30 de janeiro de 2021

 


O HOMEM DUPLICADO - JOSÉ SARAMAGO


"O caos é uma ordem por decifrar"


Este é o livro mais surreal que já li de Saramago. Um homem que se viu duplicado por outro no aspeto físico e se perdeu nessa igualdade de uma forma trágica. Tem o seu "Q" de cómico também.
Tertuliano Máximo Afonso é um professor á beira da depressão. Homem só (personagem recorrente nos livros de Saramago, homens sós!).
Um colega de trabalho sugere-lhe o aluguer de um filme para que possa distrair-se, mas o que Tertuliano não contava é que nesse filme, um Actor é a sua própria duplicação.
Tertuliano perde assim a sua originalidade, o seu individualismo.
"Tanto é o que precisamos de lançar culpas a algo distante quando o que nos faltou foi a coragem de encarar o que estava na nossa frente."
Este professor de história tão distante da realidade, aquele homem que hoje não sabe as razões porque casou, e a verdadeira causa do seu divorcio, é abalado nos seus alicerces como ser humano ao descobrir que é uma pessoa duplicada. Que existe outro igual a ele, que tem outra vida e outra identidade.
Descobrir essa vida e essa identidade passa a ser algo muito importante para Tertuliano.
"O caos é uma ordem por decifrar"
Com esta descoberta a sua vida altera-se profundamente, e para o ajudar Tertuliano conta com o "Senso Comum", como seu companheiro e confidente. Pasme-se!
"Infelizmente, o senso comum nem sempre aparece quando é necessário, não sendo poucas as vezes em que de uma ausência momentânea resultaram os maiores dramas e catástrofes mais aterradoras."

É sem dúvida um grande livro de Saramago. Com um final surpreendente, relata na sua forma fluída de contar uma história, a natureza das pessoas quando se inserem em contextos diferentes.
Um pacato professor de história, que se revela diabólico e imprevisível.
"Não imaginei que fosses capaz de tanto, é um plano absolutamente diabólico, humano, meu caro, simplesmente humano, o diabo não faz planos, aliás, se os homens fossem bons, ele nem existia."

É um dos grandes livros na minha opinião de Saramago. Um livro onde o escritor espalhou o caos, e limpou os estragos perversa.


28 de janeiro de 2021

 

EM PARTE INCERTA - GILLIAN FLYNN


Bom! Definitivamente Gillian Flynn será uma das minhas escritoras favoritas. É o segundo livro que leio da autora e a forma como vai conduzindo a história é no mínimo fervilhante. Que história!
A meio do livro, já estou com várias possibilidades de desfecho, e o mais certo é não acertar em nenhuma. Foi assim com "Objetos Cortantes", será assim com este "Em Parte Incerta"
O livro é contado a duas vozes, o diário de Amy, e o relato de Nick Dunne, o marido de Amy.
Ponto de situação ainda a ler o livro;
Simpatizo com o diário de Amy, está lá tudo. Começo a achar que Nick não é o que quer parecer ser, mas acho que isso se deve à sua falha de personalidade. Amy desapareceu sem deixar rastro, mas não acho que tenha sido o Nick
Se Amy está viva ou morta?... neste ponto da leitura, ainda é uma boa pergunta, mas eu aposto que ainda está viva.

Sim! Viva! Definitivamente viva.
Posso dizer que cada página me surpreende, cada caminho escolhido faz-me agarrar este livro, sem o conseguir largar. Posso dizer que esqueço-me das horas. 
Não consigo gostar de nenhum dos dois, não consigo ter pena de nenhum dos dois, e o que assusta é que aquilo que os tornou assim é a insensibilidade que cada um teve para com o outro a partir de determinada altura do seu casamento.
Não deixa de ser medonho que tudo o que acontece a qualquer ser humano, no percurso do seu casamento de uma forma ou de outra, em determinada altura, mais cedo ou mais tarde, muito de vez em quando ou com alguma frequência se tenha tornado para estes dois, algo puramente doentio.
Não sei onde esta história nos vai levar, mas não vejo um final prático para nenhum dos dois.

Que personagens tão manipuladoras. Gillian Flynn tem esse dom. Capacidade de mostrar a alma humana no seu pior. Não nos dá nada para nos agarrarmos. Expõe-nos à maldade como única tábua de salvação para os acontecimentos.

