não gostaste!"
"- Pode ser que goste agora. Na altura não percebi os nomes, eram muito difíceis. Deixa-me ver os filmes por favor, e compra-me o livro. Posso? Posso?"
O que fazer com tanto entusiasmo, principalmente quando é com livros. Não se pode matar á nascença.
A minha filha é uma pequena leitora. Nunca foi muito entusiasta. Lê devagar e é muito selectiva nas escolhas.

Resumindo a história, vi com a pequena os filmes. Sem escapatória!
Adorei o Príncipe Misterioso.  Já li o primeiro livro, a Pedra Filosofal.
A pequena já viu os filmes repetidas vezes e já vai no livro 6, o Príncipe Misterioso.
É maravilhoso ouvi-la falar nas diferenças entre o filme e o livro. Os tiques das personagens. Aquilo que aparece no livro que não aparece no filme. As dúvidas quando lê o livro e diz que no filme não aparecia ou não estava assim. É uma fã!

Quanto a mim? Bem, não posso continuar a dizer que Harry Potter é um livro apenas para crianças.
É um Universo fantástico. Na minha ideia de fantasia não encaixa ao nível do Senhor dos Anéis, mas é uma história muito bem construída.







Hermione Granger é de longe a melhor personagem dentro do Universo Harry Potter.
Estamos a falar de 7 livros, em que as personagens começam com 11 anos, e que evoluem até há idade adulta.
Neville é outra personagem que cresce ao longo da história de forma tão consistente. Aliás todos eles são o espelho daquilo que somos, quando atravessamos a vida. O nosso crescimento e amadurecimento enquanto seres humanos.


Penso que é esta perspectiva das personagens que mais me encanta em toda a história.
Albus Dumbledore é um mestre, mas quem me surpreende até ao fim é Severus Snape.
A verdadeira personificação da personagem que aparenta a maldade, que respira maldade e que se revela uma verdadeira caixa de surpresas, com um coração do tamanho do mundo.
Merece bem o livro "O Príncipe Misterioso", que não é mais do que o primeiro caminho da revelação de quem realmente é a alma Severus Snape.

Há conta desta "loucura" da pequena pelo Harry Potter, ainda fomos parar á exposição no Parque das Nações no dia 1 de Março, mesmo a tempo de fugir do Covid-19. Foi um dia cheio de pressas, confesso.




Ficam aqui algumas fotos;

O livro original que aparece no Príncipe Misterioso

Objectos pessoais de Severus Snape


Materiais das Aulas de Herbologia


Mapa Salteador

Dobby o Elfo Doméstico

Fato que Hermione vestiu no Baile de Natal













Quanto ao Harry Potter, bem! Quer direi... ainda ontem havia um Post no Instagram de "desapego_literario1", em que perguntava "O seu gosto literário mudou com o passar do tempo?". Pergunta com jeitinho brasileiro, adoro!
Mudou e muito! E ainda bem!
Harry Potter é um exemplo disso... da capacidade de gostarmos do que não gostávamos. De aceitar aquilo que recusávamos.
Um dia, quem sabe? Aquilo que nos diz muito pouco hoje ou em determinada altura da nossa vida, pode mudar amanhã... e ainda bem que é assim!