30 de novembro de 2020

 


O que se vê da última fila - Neil Gaiman




É o primeiro livro que leio de Neil Gaiman e não é bem um livro. São pequenos pensamentos, discursos em entregas de prémios, opiniões sobre escritores e filmes. Uma ideia geral sobre o que Neil Gaiman pensa e sente sem se puder chamar um livro de memórias.

Não li todos os textos, alguns não me pareceram interessantes, mas outros foram tremendamente importantes até pela sua própria perspetiva sobre os outros.
Fiquei com uma vontade enorme de voltar a ler "O Senhor dos Anéis" de Tokien. 
Já encomendei "O Sobrinho do Mágico" de C.S. Lewis e "Stardust" de Neil Gaiman, e numa próxima oportunidade pretendo também ir buscar "Fahrenheit 451" de Ray Bradbury.
Não gosto de histórias de terror, por isso acho que nunca me vou aventurar em Stephen King, mas estou tentada no seu livro "Escrever - Memórias de um Ofício". Neil Gaiman descreve-o como um ser humano extraordinário.

Gosto muito da ideia que Neil tem sobre mitos e contos de fadas e de pensarmos bem é sim, uma fonte inesgotável de imaginação. Basta pegar num deles e dar-lhe a forma que pretendermos, adaptado à realidade existente ou à nossa própria capacidade de fazer histórias. 

[Crepúsculo e sinos noturnos e logo depois a escuridão! Que não haja a tristeza do adeus, na hora de partir]
"Aprendi o poema em criança, quando a Morte era apenas uma ideia abstrata, uma ideia a que eu julgava poder escapar quando crescesse, porque era uma criança inteligente e, naquela época, a Morte parecia-me evitável."
Já não sou nenhuma criança, mas a Morte também a mim me parece algo evitável. É certo, que essa evitabilidade já não é tão intensa como quando eu tinha 8 ou 9 anos. Tempo em que todos que me rodeavam ainda estavam vivos.
Essa evitabilidade vai esmorecendo, não porque crescemos, mas porque as peças que compõem o nosso puzzle vão caindo de mansinho ao longo dos anos.
Mesmo assim, acho que mantemos sempre a estrela cadente dentro de nós dessa evitabilidade, só assim se pode justificar muitas das nossas escolhas "suicidas", muitas das nossas atitudes perante a vida.
Se alguma vez nos apercebemos que não podemos fugir a ela, porque é a única coisa à qual não temos escapatória? Sim... mas só quando já estamos na porta de saída!

"Façam boa arte", discurso de formatura proferido a 17 de Maio de 2012, na Universidade de Artes de Filadélfia, é um texto soberbo e inspirador.
"O primeiro problema de um sucesso, mesmo que limitado, é a certeza inabalável de que estamos a enganar as pessoas e que, a qualquer momento, vamos ser desmascarados."

Neil Gaiman cresceu no meio dos livros, dentro das Bibliotecas.
"A ficção era uma fuga ao insuportável, uma porta de acesso a mundos incrivelmente acolhedores onde havia regras compreensíveis. As histórias tinham sido uma forma de aprender sobre a vida sem passar por ela, ou talvez de passar por ela como um envenenador do Século XVIII resistia aos venenos, ingerindo-os em pequenas doses, de forma que o envenenador conseguia resistir à ingestão de produtos que seriam fatais para pessoas que a eles não tivessem habituadas. Por vezes a ficção é uma maneira de experimentarmos o veneno do mundo sem que nos seja fatal.
E então lembrei-me. Não seria a pessoa que sou sem os autores que fizeram de mim quem sou, os autores especiais, os sábios, por vezes apenas aqueles que tinham chegado primeiro.
Esses momentos de ligação, esses lugares em que a ficção nos salva a vida, não são irrelevantes. São a coisa mais importante que há."

É a melhor definição que já li sobre livros, sobre histórias. Sobre aquilo que os livros nos dão sem nos pedir nada em troca!
Também eu acredito que sou, para além de tudo o resto, aquilo que os livros que li, fizeram de mim!

28 de novembro de 2020

 


Mário Cesariny


Entre nós e as palavras há metal fundente

entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte  violar-nos  tirar

do mais fundo de nós o mais útil segredo

entre nós e as palavras há perfis ardentes

espaços cheios de gente de costas

altas flores venenosas  portas por abrir

e escadas e ponteiros e crianças sentadas

à espera do seu tempo e do seu precipício


Ao longo da muralha que habitamos

há palavras de vida  há palavras de morte

há palavras imensas, que esperam por nós

e outras, frágeis, que deixaram de esperar

há palavras acesas como barcos

e há palavras homens, palavras que guardam

o seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras, surdamente,

as mãos e as paredes de Elsinore


E há palavras noturnas palavras gemidos

palavras que nos sobem ilegíveis à boca

palavras diamantes palavras nunca escritas

palavras impossíveis de escrever

por não termos connosco cordas de violinos

nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

e os braços dos amantes escrevem muito alto

muito além do azul onde oxidados morrem

palavras maternais só sombra só soluço

só espasmos só amor só solidão desfeita


Entre nós e as palavras, os emparedados

e entre nós e as palavras, o nosso dever falar





26 de novembro de 2020

 


Permite-te Viver - Inês Mota Batista



Este livro não estava previsto. Li, uma opinião no Instagram e comprei num impulso, pois o tema interessa-me para projetos futuros.
Encomendei-o diretamente através do Chiado Books. e sinceramente nem pensava que pudesse chegar tão depressa. Foi uma agradável surpresa esta rapidez na entrega das encomendas feitas online.

Quanto ao livro, admito que esperava outra coisa. Quando li a sinopse fiquei com uma ideia diferente do que poderia lá estar. Uma história que pudesse seguir, um guião... nada disso!
São frases soltas, 89 páginas de frases soltas que devorei num serão.
Alguém que sofre, alguém que não se entende nem entende o mundo que a rodeia, pegou em papel e lápis e  escreveu aquilo que lhe vai na alma.
É de uma simplicidade tremenda, de uma entrega aos momentos por que passou sem filtros nem panos quentes, que nos desarma.
Foi escrito por uma adolescente, mas acho que isso é irrelevante.
Andamos todos um pouco desgarrados. Alguns tem uma grande capacidade de altruísmos, outros não tem nenhuma, e sinceramente, não me parece que isso seja alcançado pela idade.

