29 de maio de 2021

 


CONHECER!




Desde que me conheço que ler faz parte da minha vida.
Lembram-se da vossa primeira memória? Ora vamos lá voltar um bocadinho atrás!
A minha primeira memória foi o meu primeiro dia de aulas. 
Eu era uma miúda tímida. Eu sempre fui uma miúda tímida e deslocada por isso o primeiro dia de aulas era como entrar num circo e ser a atracão principal.
Não levei a mala da escola com os livros, porque a minha irmã no ano anterior levou e não foi preciso.
Lembro-me que a minha professora ficou muito admirada de eu não levar a mala e desconfiada espreitou para debaixo da mesa para ver se eu estava a mentir.
Pronto! Eu que queria passar despercebida, acabei logo por ser a atracão principal do circo.
Este dia seria o primeiro passo para aprender a ler. Com cinco anos, já sabia escrever o meu nome e escrever os números até dez.
Era a meta da minha mãe. Não vais entrar completamente ignorante!
Por isso, esta história que estou a contar não pode ser a minha primeira lembrança, mas é sem dúvida a que eu retive na minha memória.
Na minha casa, como em tantas outras o dinheiro era contado e as despesas muito bem ponderadas, por isso não existiam muitos livros e a minha biblioteca infantil resumia-se a uns quantos livros da "Anita", e pouco mais que eu recebia como prenda de Natal.
Quando tive idade para me auto definir fui à biblioteca municipal e fiz-me sócia e passei a gastar dali.
Era como se fosse um "bar aberto", de livros. Lembro-me desses anos até ao primeiro emprego com dezoito anos e ali eu experimentei de tudo. 
Afinal, tudo estava disponível.
Foi uma fase de descobertas e gostos variados. 
Quando temos essa idade o  melhor mesmo é não ter dinheiro para livros, porque a biblioteca dá-te a possibilidade de experimentar tudo o que se queira, e o pôr de lado um livro a meio, não é um peso na consciência.
Lembro-me que passei pela febre da poesia. Hoje em dia, leio muito pouca poesia.
Pelos policiais de Agatha Christie e Hercule Poirot. Tudo o que havia na biblioteca sobre esta escritora eu li.
Passei pouco pelos livros infantojuvenis. Nunca li os "Cinco" na totalidade e nunca li um livro da coleção "Uma Aventura"
Mas lia outras coisas, li muitas coisas. Deixei muitas coisas em meias leituras e perdia as minhas tardes ali sem me preocupar muito com o tempo.
Quando recebi o meu primeiro salário comprei o meu primeiro livro. "O amor é fodido" de Miguel Esteves Cardoso. É o livro mais antigo da minha estante.
Naquela altura não havia livrarias online, aliás nem havia o online, e na minha terra existia apenas uma livraria muito estreita, carregada de livros e que tínhamos de pedir os títulos que queríamos a maior parte das vezes. Livros em supermercados, nem pensar.
Pedir o livro á lojista e dizer o título foi como uma invasão de calor pela minha fase. É o defeito particular dos tímidos. Falamos e parece que estamos com um ataque de menopausa associado a suores e calores por todo o corpo. E tudo converge para a cara, manchando de vergonha o nosso olhar.
Desde essa altura nunca mais parei de comprar e ler livros. Umas vezes mais rápido, outras vezes mais devagar, lá vou conseguindo encher  as estantes e a voltar a acrescenta-las.
Hoje, com mais de quarenta, tenho mais de seiscentos livros que a minha filha conta e olha com um aborrecimento assustador.
Acho que ela está simplesmente amedrontada com a possibilidade de os ter de ler, mas cada um é como cada qual e existem certas coisas que não se impõem, nascem connosco.
Eu também nunca soube fazer malha! Por muito que tentassem ensinar-me!