Loucura, poderá dizer-se isso mesmo. Pura loucura!
Tudo dissimulado, tudo pensado ao pormenor, tudo limpo de erros.
Amy é uma personagem em ebulição. Mentalmente desequilibrada, aparentemente a pessoa mais normal e amável do mundo.
Como é possível ter uma capacidade de vida assim. Nunca falha, tudo planeado ao mínimo pormenor.
Nick não é melhor, é vazio, desinteressado, egoísta.  
O que mais surpreende é a forma nuclear em como os dois se unem e não se conseguem afastar.
Será isto uma forma de amor?
"Amy era tóxica, e contudo eu não era capaz de imaginar um mundo inteiramente sem ela."
Será possível? Tudo o que ela fez para destrui-lo e incrimina-lo.
Será que pretendia mesmo isso, ou pretendia que ele desse por ela?
É que Nick já não reparava na mulher, e bem vistas as coisas ela fez grandes sacrifícios por ele nos seus cinco anos de casados.
Moralidades à parte! Quero pôr moralidades completamente à parte neste livro.
"Conseguem imaginar o que é mostrar, finalmente, o vosso verdadeiro eu ao cônjuge, à alma gémea, e ele não gostar de nós?
Foi assim que começou o ódio. Tenho pensado muito nisso, e foi assim que começou, creio eu."
A maioria dos casais não sobrevive a esta descoberta.
No caso de Amy e Nick a descoberta foi sufocante, mas foi um vício para cada um dos dois.


P.S - "Acha mesmo que conhece a pessoa que dorme ao seu lado?
No caso de Nick, não! Definitivamente não conhecia, mas para além de descobrir da pior forma, reconheceu que nunca seria ele próprio sem ela.
"... aquela mulher conhecia-me em absoluto. Conhecia-me melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Todo este tempo, pensara que eramos uns estranhos, e afinal conhecíamo-nos um ao outro de forma intuitiva, nos nossos ossos, no nosso sangue."
Como se diz, para o bem e para o mal, até que a morte nos separe!

"- Pensa, Nick! Tu sabes que eu tenho razão: mesmo que encontrasses uma rapariga como deve de ser, pensarias em mim todos os dias."
Parece que Amy tinha toda a razão!   




26 de janeiro de 2021

 

UMA PUBLICAÇÃO PURAMENTE PESSOAL

"Portanto vocês tem nas mãos algo de divino: um livro como fogo, um livro no qual Deus fala"


Faço parte de um país que se intitula católico, mas não sou nem de longe nem de perto aquilo a que as pessoas podem chamar de uma católica praticante. Quando comecei a ter noção do que esta palavra significava, admito que fiquei um pouco confusa.
Sempre acreditei em Deus, mas não tinha por hábito palmilhar os bancos das Igrejas ou as missas ao Domingo, e nunca pensei que isso me tornava uma católica diferente.
No dia em que quis casar, descobri que da Igreja e dos seus preceitos nada sabia, e que ainda por cima tinha a afronta de querer casar em tempo de quaresma!
Mudei de paroquia para poder casar em paz, com alguém (diácono) que não me julgasse tanto. Óbidos. Estará sempre no meu caminho.
Descobri que existem dois níveis diferentes de religião aos olhos dos homens, os que acreditam em Deus e praticam os seus preceitos diariamente, semanalmente, etc, etc, e os outros, os que acreditam em Deus, mas desviam-se deste caminho por aptidão ou falta dela, sem preconceitos e sem grandes necessidades para além da presença de Deus.