"Parece ser tão fácil dizer que se ama alguém, parece ser tão fácil dizer que se sente saudade de alguém, parece ser tão fácil aceitar que as coisas mudam e que nada vai continuar igual, mas se é tudo tão fácil porque é que não fazemos?"
Sim! Porque é que não o fazemos! Não o fazemos mesmo!
O livro é povoado de frases soltas, de sentimentos sentidos e despedaçados. A certa altura ficou um pouco confuso seguir este guião sem uma base de apoio, mas cheguei à conclusão que me deveria deixar levar. A ideia é essa, sentir os sentimentos, não saber o que aconteceu para esses sentimentos terem existido. Sentir apenas!

"Frente ao espelho das palavras não ditas, contemplo o outro lado de mim.
O lado não visto, o lado que ninguém vê, que só eu sinto e só eu sei."
A força e a capacidade para se conhecer a si própria, esforço que na maioria das vezes não fazemos. Vermo-nos como realmente somos e aceitarmo-nos ou mudarmo-nos se formos verdadeiramente capazes.

As frases são ditas com crueza, incomportáveis para o mundo, mas simples. Do mais simples que pode haver.
"Todos querem estar bem, todos querem sorrir sempre, respondam-me só a uma pergunta, que é a única coisa que vos peço, de que adianta isso?"

Poderia transcrever imensas frases deste livro que retrata a ansiedade no nosso corpo e na nossa alma, mas temo que esteja a desvendar demais da escrita de Inês Batista, e o que ela merece é que todos nós a leiam por inteiro.


25 de novembro de 2020

Billy Raffoul - Dark Four Door (Live at The Ranch Studios)



Sempre Tu - Colleen Hoover



É o segundo livro que leio de Colleen Hoover. O primeiro foi "Isto Acaba Aqui".
Confesso que fui humanamente siderada quando o nome Colleen Hoover apareceu no meu horizonte e a escolha por onde começar difícil.  
A crítica empurrou-me para "Isto Acaba Aqui", mas no meu livrinho da árvore das patacas, onde desfilo os títulos de aquisições futuras, outros livros de Colleen surgiram com mais ou menos urgência.
"Sempre Tu", não era de todo urgente mas, mas até foi o primeiro livro que comprei da autora. Decidi deixá-lo de lado e até já esteve no fim do monte de livros por ler.
Costumo dar muita importância ao momento. De repente acabaste um livro e precisas de começar outro, e até tens uma lista dos seguintes, ou até os pões por ordem de leitura. Mas nada disto funciona, ou nem sempre funciona, quando o teu olhar pára ali. Agora é aquele. E agora é a vez de Colleen Hoover e de "Sempre Tu"

Dia 1)
Não posso dizer que o dia um, foi só um dia, mas dois. Li tão pouco no primeiro dia que a história não evoluiu sequer o suficiente para eu dizer alguma coisa. A primeira perceção era que Morgan é a personagem em que eu definitivamente me vou focar e identificar. Os outros já estão à partida derrotados. Mas a escrita de Colleen Hoover e as vivências simples marcam.
Dei por mim a abrir a boca de espanto, quando Morgan e Jonah esperam na sala do hospital. Esperem! Eu situo-os um pouco, mas só um pouco.
Morgan e Chris são marido e mulher e tem uma filha de 16 anos, Clara.
Jenny é irmã de Morgan que vive com Jonah e tem um filho de 2 meses. Jonah também o melhor amigo de Chris. 
O livro centra-se nos sentimentos de Morgan e Clara, mãe e filha. A história é contada a duas vozes. Para já são os sentimentos de Morgan que me absorvem. Mas eu também só li 88 páginas.
"És uma sacrificadora. Nem sequer sei se isso é uma palavra a sério, mas é o que és. Fazes coisas que não queres fazer para tornar melhor a vida das pessoas á tua volta."
Morgan tem um casamento perfeito com uma filha em crescimento. Uma vida sossegada, e uma orientação nata. Segundo a filha previsível, fiável. Será?
Será que Morgan é tão transparente e sem mais? Será que é completa?
"Mesmo no ano passado já me sentia incompleta. Tenho orgulho no meu marido e na minha filha, mas quando olho para mim e para a minha vida, independentemente das deles, encontro muito pouco de que me orgulhar... por vezes o meu peito parece oco, como se estivesse uma vida sem nada de suficientemente significativo para preencher. O meu coração está cheio, mas é a única parte de mim que parece ter algum peso."

Dia 2)
Todos os dias deviam ser Domingo! Não acham?
Morgan perdeu o marido num acidente de carro. No mesmo carro ia a sua irmã Jenny que também morreu. A sua alma fica vazia e a dor é um pouco difícil de suportar. De repente as duas pessoas que estavam sempre ao seu lado deixaram de estar. Clara a sua filha. Bom ! Clara dava-se melhor com o pai e com a tia do que com a Morgan, por isso o caminho vai ser difícil e doloroso.
Depois, com tudo a acontecer ao mesmo tempo, Clara está a despertar para o amor. Deve ser dificil entender alguém com 16 anos. Deve ser dificil ter 16 anos e os outros nos entenderem. Os mais velhos!
Eu nem sempre os entendo!
Como disse no inicio, hoje é Domingo e no Domingo lê-se mais. 
O ambiente está dificil e mais dificil fica quando Morgan e o namorado de Jenny descobrem que os seus respetivos eram amantes. 
Uah! Se o mundo de Morgan já estava caído, agora atravessa a terra e o buraco fica maior com a perceção que o filho de Jenny não é do seu namorado, mas do próprio marido.