Ler, é por isso um princípio. O princípio da minha normalidade.
Não existe razão nenhuma para parar de ler. Pelo menos eu não encontro nenhuma que se justifique.
Pode-se abrandar o ritmo da leitura, se se quiser escrever.
As duas estão profundamente ligadas, mas foi dificil para mim perceber isso.
Fi-lo milhares de vezes, mas recuei. Como hesita qualquer pessoa que se sente incapaz para algo que é maior do que si própria.
Comecei, rasguei, larguei e deitei fora. Esqueci muitas vezes dentro das gavetas as folhas que punha no lixo quando as relia. 
Afundei as possibilidades com mais um livro para ler. Para quê insistir se apenas tenho capacidade para ler?
Com o trabalho é diferente. Como trabalho que me sustenta e leva o dinheiro para casa, terei que ter uma atitude diferente, no mínimo mais responsável. Não sou competitiva, nem ambiciosa. Não naquela medida que atravessa tudo e todos, até porque trabalho sozinha e não tenho ninguém com quem medir forças. Mas tenho as minhas responsabilidades, estou inserida numa estrutura com muitas pessoas e lido com muitas outras pessoas que passam pelo balcão. Tenho que lhe dar a importância que precisam. Não posso dizer que não sei, não posso dizer que não consigo e não posso passar para trás das costas.

Com o blogue, escrever tornou-se um ritual, uma habituação. Ler, tornou-se mais sério, escolher um livro um ato mais calculado e livre de impulsos.
E recomeçar a escrever foi um fio de água que corre devagar.
Hoje lido com outra realidade que vou ter de controlar.
Hoje acredito que o sonho comanda a vida, e a única coisa que eu tenho de fazer é continuar a caminhar. 
  


27 de maio de 2021

 


PLANÍCIE DE ESPELHOS - GABRIEL MAGALHÃES


"Sabes, Marta, quando alguém morre, durante um dia e uma noite vagueia pelo mundo a resolver as coisas que não ficaram resolvidas porque, quando morremos, muitas vezes não tivemos tempo de arrumar a gaveta da vida que vivemos."


Há alguns anos atrás pedi á minha irmã como prenda de Natal o livro de Gabriel Magalhães, "Espelho Meu". Foi um dos melhores livros que li.
E na volta comprei este "Planícies de Espelhos", que ficou esquecido na estante.
São aquelas coisas que lá temos, ás vezes em maior número, outras vezes levam um desbaste.
É um defeito de quem vai adquirindo com mais velocidade do que vai conseguindo ler, e muitas das vezes outros títulos vão-se sobrepondo a tudo o que temos na estante.
Por vezes também é falta de olhar para ela com olhos de ver.
Veio agora parar à minha mão e posso dizer que a leitura não sendo uma história surpreendente tem a sua graça.
Marta, a personagem principal é professora Universitária, na Beira Interior.
A pedido de um colega seu da Universidade de Évora desloca-se a esta cidade.
Até aqui, tudo certo. Vamos com ela de viagem e descobrimos um pouco quem é a Marta. 
É uma mulher só, com uma infância triste e sem graça, com uns pais ausentes na alma e com a companhia de uma tia-avó que lhe enchia os dias de sonhos.
A frase inicial é dessa tia-avó que Marta nunca esqueceu.
Foi nos livros que encontrou o conforto, mas tímida de espírito nunca pôs em prática o sonho de escrever.
Escrever, escrevia alguma coisinha que guardava no fundo dos seus ficheiros do computador.

Nessa viagem que faz a Évora, muitas coisas estranhas lhe acontecem.
Janta com um casal que é tudo menos normal, passa por um morto que lhe pede boleia duas vezes e que trás um livro consigo, passa uma noite de medos num convento que foi transformado em Hotel e encontra no outro dia o mesmo rapaz que já está morto e era um estudante daquela Universidade. Ele, deixa-lhe o livro que trazia na mão. 
O livro escreve os seus passos e ela pode ver aquilo que aconteceu. É como se o livro estivesse a ser escrito ao mesmo tempo que ela vive.