Se acredito em Deus? Sim, acredito... mas sempre fiz parte do segundo nível de católica digamos assim.
Mas sim, acredito. Tenho razões para acreditar. Porque nos bons e nos maus momentos, quando estou rodeada de pessoas ou completamente só, sinto que O tenho comigo. 
Está mais distante quando tudo corre bem, mas quando tudo corre mal é O que está mais perto. É o meu ponto de abrigo, por isso só posso acreditar, principalmente quando é Ele que me mostra que tudo isto não é cor-de-rosa e que a vida terá que ter todos os estados. Sem isso não será vida, seremos apenas uma espiga ao vento!
Mudar e lutar por tudo aquilo que por nós próprios podemos fazer, aceitar aquilo que não podemos alterar. Acima de tudo ser humildes com a vida e amáveis com os outros. Perdoar como gostaríamos de ser perdoados. 
Claro que eu não sou de ferro! Nem Santa, tenho defeitos e pecados, mas o meu caminho diário é lutar por um "eu" melhor.
Há quem diga que Deus está em cada um de nós... dificil de compreender por vezes, perante tanta maldade humana. Como tenho alguma dificuldade em concordar com esta afirmação, prefiro acreditar e aceitar que Deus, por vezes, está em cada um de nós. Todos experimentamos Deus em algum momento da nossa vida, resta saber o que realmente conseguimos fazer com isso.

À parte disso não sou de missas. Não frequento as igrejas assiduamente, não me confesso, nem tomo a comunhão. A minha mãe apesar de ter tido uma educação religiosa mais severa acompanhada de todos os preceitos, não nos subjugou a rotinas religiosas que passassem pelos bancos das igrejas ou as salas da sacristia.
Graças a isso eu pude descobrir Deus pelo meu próprio pé. Este caminho é mais demorado e solitário, mas é feito daquilo que verdadeiramente sentimos.
Admito que sou um pouco tosca nas celebrações, que não sei fazer todos os "sinais da cruz", e que nas ladainhas vou atrás dos outros. A mais das vezes sinto-me envergonhada num ambiente que aparentemente não faz mais de se observar uns aos outros.

Alguns meses antes do início da Pandemia  Covid-19 em Portugal, comecei a ir à missa uma vez por mês. Perguntei à minha filha de cada vez que ia se também me fazia companhia ao que sempre respondeu que sim. Mais uma vez o porto seguro foi Óbidos, com o padre Ricardo Figueiredo.
É um padre jovem com vários livros editados, do qual gosto muito dos seus sermões. Não nos machucam emocionalmente, nem nos julgam... relembrar apenas. Tem uma maneira alegre de transformar uma missa, não num ralhete religioso, mas na verdadeira palavra de Deus.
Contudo, continuo a considerar que o caminho de Deus não está na presença ou ausência numa missa, mas dei por mim a gostar de ouvir cantar aqueles louvores e a ouvir falar de Deus. É o único sítio onde canto na presença de outros.

Agora o ponto onde queria chegar. Nunca li a Bíblia. Não como um todo, como um livro por inteiro.
É para mim, a mais das vezes de dificil interpretação.
Como não o conseguia fazê-lo por mim, encontrei um subterfúgio na leitura dos livros que falam da Bíblia. Entrei então no mundo da Religião e Moral, nos Estudos Teológicos, no Catolicismo.
Desfiei a obra de José Tolentino Mendonça, e descobri um pensar bíblico e poético. Dali passei para Tomas Halik que nos tira as amarras que temos nos olhos, que nos mostra a luz e que tem a preocupação e admiração pelos não crentes e pela sua profunda forma de pensar.
As minhas estantes começaram também a ser povoadas por estes tipos de livros. Papa Francisco, nas suas exortações apostólicas e Cartas Encíclicas..."Bibliografia do Silêncio" de Pablo D´ors, o "Mapa do Tesouro", e principalmente "Espelho Meu" de Gabriel Magalhães.
Descobri livros interessantíssimos de um homem que nunca me provocou grande empatia, Papa Bento XVI.
A minha caminhada é aberta e já cheguei a Tiago Cavaco, um elemento fundamental do protestantismo português. O seu "Milagres do Coração" é sublime, para o definir numa palavra.
Todos eles falam de Deus, das suas crenças e sobretudo falam da Bíblia. Com eles a Bíblia ganhou a vida que eu não lhe consegui dar com o original.
Quando achei-me minimamente preparada, peguei no primeiro volume da Bíblia traduzida por Frederico Lourenço [Os Quatros Evangelhos]. Descobri uma tradução do Sermão da Montanha avassaladora.
Seguiu-se Leo Trese, no seu "Sem medo à vida", o "Zelota" de Reza Aslan, que nos mostra um Jesus Cristo tão humano que se senta ao pé de nós. Carlos Maria Antunes com o seu "Só o pobre se faz pão" e "Atravessamos a própria solidão"
Neste caminho já cheguei a John Stott.