"Morgan. Bem no fundo, tinhas de saber, mas ambos sabemos como és boa a ignorar aquilo que está mesmo à tua frente."
Morgan não viu, mas a sua filha Clara também não parece muito atenta. Aliás a dor absorveu-a. A culpa martiriza-a, e a descoberta do primeiro amor desperta. É um timing complicado, mas Clara não está muito interessada em ajudar a apaziguar o sofrimento dos outros, pois descobriu como apaziguar o seu.
Poderá considerar-se uma atitude egoísta. Gosto de pensar que é uma atitude defensiva. Emocionalmente é preciso estar muito preparado para olhar para os outros. Morgan tem esse peso à anos.
"No dia em que descobri que estava grávida, deixei de viver para mim. Acho que é chegada a altura de descobrir em quem deveria ter-me tronado entes de ter começado a viver a minha vida por todos os outros." 
Morgan ficou grávida de Clara com 17 anos. Casou com o pai da sua filha. Na altura namoravam e Jenny namorava com Jonah, melhor amigo de Chris. Nessa altura Jonah gostava de Morgan, mas Morgan não queria ver. "...ambos sabemos como és boa a ignorar aquilo que está mesmo à tua frente."

"- Temo que nos tenhamos enganado.
A sua afirmação fez-me suster a respiração. Não lhe perguntei em que medida nos teríamos enganado, porque temia demasiado a resposta.
Temia que ele fosse dizer que não estávamos com a pessoa com que deveríamos estar. Claro, ele podia estar prestes a dizer qualquer coisa, mas foi para aí que a minha mente se dirigiu, porque, por que outra razão olharia ele para mim como olhava por vezes? Tentei ignorá-lo, porque eu e o Jonah nunca tínhamos sido românticos. Mas tínhamos uma ligação... uma ligação que o Chris e eu não tínhamos. 
Odiei-o. Odiei o facto de o Jonah saber sempre quando algo me incomodava, mas o Chris não fazer ideia. Odiei que o Jonah e eu pudéssemos olhar um para o outro e saber exatamente o que o outro estava a pensar. Odiei a maneira como ele guardava sempre os Jolly Ranchers de melancia para mim porque era um gesto doce e eu não gostava que o melhor amigo do meu namorado fizesse coisas doces para mim. Além disso, ele e a Jenny tinham começado a namorar. Ao contrário da Jenny, eu jamais tinha traído a minha própria irmã."

Vai haver ainda muito caminho por desbravar e muitos sentimentos para acariciar. Afinal de contas todos procuramos o mesmo.
A certa altura Colleen Hoover faz referência a uma música. "Dark Four Door" de Billy Raffoul.
Coloquei-a na minha playlist do Youtube Music. Não me saí da cabeça! 





Dia 3)
"Não tiveste de te manter à parte e ver a rapariga que amavas construir uma vida com o teu melhor amigo."
De repente olho para esta história e considero que tudo está errado devido à falta de dialogo. Em dezassete anos o altruísmo de certas pessoas leva-as a vidas vazias.
Chris e Jenny tinham uma relação amorosa mas não a assumiram. Jonah gosta de Morgan mas foi embora para que ele pudesse ser feliz. Morgan reprimiu sentimentos à custa de um bem maior, Clara.
E Clara? Bom, Clara é imatura demais para absorver tudo isto. Miller não se revela. E assim dá vontade de bater em alguém de cada vez que as conversas ficam a meio.

Dia 4)
"Os sonhos que tenho para a sua vida não são tão importantes quanto os sonhos que ela tem para si mesma... Os meus sonhos para a Clara < Os sonhos de Clara para si mesma."
Os adolescentes são peças de um puzzle difíceis de encaixar. Os adultos não são diferentes. A idade e a experiência de vida nem sempre nos dá a capacidade para enfrentarmos aquilo que a vida nos reserva.
"Os adolescentes acham que os pais já sabem tudo, mas a verdade é que os adultos não sabem como navegar a vida melhor do que os adolescentes."
Morgan acredita que se esconder da filha a traição do marido e da irmã, a filha será mais feliz. Morgan quis poupar a filha da dor da desilusão. Mas não podemos viver por eles.

É o segundo livro que leio de Colleen Hoover. Não me prendeu tanto como "Isto Acaba Aqui", mas é sem dúvida uma boa história e um livro que vale a pena ler.
Uma história de aprendizagem e de descoberta.


23 de novembro de 2020

 

Autobiografia  -  José Luis Peixoto




José Luis Peixoto tem um cantinho especial nas minhas estantes de livros. É aquele autor que eu descobri na adolescência e que povoou a minha maturidade com toda a sua melancolia. 
A sua melancolia alimenta-me, e eu preciso muito de alimentar estes sentimentos. Faz parte de mim... adoro a sua melancolia.
Gosto muito dos seus romances e "Nenhum Olhar", terá no próximo ano uma releitura. E eu não sou muito de reler.
Para quem não sabe, José Luis Peixoto ganhou o Prémio Literário José Saramago com o referido romance "Nenhum Olhar". Vai fazer parte da série que está em exibição na RTP 1, sobre os herdeiros de Saramago. Alguns não conheço o seu trabalho e outros como José Luis Peixoto sou fã.

Voltando ao "Autobiografia" este livro é fantástico e como já não lia Peixoto à algum tempo foi muito agradável concluir que entre nós os dois nada mudou. A sua extraordinária forma de contar uma história e a minha grande vontade de ler e admirar aquilo que Peixoto escreve. 
Depois! Ainda temos José Saramago como personagem.

Estou aqui a dar a minha opinião sobre "Autobiografia", mas gostaria também que vos recomendar como leitura também "Nenhum Olhar" de Peixoto e "Manual de Pintura e Caligrafia" de José Saramago.

"Contar-me a mim próprio através do outro e contar o outro através de mim próprio, eis a literatura."

Esta Autobiografia é a história de um escritor que se vê a braços com a falta de inspiração para o seu segundo livro. O chamado síndroma da página em branco.
A personagem principal "José", autor de um livro já editado e com relativo sucesso, encontra-se a braços com a falta de inspiração para um segundo livro e a par disso vê a sua vida a desmoronar na incapacidade de se manter útil e sustentar-se a si próprio.
Este mantém uma amizade com um idoso com tiques de loucura, que o vai preservando à tona da sobrevivência.
José recebe um convite do seu editor para escrever a Autobiografia de José Saramago. A principio José não vê o convite com bons olhos, mas as suas opções futuras não são muitas e este acaba por aceitar escrever o livro. Para o escrever tem de se encontrar com alguma regularidade com José Saramago que não lhe pretende abrir a sua vida como um livro mas espera de José algo bem diferente.