Ao voltar para a Beira Interior, Marta pára em Monforte e fica num quarto de hotel durante uma tarde. Precisa de escrever o que se passou com ela nas últimas horas. Nem ela sabe a que se deve a urgência daquela necessidade, e quando desce para ir comer qualquer coisa, - afinal não se consegue ver ao espelho - descobre nas noticias da TV, que morreu no dia anterior. Que o seu carro caiu ao rio num acidente com um camião e que procuram o seu corpo.
Ela já morreu e não foi informada. Até porque continua ali, as pessoas continuam a vê-la e a falar com ela. 
Marta está perdida no seu próprio labirinto, e ao voltar para o quarto lembra-se que em tempos escreveu um conto, em que um homem acorda e não se consegue ver ao espelho, que descobre que está morto na cama, mas que as outras pessoas o conseguem ver.
Procura esse conto nas pastas esquecidas dos seus ficheiros de computador e ao lê-lo, vem-lhe à ideia que se voltar a reescrever a história daquele dia  poderá também ela mudar o que se passou.
É assim que Marta inventa uma história na ponta dos seus dedos. Escreve que não existiu nenhum acidente com um carro igual ao dela, e que o motorista do camião que esteve envolvido é apenas um homem alcoólico com um passado de acidentes e que não poderia ter outro. Perante as autoridades cria esta história fantabulesca de um carro que lhe surgiu em contramão e que caiu ao rio, para poder manter o emprego e a sanidade.
É a forma que ela têm de se salvar da morte. 
Convencida que tudo passou a ser como a história que contou, pois até os noticiários já falam na possibilidade de não ter existido carro nenhum, Marta deixa Monforte e caminha para a Beira Interior.
Está tão convencida de si, que decide voltar para casa pelo mesmo local onde tinha morrido ontem. Afinal, já tinha resolvido isso.
Mas a vida e a morte são estados bem definidos e Marta não foge ao seu destino.
É bastante interessante.     


24 de maio de 2021

 


A ÚLTIMA CEIA - NUNO NEPOMUCENO




De todos os livros que já li do Nuno, este é talvez o que gostei menos.
A história não deixa de ser interessante e viciante, e a maneira como o Nuno conta os seus enredos faz com que largar o livro não seja uma opção.
Neste momento, para mim, ler está a ser bastante complicado e este livro, cheio de personagens já minhas conhecidas ajudou bastante.
Encontrei um professor Catalão mais apagado na história.
Talvez a razão porque gostei menos deste livro, do que dos outros, prende-se com isso mesmo. 
As minhas personagens do coração pouco apareceram. Diana então, mulher do professor Catalão que tem sempre uma fatia importante da história, passa aqui quase despercebida.

Tirando esta pequena comparação entre os trabalhos do Nuno, é sempre um livro a ler, principalmente quem gosta de um bom policial e de um bom roubo de arte.
Assaltos de obras de arte perfeitos. Dois amantes sem nada em comum e cuja mulher aparece sempre como uma personagem dúbia. 
Um homem que tem como principal móbil dos seus crimes a vingança pela morte da primeira mulher.
Um assalto final surpreendente e até um tigre da Sibéria que escolhe o seu verdadeiro "dono". Neste caso dona.

Vale sempre a pena ler um livro do Nuno Nepomuceno.
Agora só falta mesmo "O Cardeal"

E vocês já leram algum livro do Nuno Nepomuceno? E o que é que acharam?



17 de maio de 2021

 


O LUGAR DAS ÁRVORES TRISTES - LÉNIA RUFINO



Esta é a história da mãe Lurdes, da filha Isabel e da sua irmã Luísa. Do pai delas, Joaquim, da avó Irene, e das irmãs Filomena e Alice. Esta é a história de um lugarejo sem nome e de uma aldeia próxima onde mora a tia Graça, a Senhora Eulália e a Juliana.
Este é um lugar que não tem nome, mas têm o cheiro da paz do cemitério, a tristeza no olhar, o segredo de uma vida inteira.

Ao ler este livro revi-me em muitas histórias contadas pela minha mãe, do seu tempo de criança e principio de ser mulher.
Aldeia pequena, lugarejo. Os outros que estão tão perto, os costumes tão enraizados. Uma linha tão ténue entre o pecado, maldição e desventura.
A vítima que não era mais do que a culpada do crime.
Um padre que leva tudo com mão de ferro. Que transforma um olhar em pecado e que controla os seus fiéis pelo medo e submissão. Será que a Igreja compreendia realmente a Bíblia e Jesus Cristo naquele tempo, ou no tempo antes daquele?
Transpor a linha da vergonha era mais fácil do que aparentava.
Eram realmente outros tempos. Eram muito diferentes dos dias de hoje, e este livro de estreia de Lénia Rufino, que entrou em casa de mansinho, na sua escrita simples, e corrida, com uma personagem pura e teimosa, abre-nos a ponta a essa realidade.