A Bíblia continua a ser algo intransponível, inalcançável.
Nestes caminhos, encontrei um projecto intitulado YouCat, um projecto acarinhado pelos dois Papas; Papa Francisco e Papa Bento XVI.
Comprei a Bíblia para jovens editada por eles. Resumida. Não é a estrada, mas é um caminho... o principio do caminho.
Graficamente é bastante apelativa, e parece que nos inclui a todos nós, ao antes e ao depois. Ao passado e ao presente.




Há livros que fazem parte da Bíblia que de tanto ler sobre eles, tenho muita vontade de os ler;
Provérbios; Eclesiastes; Cântico dos Cânticos; Sabedoria; Isaías; Daniel; Salmos; Job (já li Job uma vez, mas como todo o livro bíblico, não se alcança toda a sua plenitude numa única leitura.)

Tal como está escrito em Eclesiastes, tudo tem o seu tempo. O caminho de cada um de nós terá portanto o seu tempo.
"Debaixo do céu há momentos para tudo, e tempo certo para cada coisa."


   


25 de janeiro de 2021

 

O SILÊNCIO - DON DELILLO 
E A PROPÓSITO DA SUA ENTREVISTA À REVISTA ÍPSILON DE 15 DE JANEIRO DE 2021

"Houve um colapso, o mundo ficou sem energia, as imagens digitais desapareceram, nenhum telefone, nenhum telemóvel, nenhum elevador, frigorífico ou monitor funcionam."


De vez em quando vou lendo uma coisa aqui e acolá na revista do Público de sexta-feira, Ípsilon. Nomeadamente, entrevistas a escritores e lançamentos de livros que me chama a atenção. Isabel Lucas tem textos interessantíssimos com entrevistas a escritores que podem ser do momento ou não.
Já tenho feito algumas referencias no Blogue, sempre que o tema me interessa e no passado dia 15, isso não foi excepção. Don DeLillo, um escritor Norte Americano, que para mim era completamente desconhecido e que lançou recentemente em Portugal o livro "O Silêncio"
A história fala do colapso de energia e como se instala a perplexidade do silêncio.
Momentaneamente fácil de suportar se for por breves momentos, torna-se angustiante se for permanente. 

Paremos um pouco então, fechemos os olhos por um momento, e àqueles a quem sobra ainda um pouco de imaginação, fantasie-se um mundo sem energia. Alguns dirão!!... estamos próximos dessa realidade, as ruas hoje estão desertas!! O clima é assustador, mas não é a mesma coisa. Todos temos luz em casa, o nosso frigorifico trabalha, a nossa TV e Internet funcionam e nós mantemos constantemente ligação uns com os outros, e as nossas redes sociais caminham... confinados é certo, mas ligados!

E se deixarmos de estar? Como reagiríamos? Veríamos nisso teorias da conspiração, focos de tensão, dramas pessoais e existenciais? 
Claro que sim? Somos manipulados por uma ficção que se sobrepõem há realidade.
Pois é! Este livro fala sobre isso, sobre a reação de um grupo de pessoas a esse mesmo silêncio, sobre a incapacidade das nossas emoções, num mundo cada vez mais digital que nos tem moldado e transformado ao longo destes últimos anos.

Se tivermos bem em conta, o silêncio deixou de existir nas nossas vidas. Desde que pomos o pé fora da cama, o movimento intensifica-se. O trabalho é frenético e desgastante, as redes sociais e os dados móveis estão sempre ligados, o telemóvel tem de estar sempre disponível para ser atendido. Aquele quer um minuto de atenção, o outro exige resposta rápida, e depois disto tudo ainda ligamos a TV, fazemos listas de séries que queremos devorar em poucos dias, corremos o Facebook e o Instagram à procura de novidades, temos sempre opiniões políticas apesar de não percebermos nada de política. Temos uma App para tudo e mais alguma coisa... o silêncio muito prolongando dentro desta realidade é assustador. 
O que fazemos com ele... já não sabemos, não queremos saber... podemos descobrir coisas que não queremos descobrir. 

"Estamos a tornar-nos vítimas da tecnologia de uma maneira mental e filosófica."
Eu vou ler, e vocês?