José Saramago publicou o seu segundo romance trinta anos depois do primeiro.
"Terra de Pecado" editado em 1947 e o segundo romance precisamente "Manual de Pintura e Caligrafia" editado em 1977.
É o principio do contar-me a mim próprio através do outro e contar o outro através de mim próprio.

O livro coloca as personagens em camadas e quando estamos a ver o José, ninguém nos garante que não estamos a ver o José Saramago naqueles trinta anos de páginas em branco.
Transformar o próprio José Saramago numa personagem de um livro é um desafio, e só posso dizer que o livro é interessantíssimo.
É como se o mestre indicasse ao seu discípulo qual a estrada por onde este deveria seguir, mas tivesse ficado no inicio do cruzamento. O caminho só pode ser percorrido por nós próprios.
Para mim é uma obra essencial na procura da identidade de quem escreve. Uma homenagem diferente também ao grande escritor que foi José Saramago.
"José conseguiu certos pensamentos, nunca se imaginara biografo, não era biografo; precisava de um segundo romance escrito, eis o que lhe faltava para recuperar algo a que não sabia dar o nome. Ansiava pelas páginas desse romance invisível, cada palavra a ser uma montanha, pesada difícil de escalar, a cobrir o horizonte e, ao mesmo tempo, a ser o horizonte."

Já vos disse que a seguir li "Manual de Pintura e Caligrafia"? De José Saramago!
Pois foi! É uma história completamente à parte daquilo que já li de José Saramago. É magnífico. 
Muito bom!



21 de novembro de 2020

 


Sangue & Fogo - George R. R. Martin



Quando li a Saga da Guerra dos Tronos fiz batota. Não gostava da família Targaryen e tudo o que lhe dizia respeito eu saltava. A forma como George Martin escreveu a Guerra dos Tronos também era perfeita para isso, já que os capítulos eram divididos pelos personagens. Sempre que chegava um capítulo dos Targaryen lá estava eu a saltar páginas.
Na Guerra dos Tronos tenho as minhas preferências e elas assentam na sua maioria na família Stark. 
Os Lobos.
A minha personagem favorita é Sansa Stark. Foi a que mais evoluiu em toda a história. A sua irmã Arya também é um "esmero", e Tyrion Lannister, enfim, é indiscutível.
Os Stark são os grandes sobreviventes desta Guerra dos Tronos.

Sangue & Fogo é diferente, e posso dizer, para mim é melhor.
A história tem um retrocesso no tempo e lá estamos nós no tempo em que a família Targaryen reinava nos Sete Reinos e os Dragões atravessavam os céus.
Gosto mais da forma como George R. R. Martin escreve esta história. E as personagens são dilacerantes... algumas para lá da maldade. Aqui não temos o bem e o mal, só os temos a eles, Targaryen, e eles espalham destruição.

Os livros também são acompanhados de ilustrações de Doug Wheatley. Muito bonitas por acaso.






O livro, ou a Saga que neste momento já tem dois livros editados, conta a sucessão dos Targaryen, com início da conquista de Aegon dos Sete Reinos. Os mesmo que são disputados na Guerra dos Tronos.
Aegon foi o conquistador, O Dragão. O primeiro de todos a reinar com as suas duas irmãs Rhaenys e Visenya. 
A sua ascensão devem-se aos Dragões... a força invencível e destruidora.
Mas não estamos perante a história de uma família boazinha, mas de uma família que espalha a destruição à sua passagem. O poder era o seu bem mais precioso e o seu principal objetivo.
No segundo livro já editado assistimos à ascensão de Aegon II. Este trono foi disputado pela sua meia-irmã, Rhaenyra, dez anos mais velha.
Da luta sangrenta não sobrevive nenhum e o que deixam atrás de si é morte e devastação.
Desta luta perdem-se a maioria dos Dragões. Seria ou será o principio de um fim? Não deve ser....
Estes livros vão encaixar na Guerra dos Tronos, como peças de um puzzle. Digo-vos George R. R. Martin tem mesmo imaginação.

Por favor George Martin, continua a escrever! 






  

19 de novembro de 2020

 

Amanhecer - Stephenie Meyer



"Só por detrás do gáudio momentâneo com a minha exibição pública, existia a alegria profunda que era um eco da minha."

"- Não tenhas medo - murmurei - Pertencemos um ao outro.
De repente, senti-me esmagada pela realidade das minhas próprias palavras. O momento era tão perfeito e verdadeiro que não havia forma de o negar."

"Pela primeira vez compreendi como Edward tinha sido capaz de me ver dormir durante tantas noites monótonas, só para me ouvir falar durante os sonhos. Eu seria capaz de ficar ali eternamente a ver Renesmee a sonhar."

À partida Edward é um monstro. Um Vampiro. Mas é belo de morrer e não tem nada daquela aparência felpuda que associamos aos monstros. Também não tem hábitos de monstros e tem uma educação e respeito pelos outros, uma empatia e solidariedade que não se vê na maioria dos humanos.
Felpudo é o Jake, que seria outro monstro. Um homem que se transforma em lobo quando bem lhe apetece. Jake cheira a cão, e tem um apetite insaciável. Quando se transforma num lobo parece um cavalo tal o seu tamanho.
Depois no meio dos dois temos a Bella que supostamente não é bela mas normalíssima, e um pouco desajeitada e com queda para os desastres e as desgraças. Até tropeça nos seus pés.