Esteve ali tão perto de nós. Foi a realidade dos nossos pais, daqueles que hoje tem, setenta, oitenta e que viveram no campo. Os da cidade, nem tanto.
Enquanto o lia, os vizinhos da minha mãe voltaram a ter o rosto que eu lhes via quando era miúda.
Tenho histórias destas no meu colo. São depositadas de quando em vez pela minha mãe, na sua alegria de recordar a infância e a juventude. Tempos difíceis, diz ela muita vez, mas os tempos que era recorda com mais amor.

Acabei o livro ontem, mas não fui logo a correr escrever a resenha. Queria tempo para pensar no que li, e o que li é imenso. É um mundo que hoje habita dentro daquele lugar das árvores tristes, naquele lugar que quando vou pôr flores na campa da minha avó eu encontro nas campas dos mais antigos.
Naquelas fotos tiradas tipo passe com fato domingueiro.
Naquelas pessoas que, sempre que passamos por lá a minha mãe conta, esta é "fulana e fulana, morreu disto e daquilo, aconteceu aquele outro e mais isto."

Não sei como conseguiste, Lénia Rufino, mas está cá tudo.
É um belo livro.
 


14 de maio de 2021

 


SHADOW AND BONE - LEIGH BARDUGO



Muito se fala deste livro nos últimos tempos. Estreou no Netflix há relativamente pouco tempo a primeira temporada que acredito seja o reflexo deste primeiro livro.
É um livro de fantasia. Um reino imaginário. Uma guerra de séculos, um sulco de sombra, criaturas do escuro a lembrar dragões sem fogo. Os Grishas, são mágicos poderosos.

Esta é a história de Alina, uma órfã, cartógrafa do exercito, que numa das expedições ao Sulco da Sombra, e na tentativa de salvar o seu amigo de infância descobre que tem poderes sobrenaturais. É a evocadora do Sol.
Darkling, o mais poderoso de todos os Grishas, leva-a então até à corte, para ser treinada na suposição de livrar a nação de Ravka, do sulco da sombra e da guerra.
Só que por vezes nem tudo o que parece é.

Eu pessoalmente gosto muito de livros do género fantástico. São narrativas ainda mais inimagináveis. Quem não devorou os livros da Guerra dos Tronos, ou o Senhor dos Anéis? Eu tenho particular adoração pelas Brumas de Avalon.
Shadon and Bone de Leigh Bardugo entra nesse cantinho fantástico com a personagem Alina Starkov, bastante real e humana.
Bastante próxima dos nossos sentimentos. O facto de ser ela a narrar a história ajuda a criar este elo de proximidade. 
Vamos assistindo ao seu crescimento como pessoa e temos conhecimento dos seus sentimentos.
Admito que houve uma altura do livro que baralhei-me. Achei que estava tudo mal. Senti que Alina não estava a ser Alina.
Reparem! Alina é uma miúda órfã, criada no desconforto e na sobriedade, e quando ela chegou à corte não teve nenhum rasgo de deslumbramento ou vaidade, mas houve uma altura, breve, eu sei, que isso aconteceu. 
Senti-me um pouco! Como é que eu possa explicar isto! Como se alguma coisa não estivesse muito certa naquela fase do livro.
Eu sei! Qualquer um pode deslumbrar-se. É o que nós fazemos a toda a hora, não é?
Até porque esta atitude não durou muito tempo e a história ganhou asas.
Alina surpreende contudo nas suas convicções. E como qualquer pessoa, sem sempre consegue ver aquilo que tem de ver ao primeiro olhar.

Para já a história fica suspensa, com Alina e o seu amigo de infância Mal, em fuga do outro lado do Sulco da Sombra.
Quem não tem grande aptidão como eu para ler em inglês vai ter de esperar pelos outros livros com edição em português. Como eu.
Esperemos então! 
 