Este final de saga é aterrador. A história que aparentemente já tinha revelado tudo o que poderia revelar trouxe um caminho novo. A maternidade e depois a eternidade na imortalidade.
Para frágil e desajeitada Bella mostrou ser a personagem mais completa, até, no carácter e na perseverança. 
A minha opinião sobre as personagens já é conhecida dos livros anteriores.
Só posso dizer que fiquei com um pouco de saudades de quando Bella não era imortal, apesar dela se revelar completamente como criatura eterna.
E Bella... Bom! Nem como recém nascida perdeu a mentalidade de gente crescida! Nem a mentalidade de desajeitada... só não consegue tropeçar nos seus próprios pés...
Gostei muito. Nunca pensei que me cativasse tanto, pois já não é um género de história que deveria interessar-me, mas posso dizer que me interessou bastante.
É fantasia pura! Mas ensina muito sobre o amor.

"Ao fim de dezoito anos de mediocridade, estava mais do que habituada a ser uma criatura mediana. Agora apercebi-me de que pusera de lado, há muito tempo, a aspiração a ser brilhante em algo. Limitara-me a fazer o melhor que podia, com o que tinha e sem nunca me adaptar totalmente ao meu mundo."

Já vi os filmes. Tive o cuidado de os ver depois de ler os livros e acho que ficam muito aquém da história. Eclipse então é completamente retalhado. Mas não deixa de ser um momento de entretimento.

Tenho sempre lido opiniões sobre livros que são adaptados ao Cinema, ou TV. A maioria acredita que primeiro é sempre importante ler o livro. 
Faço parte desse grupo de pessoas que partilha dessa ideia.
O livro é sempre mais completo, salvo raras exceções a história no ecrã é cortada e por vezes deixam de ter grande sentido.
E o livro... bom! aquilo que lemos, criamos à nossa maneira dentro de nós próprios! Aí está a grande alegria de ler.
Somos sempre os protagonistas!  






 

"Aquela malícia incerta e quase imponderável que alegra qualquer coração humano ante a dor dos outros, e o desconforto alheio, ponho-a eu no exame das minhas próprias dores, levo-a tão longe que nas ocasiões em que me sinto ridículo ou mesquinho, gozo-o como se fosse outro que o estivesse sendo. Por uma estranha e fantástica transformação de sentimentos, acontece que não sinto essa alegria maldosa e humaníssima perante a dor e o ridículo alheio. Sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor, mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa. Não é por bondade que isto acontece, mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo, mas para os outros também, e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro, quando não tem o direito de o fazer. De os outros de rirem à minha custa não me importo, porque de mim para fora há um, desprezo profícuo e blindado."


Livro do Desassossego - Fernando Pessoa

16 de novembro de 2020

 

O meu nome é Alice - Lisa Genova



Apesar de ter sido um livro que foi editado em 2009, só o li o ano passado. Dez anos depois...
Foi daqueles livros que esteve muito tempo na prateleira e apesar de querer muito lê-lo, foi rejeitado por diversas vezes. Tenho vários assim, adormecidos nas minhas prateleiras de livros que esperam pacientemente uma oportunidade.
Assumo que o tema não é fácil de lidar, por isso, sempre que olhava para ele, bom!... fica para a próxima... não é propriamente aquilo que me apetece agora... vá, vá... outro dia, hoje não.

É um livro lindíssimo. Não é uma história alegre, não... mas não deixa de ser um livro lindíssimo. Vertemos a nossa lágrima. 
É a história de uma mulher no amadurecimento da sua vida, jovem ainda para os padrões atuais de velhice, com filhos já crescidos e com as suas próprias vidas. A mais nova está na idade de entrar na Universidade, mas prefere a vida artística, e isso deixa a mãe, Alice, apreensiva.
A relação das duas é tensa. Os outros são uma filha mais velha que já está casada e um filho que é médico e o marido.
O casamento de Alice é aparentemente perfeito, tem uma profissão perfeita.
Está tudo no lugar, não é verdade? Demasiado direitinho!

As poucos Alice sente-se perdida... começa por se esquecer de uma palavra no meu de uma palestra. Assim, sem mais nem menos, no meio de uma frase. Puf! Como é que se diz aquela... coisa? Palavra?
Não tem nada de mais... quantos de nós não ficamos já embasbacados no meio de um frase porque nos fugia da boca a palavra certa? Todos... mas para nós é mesmo só isso... uma palavra que se perde.
Depois, não foi só a palavra que se esqueceu, mas perdeu-se a fazer uma corrida pelas ruas que caminha sempre entre corridas e deslocações ao trabalho... pronto! Agora já nem todos nós fazemos isso!
Daqui até à queda o caminho é curto.
Doença de Alzheimer. Alzheimer precoce. Contada na primeira pessoa.

O livro como já disse é lindíssimo... comovente. As relações humanas são comoventes.
Aos nossos olhos desfila o desmoronar de uma mente humana, até não haver mais nada para lembrar.
De todos os que a rodeiam uns fogem para não verem e não sofrerem, mas os outros tem a capacidade de lá estar. É interessante verificar, não sei se é coincidência ou não mas quem fica são as mulheres... quem fica são as das relações tensas. A mais velha e a mais nova... as três juntas como direi, tem um comportamento faiscante. Personalidades muito próprias, ideias muito vincadas, mas capacidade de entrega para além da humanidade.
Se calhar estou a fazer juízos de valor, mas quando acabei de ler o livro foi a primeira impressão que me saltou à vista... nem todos ficaram... ficaram as duas irmãs!

O que será não nos lembrarmos de quem somos? Do que fomos e o que fizemos? Quem são os olhos que nos rodeam? O que será esquecer onde fica a casa de banho, e fazermos xixi pelas pernas abaixo, de tanto procurar e não encontrar a casa de banho!
O que será não reconhecer a pessoa que está à nossa frente e que já amamos? O que será não sabermos quem são os nossos filhos?
O livro tem uma elevada carga emotiva. As emoções de todos são muito contraditórias e o amor nem sempre se manifesta da mesma forma, ou da melhor forma.
As pessoas revelam-se de diversos ângulos, mas Alice deixa de ser ela própria. Foi levada pela doença de Alzheimer.
E nós teremos capacidade e encarar isto?