11 de maio de 2021

 



PARA A MINHA MÃE


“mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
 
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
 
Lê isto: mãe, amo-te.
 
Eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes”
                                                 Palavras para a minha mãe

                                                                                                                                José Luis Peixoto



Ontem a minha mãe fez anos. Tenho sempre um atraso nestas coisas de acertar com as datas e dizer aquilo que realmente quero dizer.

No dia da mãe encontrei uma publicação com o texto do escritor José Luis Peixoto que eu respeito muito.
Passei-o para uma folha na esperança de conseguir escrever há minha mãe uma coisa parecida. Mas é difícil!
Não porque a minha mãe não mereça, mas porque infelizmente eu não sou nenhum José Luis Peixoto, e o que escrevo não emociona tanto.

Assim como não sou nenhum José Luis Peixoto na escrita, também nunca farei pela minha mãe aquilo que ela fez por mim.
O que lhe dou nunca será suficiente, ela deu-me muito mais do que um ser humano dá ao outro.

A eterna sacrificada. A eterna solitária. A eterna injustiçada. Tu sabes do que eu estou a falar. 
A que se levanta, sempre.
Se houve coisa que eu aprendi contigo foi a caminhar. A não desistir. A levantar-me de manhã. 
A fazer-me por mim, porque só eu o posso ser.

A que sempre deu. A que nos levou ao colo mesmo que o peso já fosse insuportável.

É certo que a vida custa, que o tempo é escasso e que as pessoas de quem gostamos vão ficando em segunda ou terceira fila. Às vezes é doloroso quando nos deitamos na cama e temos a consciência de que não serviu de nada aquele dia, e que os nossos amores ficaram irremediavelmente para trás.

Eu sei que tu sabes que se algum dia leres este texto, não vais fingir que não o leste. Nós não somos assim, e eu sei que tu sabes que apesar do caminho duro da tua vida o teu amor nunca será em vão.

E eu também sei que tu sabes, mãe, que eu amo-te.
 
 


10 de maio de 2021






AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL - STEPHEN CHBOSKY


"nunca estamos sozinhos"

Admito que tinha altas expectativas sobre este livro. 
Gostei particularmente da maneira como foi escrito. São uma série de cartas que o Charlie - personagem principal - escreve e envia a alguém desconhecido.
São estas cartas que nos mostram um miúdo sensível e que se debate com vários dos desafios da nossa vida. 
O principal. Atravessar a adolescência.
São cartas sinceras e originais que tocam e comovem na sua leitura.
A escrita é muito simples, e a história em si, também.
O desfiar do primeiro ano do secundário deste miúdo de quinze anos que tem problemas de ansiedade e ataques de pânico.
Ele conta-nos tudo, muito devagarinho. Fala do seu primeiro amor, dos amigos mais velhos, das drogas e do álcool, e fala da família.
É curioso a forma como fala da família. A delicadeza e generosidade que ele demonstra ter com todos. Nada próprio de um miúdo de quinze anos.
É bastante audacioso o livro neste aspeto dos relacionamentos.  

O livro, contudo começou a mostrar-se morno e admito que foi dificil acabar de o ler. Teve momentos em que a história pouco evoluía.
Senti uma grande urgência em terminar o livro, não porque me agradava particularmente mas porque cada vez sentia que não havia mais nada para ser dito.
A ambiguidade da personagem Sam, deixou-me também um pouco confusa. 
Não quero contudo desprezar-lho de todo. Provavelmente teria tido mais capacidade de gostar dele se o tivesse lido quando tinha 15 anos.
Não deixa de ser um livro sensível, escrito de uma forma original e com belíssimas referências a livros e a músicas.
Fez uma linda playlist as referências musicais incluídas no livro. Para não falar das referências literárias. A música Asleep dos The Smiths já tocou vezes e vezes sem conta

Tem pelo menos duas frases inesquecíveis. E como vocês sabem que eu gosto de frases aqui estão elas;

"...nós aceitamos o amor que achamos que merecemos."
"Morreria por ti. Mas não vou viver por ti." 





8 de maio de 2021

 


PASSATEMPO NO BLOGUE 2021


Amigos! Agradeço muito as vossas participações no Blogue com vista a este passatempo que quero manter até ao final do ano.