Também recomendo o filme com Julianne Moore e Kristen Stewart. As duas com interpretações fantásticas. 
"Vivo o momento"



 O mais dramático é que neste caso Alice até certa altura entende e percebe aquilo que lhe está a acontecer, sabe que vai haver um dia para além de tudo o que vai perdendo no seu dia-a-dia, que perderá tudo definitivamente. Nesse dia, perderá a memória de quem é.
O declínio da memória é mais uma das nossas fragilidades humanas... mais uma! 


11 de novembro de 2020


Eleanor & Park - Rainbow Rowell 



Diário de uma leitura;

Este livro foi escolhido por acaso. Quando falo de acaso, é mesmo acaso. Passei os olhos, e voltei atrás. Ups! Este é capaz de ser bom!

A primeira impressão dá ideia de um livro puro. Dois inadaptados. Um amor extraordinário.
E de repente hoje preciso mesmo disto.
Por inadaptação os meus dias ultimamente estão cheios.
Como o inicio da história mostrou-se tão genuíno como imaginava vou fazer um diário da leitura. Quero ler Eleanor & Park com a maior lucidez possível.
Preciso que eles não esbarrem na minha obscuridade e se percam para sempre.

Dia 1)
Sermos novos numa escola é uma treta! Principalmente quando somos inadaptados. Sermos inadaptados de nascença é outra treta. E acreditem, sei do que falo. Eleanor é a miúda nova do liceu, é nova na cidade também, e a família dela... bem, a família dela ainda é mais disfuncional. Se calhar utilizo mal o termo, deveria dizer cruel. Já perceberam tudo não!... ou quase tudo.
Como agravante Eleanor é roliça, tem cabelo ruivo, e veste de forma estranha... roupas largas, camisas de homem, calças velhas... gravatas como assessórios e outras coisas que tais... tudo disfuncional que chama a atenção da dita normalidade e que provoca troça.
Tem tudo para ser gozada. Ela gostava muito que não reparassem nela. Eu também gostava muito que ela passasse despercebida. Não propriamente despercebida, mas que tivesse as mesmas oportunidades dos outros de se integrar e fazer amizades. De ter uma vida em paz.
Park é coreano. Não é propriamente gozado mas é invisível. É preferível ser invisível do que ser gozado.
É um rapaz isolado como ponto de partida. É como uma opção. Park prefere que não o vejam do que o façam e que corra mal.
Park não tem a verdadeira noção da diferença entre gozado e invisível, pelos menos por agora. Estas duas palavras para ele são quase a mesma coisa.
Os dois vão no mesmo autocarro, e no primeiro dia em que Eleanor lá entra o destino, ou o gozo dos outros, ou a reação protetora, ou sei lá mais o quê, colocou os dois sentados lado a lado.
Park ia sempre sozinho e aquela proximidade, aquele ocupar de espaço do seu meio, e o facto de ter sido ele a permitir e até a incentivar, causa-lhe estranheza. Para Park, Eleanor parece-lhe ridícula, mais uma vez disfuncional, completamente fora de contexto. Pronta para o matadouro do gozo escolar. E ela ali sentada ao seu lado!
Começam por nem se falar, cada um tem uma ideia depreciativa do outro. Park, vai sempre a ouvir música e a ler. É uma forma de se isolar dos outros, mais agora que tem ao seu lado alguém tão longe da realidade.
Eleanor vai sempre de cabeça levantada com medo da opinião dos outros. Aos poucos ela começa a ler pelo canto do olho o que ele lê. Bando desenhada. Um dia ele empresta-lhe o livro para ela acabar de ler em casa, e no outro dia mais livros.
Mas a conversa? Essa é difícil. Primeiro conhecem-se em silêncio, depois começam a tentar conversar.

Dia 2)
E não consigo ler o livro depressa. Não é uma questão de não fluir ou de ser maçador, mas é preciso beber cada palavra porque Eleanor e Park tem uma relação que tem de se levar devagar. A sua aproximação, a sua intimidade mutua constrói-se um bocadinho de cada vez, um bocadinho muito pequenino em cada dia que passa.
"Quando entrou para o autocarro nessa manhã, levantou logo a cabeça em busca de Park. Ele também estava a espreitar, como se estivesse à espera dela. Ela não pôde evitar sorrir. Só um segundo."
A ternura com que se descobrem e descobrem os seus sentimentos é comovente. E a escrita é tão simples. Pura.
"Além disso, não era que eles estivessem só de mão dada. Park tocava-lhe nas mãos como se elas fossem algo raro e precioso, como se os dedos dela estivessem intimamente ligados ao resto do corpo. Claro que estavam. Era difícil explicar. Ele fazia-a sentir-se mais do que a soma das sua partes."

Dia 3)
Neste terceiro dia de leitura, os sentimentos entre Eleanor e Park começam a definir-se e a desabrochar. Parece começar a existir entre os dois uma necessidade de estarem um com o outro. Por vezes os sentimentos são tão confusos e a forma de os expressarem é tão a medo que atrapalham-se naquilo que dizem um ao outro.
É um tempo de descoberta. É um tempo de abandonarmos o egoísmo de eu.
A realidade em que cada um vive desfigura a forma de agirem e pensarem.
"Porque é que gostas de mim sequer?"  Esta é a pergunta que Eleanor faz a Park, porque Eleanor não consegue assimilar que possa haver alguém que goste dela. É um sentimento abstrato dentro do seu universo.
O dialogo entre os dois quando Park liga para Eleanor pela primeira vez, é enternecedor. Pela primeira vez ouvem apenas as suas vozes, estão longe e ao mesmo tempo perto. Tem a distancia que lhes permite largar o medo e ser o mais sinceros possíveis.
"Eu não gosto de ti - disse ele - Eu preciso de ti."
A forma como expressam os sentimentos, é a pureza da idade ou a realidade do primeiro amor?
"- Podes perguntar-me porque é que eu preciso de ti - sussurrou ele. Já nem tinha de sussurrar. Ao telefone, ás escuras, ele só tinha de mexer os lábios e respirar. - Mas eu não sei. Só sei que preciso... tenho saudades tuas, Eleanor. Quero estar contigo o tempo todo. Tu és a rapariga mais inteligente que eu já conheci, e a mais divertida, e tudo o que fazes me surpreende. Quem me dera dizer que essas são as razões para gostar de ti, porque isso me faria parecer um ser humano realmente evoluído."
Eleanor é um pouco mais fechada,, mais triste, mais sombria, mas acreditem tem razões para o ser. Eleanor está fechada dentro de si mesma, com medo de tocar seja no que for, com medo de partir seja o que for. Eleanor é uma criatura constantemente magoada e esconde-se. Deus! Como eu entendo esta rapariga. Tem tanto medos dos seus próprios sentimentos, tem tanto medo de os dizer em voz alta.
"Eu não gosto de ti, Park - disse ela e, por um segundo parecia a sério. - Eu... - a voz dela quase que se desvaneceu - acho que vivo para ti."

Dia 4)
" Se tinha saudades dele?
Ela queria perder-se nele. Pôr os braços dele à volta dela como um torniquete.
Se lhe mostrasse o quanto precisava dele, ele fugiria."
Hoje é Domingo e pude mimar o livro durante mais tempo, por isso a história avançou bastante. 
Eleanor acima de tudo esconde-se "E se Park se apercebesse de que todas as coisas que ele achava misteriosas e intrigantes acerca dela eram afinal apenas... uma desolação?"
Até certa altura e até em determinadas circunstâncias até Park teve a sua relutância em assumir os seus sentimentos por Eleanor. Até certa altura Eleanor teve muita dificuldade em expor a sua desoladora realidade.
O caminho deles vai ser difícil!
Mas acredito que possível.

Dia 5)
Terminei o livro neste dia... A profundidade de Eleanor vai ficar durante muito tempo na minha memória.
Este amor simples, completamente adolescente. Introvertido por vezes. 
Eleanor nunca diz ao Park que o ama. Não é por falta de sentimento, é mesmo incapacidade de o expressar. Eu acredito, sinceramente que Eleanor também ama o Park, tanto ou mais quanto o Park a ama a ela.
Para Eleanor encontrar a paz é necessário que os dois se separem. Esta separação é consequência de problemas em casa de Eleanor, ao qual Park e Eleanor nada podem fazer. Eleanor vai então viver com os tios noutro estado da América separando-se assim de Park. Esta realidade torna-se também muito difícil para Park. 
Park ama Eleanor, mas provavelmente não entendeu a complexidade do seu amor em Eleanor.
"Tinha a certeza que lhe iria agradecer por lhe ter salvado a vida. Não apenas no dia anterior mas, tipo, praticamente todos os dias desde que se tinham conhecido. O que a fazia sentir-se a rapariga mais parva e fraca. Se não se consegue salvar a própria vida, valerá a pena salvá-la de todo?
Os príncipes encantados não existem disse ela de si para consigo. Os felizes para sempre não existem.
Olhou para Park. Para aqueles olhos verdes-dourados. Tu salvaste-me a vida, tentou ela dizer-lhe. Não para sempre, mas em definitivo. Talvez só temporariamente. Mas salvaste-me a vida, e agora eu sou tua. O que eu sou neste momento é teu. Sempre."

Eleanor tinha essencialmente medo de encarar o que sentia. De se magoar e magoar o Park.
Amadurecer nestas circunstâncias é acima de tudo doloroso.

Foi um dos melhores livros que li este ano. E eu que comprei o o livro por acaso!




8 de novembro de 2020

 

Ípsilon de Sexta-Feira dia 30 de Outubro 2020 (Vanessa Springora)



Isabel Coutinho entrevista Vanessa Springora, na edição da revista Ípsilon de 30 de Outubro de 2020. A escritora lançou recentemente o livro "Consentimento", que chegou a Portugal em Setembro deste ano com a tradução de Tânia Ganho. 
O livro é um testemunho que incendiou a França e a sua sociedade.
Uma história da própria Vanessa Springora que com 14 anos manteve uma relação com o escritor Gabriel Matzneff, 36 anos mais velho.
Confesso a minha incapacidade para assumir ou compreender a história. Acredito que só o conseguirei fazer depois de ler o livro, mas também admito que tenho algumas dúvidas em fazê-lo. Daí o meu interesse em ler esta entrevista.

O que move uma rapariguinha de 14 anos a ter uma relação com um homem de 50 anos? Reparem! Estamos a falar de uma relação consentida.
A abordagem ao tema é muito difícil, e creio que as opiniões sobre o mesmo serão muito discutíveis. As minhas opiniões serão muitos discutíveis até para mim própria, pelo que, acredito, cada vez mais, só o vou compreender verdadeiramente quando ler o livro.

Vamos nos lembrar quando tínhamos 14 anos?
O consentimento, não é um consentimento mas uma ilusão da realidade. 
Vamos colocar a questão noutros termos!
Uma rapariga com 14 anos não tem noção onde se está a meter, mas um homem com 50 anos, sabe qual o terreno que pisa, e sabe que a relação é imprópria.
Uma rapariga com 14 anos para todos os efeitos é menor de idade, por isso o seu consentimento também tem de ser considerado um abuso.

Vanessa Springora não se considerava abusada na época, nem tão pouco manipulada. Até relata que se apaixonou, e que teria feito da mesma maneira mesmo que alguém (mãe), se tivesse oposto. Também não foi o caso. O consentimento era total, aos olhos de uma sociedade inteira, que viu e consentiu.
Vamos enquadrar-nos por favor!
A época (anos 80), França livre. Vanessa com 14 anos considerava-se adulta e inicia um relacionamento com um escritor de 50 anos, que o fazia frequentemente com raparigas da mesma idade. Não podemos falar de um amor especifico e avassalador, único e exclusivamente por Vanessa. Falamos de uma tendência para a tenra idade. Para a manipulação.
No entanto este testemunho é apenas de Vanessa que aos 14 anos se considerava adulta e que nos dias de hoje reflete essa sua atitude e já não se sente tão adulta.
A premissa baralha-me, mas acredito que a chamada de atenção está para todos que rodeiam estas situações e que não devem eles sim, dar o seu consentimento. 
Mas afinal, qual é realmente o papel dos outros nestas histórias?