Mas vamos tentar dar outra dinâmica ao próprio passatempo e acho que vocês não se vão importar.

Como sabem, criei este passatempo para "puxar" pelas vossas participações nos comentários e assim podermos, ou eu poder ter uma perceção se estão a gostar ou não do meu trabalho.
Quando iniciei este passatempo, as publicações centravam-se maioritariamente no Blogue, mas hoje já estendi essas publicações às redes sociais, nomeadamente Facebook e Instagram.
Não faz sentido portanto deixar de fora as pessoas que interagem com as redes sociais.

Assim, neste mês de Maio, para além dos seguidores e comentários que forem feitos no Blogue, também passam a estar habilitados para o passatempo todos os seguidores e comentadores das redes sociais.

As regras mantém-se mas serão admitidas todas as pessoas que;
1) Passem a seguir o Blogue (www.livrista.blogspot.com) ou a página no Facebook (Livrista), ou o perfil no Instagram (@livrista.blogspot)
2) Comentem as publicações em qualquer uma das plataformas.

Quem ganhou o livro do mês de Abril "Deixados para Trás - Tim Lahaye e Jerry B. Jenkins, foi a Maria Costa
Por isso, Maria agradeço que quando puderes envies os teus dados para o e-mail: livrista2020@gmail.com, para receberes o teu livro na tua morada.


PARA O MÊS DE MAIO O LIVRO SERÁ;



SINOPSE

Nathalie e François podiam ser personagens de um conto de fadas. Mas um dia o destino desfere um duro golpe, quando François é atropelado e morre pouco depois. Para Nathalie, a dor é insuportável e parece prolongar-se eternamente. Até que, num momento irrefletido, Nathalie surpreende Markus, um colega de trabalho, com um longo e intenso beijo…

O que David Foenkinos nos oferece neste romance, que explora o lado mais lúdico da ficção, é uma análise séria, inteligente e bem-humorada do comportamento amoroso, capaz de nos fazer apaixonar pelos dois protagonistas e de nos envolver profundamente no seu drama humano. Combinando o drama e a esperança, A Delicadeza é um romance que nos desperta os sentidos.

CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Foenkinos conseguiu realizar uma missão impossível: fazer sorrir e refletir com um romance de amor. Os seus diálogos, como as situações que descreve, são suculentos…e delicados. Um livro que se deve ler e oferecer.»
Le Fígaro

«O único romance selecionado para todos os prémios da rentrée literária (Médicis, Renaudot, Femina, Interallié e Goncourt).»
La Tribune


  


6 de maio de 2021

 


UM HOMEM CHAMADO OVE - FREDRIK BACKMAN



Depois de muito ouvir falar de Fredrik Backman - e a culpa é de @o.meu.refugio e @booksbynadia (podem segui-las no Instagram) - lá fui eu alegremente ler o meu primeiro livro do autor.

Se virarem o livro encontram na contracapa entre outras coisas a seguinte frase "uma leitura perfeita para os momentos de lazer." Não sei se o poderei pura e simplesmente considera-lo assim. É sem dúvida uma leitura perfeita mas proporciona-nos mais do que momentos de lazer.

Só que o assunto tornou-se complicado e eu estou aqui à frente de uma folha em branco. Acabei de pousar o livro e de  ler a última página e a única coisa que me ocorre é porra!, que livro!
É isso mesmo! Que livro. Que autor!
Ove é uma personagem tão bem construída. Um velho embirrento e permanentemente zangado com a vida e com os outros.
O humor negro dele é desconcertante.
Com o tempo vamos abrindo o véu para aquilo que foi a sua vida e descobrimos não um homem zangado e rabugento, mas um homem cansado e em luto. 
Ele tenta inúmeras formas de por fim à sua vida. Mas as circunstâncias, os outros vizinhos que se intrometem, as guerras que tem de travar, adiam invariavelmente a sua vontade de voltar para junto da mulher. 
Ele não se fez sozinho! Sonja, a sua falecida mulher é a personagem mais bela de toda a história. Ele levita em torno dela.
Este "velho rabugento", construiu um história de vida com a sua Sonja que foi repleta de infelicidade e amargura, mas os dois, nos seus feitios tão distintos, souberam preservar o amor que tinham um pelo outro.
Sonja, a mais sacrificada, mostrou a Ove que a vida tem cor, seja de que forma for.
Ela era a mão que o acalmava, ele o braço que a cuidava.
O mais surpreendente era a relativa diferença entre os dois. Não eram almas gêmeas, mas almas que nas suas diferenças se complementavam.
Ler este amor foi ler a coisa mais terna e tocante deste livro.
"Mas se alguém lhe tivesse perguntado, teria respondido que, antes de a conhecer, não tinha vivido. E, depois de a perder, tão-pouco."