Ainda na Ípsilon e escrito por Isabel Coutinho um resumo sobre o livro que achei interessante transcrever;


A literatura serve de desculpa para tudo?
Não se escapa facilmente ao espirito de uma época. Eis como em tempos de revolução sexual, Vanessa Springora, 14 anos, passou de musa a personagem de ficção. A partir da cama de Gabriel Matzneff.

"Passava os dias da sua infância [entre os livros], como [algumas crianças passam os dias entre as árvores]. Tinha pais com ar de actores de cinema, mas à noite, escondida debaixo das cobertas, ouvia o pai tratar a mãe de [cabra] e de [puta]. Se os pais [são para as filhas umas muralhas], conta Vanessa Springora no romance autobiográfico Consentimento, o seu era [uma corrente de ar].
Depois do divórcio, a vida da mãe e da filha dá uma reviravolta inebriante, passam a viver em águas furtadas, nem sempre recebem pensão de alimentos e Vanessa só vê o pai de tempos a tempos. Desde que o meu pai desapareceu do mapa, tento desesperadamente atrair o olhar dos homens. Uma causa perdida. Sou feiosa. Sem o mínimo encanto. (pág.31)
Uma noite a mãe, assessora de imprensa numa editora, leva a filha de 13 anos para um jantar que tem como convidados personalidade do meio literário. É aí que Vanessa, com Eugénie Grandet de Balzac nas mãos, sente pela primeira vez o olhar fixo de G., o escritor Gabriel Matzneff, 36 anos mais velho, que a cerca, passa-lhe a escrever várias cartas por dia, marca encontros, fica à espera dela no liceu e, por fim, a leva para a cama. Com uma voz carinhosa gaba-se então da sua experiência, da mestria com que sempre conseguiu tirar a virgindade a miúdas muito jovens, sem nunca as magoar, chegando mesmo a afirmar que elas guardaram a vida inteira uma recordação comovente, foi uma sorte terem ido parar às mãos dele e não às mãos de outro homem qualquer, um daqueles tipos brutais, sem o mínimo tacto, que as teriam pregado ao colchão sem preliminares, levando-as a associar àquele momento único um sabor eterno de desilusão. (pág.48)(...)
Viajamos até aos anos 1980 franceses, chegamos muito perto dos anos 70. São décadas em que em nome da libertação dos costumes e da revolução sexual, há que defender o livre desfrute de todos os corpos (pág.56). Não se escapa facilmente ao espirito de uma época: Neste contexto, a minha mãe acabou, portanto, por se acomodar à presença do G. nas nossas vidas. (...) Seja como for, a sua intervenção limita-se a um pacto com o G. Ele tem de jurar que nunca me fará sofrer.
O que obviamente não aconteceu e vanessa, sozinha, irá descobrir como o escritor famoso que a afasta dos amigos da sua idade não hesita em reproduzir nos seus livros as cartas das suas conquistas, como elas se assemelham todas estranhamento (pág. 79). De musa Vanessa passa a personagem de ficção (...)



Comentários ...Opiniões... precisam-se!  
Ainda não li o livro e como disse no início estou a ponderar muito a sua leitura. Gostaria de opiniões de quem já leu. 
Gostaria que quem já leu, conseguisse "vender-me" o livro da melhor maneira possível para convencer esta indecisa a ler o mesmo.
Comentem, comentem! por favor...





4 de novembro de 2020

 

Eclipse - Luz e Escuridão - Stephenie Meyer



Terceiro livro da Saga Twilight completo. Bella caiu no buraco dos seus próprios sentimentos. 
Neste livro Bella descobre que é capaz de amar para além de Edward, no entanto não é capaz de viver para além de Edward. E por muito que possa sequer pensar em ter outra vida, com outro futuro e outras pessoas isso não é mesmo possível para ela.

É uma sensação de derrota, aquele sentimento que se tem, que faças as escolhas que fizeres, perdes sempre, e por vezes perdes muito.
A capacidade de se perceber a realidade e que ela é dura, a capacidade para a escolha e para se deixar de egoísmos, a capacidade de sofrer mais do que aquilo que fazemos sofrer, revelou-se uma noite em que Bella finalmente disse tudo o que lhe ia na alma. Ela não tinha noção até aí e a forma como ela viveu essa passagem e a dor que sentiu é humano. Tremendamente belo.

Quanto ao resto, sim, está lá tudo. Muitos vampiros para perseguir. Muitos atrás do sangue de Bella.
Esta rapariga atraí sarilhos! É muito desajeitada também, e sim, ainda vive num universo muito juvenil, mas caminha para a maturidade. O ambiente que a rodeia e os seus próprios sentimentos começam a formar-se como bastante adultos.
A grande capacidade daquilo que li até agora, penso que seja mesmo essa. A profundidade dos sentimentos colocados no papel. 
Nem todos os sabemos contar tão bem.

Bella deixou de ser a menina constante que só via Edward, e passou a desenvolver sentimentos verdadeiros para o bem e para o mal. Como qualquer ser humano. A dúvida instalou-se. Aquela "coisa" que faz de nós pessoas mais crescidas e nos desorienta.
Isso até acaba por ser um pouco irónico. Agora que ela se prepara para deixar de ser humana.  


2 de novembro de 2020

 

PASSATEMPO_QUEM GANHOU!






Olá a Todos!

Em meados de Outubro lancei um passatempo comemorativo dos 6 meses de existência do Blogue.

O passatempo foi bastante diferente do anterior, mas agradeço a todas as pessoas que aderiram e perderam o seu tempo a concorrer.

As vencedoras são;

Ângela Costa – Objetos Cortantes

Telma Oliveira – Educar com Mindfulness na Adolescência

Helena Bracieira – Ensaio sobre a Cegueira

Teresa Carvalho – Os Templários

Barbara Tomé – No meu Peito não cabem Pássaros

Peço que assim que possam façam o envio da vossa morada paro o e-mail livrista2020@gmail.com, para receberem em breve o vosso livro.

 

Obrigada a todos pela participação e boas leituras…