Para além da particularidade do amor, temos a particularidade da personagem. Ove.
O que podemos dizer de Ove? Rabugento não! Isto para ser simpática.
Mas... "Ove não via as coisas dessa maneira. Apenas achava que a ordem das coisas devia reger-se por uma certa consistência. Achava que não se devia viver a vida como se tudo fosse substituível. Como se a lealdade não valesse nada. Hoje em dia, as pessoas trocavam tantas vezes de coisas que a mestria de preservar a sua durabilidade se tornara supérflua. Já ninguém dava importância à qualidade."
Ove era mais do que rabugento. Era um homem leal, honesto, fiel e direto. Prático e sem mediocridade.
Não tinha absolutamente nenhum jeito para morrer.

É um livro insubstituível. Na ternura que demonstra. Na preservação de uma forma de ver o mundo e os outros. Até nas tiradas e frases de Ove, que nos fazem rir a bom rir, sempre que ele diz "porra", ou "raios partam isto."   
À dias que ando com estas palavras na boca.
As pessoas dizem que Ove não passa de um "Cota Rabugento", e para dizer a verdade se me aparecer um Ove à frente seria capaz de pensar o mesmo.

A história de amor entre ele e Sonja é belíssima.
"As pessoas dizem que Ove via o mundo a preto-e-branco. Mas ela era cor. Toda a cor que ele tinha."

P.S. - Se tivesse pura e simplesmente entrado numa livraria e procurasse um livro para ler, dificilmente teria comprado este livro.
Ultimamente ando assim. Títulos que por minha iniciativa própria eu nunca iria comprar, revelarem-se histórias incapazes de esquecer.
Agora graças a @o.meu.refugio e @booksbynadia, não vou largar este autor tão facilmente.

5 de maio de 2021

 


A LITERATURA




Nas andanças pelas Redes Sociais, guardei uma publicação da Bertrand com esta frase do escritor Karl Ove Knausgard.
Guardei-a, quero partilhá-la e não a quero esquecer porque revejo-me nela.
Como leitora acredito nos livros. Poderia acreditar em outra coisa qualquer. Por exemplo, poderia acreditar que a nossa realidade nos basta.
Infelizmente não acredito nisso. Ou felizmente! Eu gosto de acreditar que estou no caminho certo, sem pretensões. Não me julgo acima de ninguém.
Contudo a vida é demasiado pequena e limitativa. A vida é tão somente um correr de calendário, monótono e desgastante. Dia, após dia, ano, após ano.

Quem nos pode valer? O livro. A literatura.
O nosso amigo do peito. O nosso confidente. Aquele que nos conta histórias. De outros mundos e deste. E que faz uma coisa extraordinária.
Coloca-nos no lugar do outro.
Será que percebemos melhor os outros? Será que acreditamos nos outros quando lemos?
Não sejam restritos. Deus está em toda a parte e só a literatura nos ensinou isso.

E nós? Nós que lemos? Nós que devoramos histórias e encarnamos personagens. Que nos rimos, que choramos e quantas vezes morremos. Nós que nos dilaceramos por dentro com certas passagens, com certas personagens. Nós!
Digam lá! Não escondam. Almas que devoram livros. O que queremos mesmo é ser outro.
Sejamos Fernando Pessoa então! Não nos limitemos a uns três ou quatro.
Ainda dá para encher as estantes deles.
E depois? O que fazemos com tudo isto? O que haveríamos de fazer?
Ora! Escrevemos!