22 de janeiro de 2021

 

LEVANTADO DO CHÃO - JOSÉ SARAMAGO

"Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave. Ou uma bandeira.
Enfim, cá estou outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo. 


Quando comecei a ler este livro estava de férias no Alentejo... Castelo de Vide, mas precisamente, num banco de jardim da Portagem mais concretamente entre Marvão e Castelo de Vide. Há minha volta a chapinhar no rio existia um ruído ensurdecedor de cantilena espanhola. 
São comuns por aí, os Espanhóis... atravessam a fronteira num abrir e fechar de olhos e invadem a vila de Marvão e Castelo de Vide para conviver e divertir-se. E como eles sabem divertir-se todos juntos, e calar nunca se calam. Quando era pequena chegava a fechar os olhos na mesa do Restaurante só para os ouvir falar, falar, falar... não sei como soa o nosso falar Português a um estrangeiro, mas garanto-vos que um Espanhol é tão rápido que eu ficava perdida no seu linguajar. "Nem o comer lhes tapa a boca" diria a minha avó se visse aquilo!

Voltando ao início, sim! Comecei a ler este livro no Alentejo. Foi apenas uma espécie de simbolismo, nada mais. Ia de férias uns dias e na altura tinha muito prazer em ler Saramago.
E de que nos fala "Levantado do Chão"? 
Para mim, fala de um sonho, e fala acima de tudo da dignidade humana.
Compreendo que seja um livro político que queira mostrar a miséria que as gentes alentejanas viviam e  trabalhavam e sobreviviam agarradas a um poder político dependente dos grandes proprietários e de uma igreja que os amordaçava. 
Mas essa é a parte do livro da qual eu não quero falar... quero apenas falar das mulheres e dos homens que trabalharam e trabalham a terra. Das mulheres e homens a quem tudo falta menos dignidade e coragem. Gente que fez da sua vida, uma vida de sacrifício e trabalho.
Setenta e cinco anos são os anos que atravessa este livro e a vida da família "Mau-tempo", em três gerações.
O tempo é distante com inicio em 1900 e o fim em 1975. Para a maioria das pessoas é uma realidade demasiado remota e tão, tão diferente, que até podem considerar uma ilusão.


 


Este é um livro sobre a luta da gente simples em sair de um círculo vicioso de miséria a que fora condenada desde sempre pelos domínios do poder. Posso dizer que no final os levantados do chão fizeram-me chorar.
É um livro com 40 anos. Como o mundo mudou. E será que somos capazes de compreender esse mundo? E será que mudou mesmo?

P.S - Como disse há pouco não quero falar de política, apesar do livro ser assumidamente um livro politico. Mas para além da politica e da ideologia, palavras tão em voga, e pelas quais se atropelam os ser humanos, considero que acima de tudo este livro é um livro que dá nome às verdadeiras pessoas.
Somos todos números, certo? Os dias de hoje provam isso mesmo. Não passamos de números. Mas por detrás de qualquer número que possamos ser, estará sempre um ser humano.



P.S outra vez! Queiram desculpar... estavam a pensar que já tinha acabado não era! 
Encontrei no site da RTP, mais concretamente (ensina.rtp.pt), este documentário sobre José Saramago e o livro Levantado do Chão. O site está bastante bem conseguido e como projecto educacional é tremendo, e este documentário vale mesmo a pena. Quem quiser ver é só carregar no link https://ensina.rtp.pt/artigo/jose-saramago-documentario-levantado-do-chao/

21 de janeiro de 2021

 


MOMENTO DESASSOSSEGO...

(176-) [1929?]

"Ah, é um erro doloroso e crasso aquela distinção que os revolucionários estabelecem entre burgueses e povo, ou fidalgos e povo, ou governantes e governados. A distinção é entre adaptados e inadaptados: o mais é literatura e má literatura. O mendigo, se é adaptado, pode amanhã ser rei, porém perdeu com isso a virtude de ser mendigo. Passou a fronteira e perdeu a nacionalidade.
Isto me consola neste escritório estreito, cujas janelas mal lavadas dão sobre uma rua sem alegria. Isto me consola, em o qual tenho irmãos os criadores da consciência do mundo - o dramaturgo atabalhoado William Shakespeare, o mestre-escola John Milton, o vadio Dante Alighieri,
e até, se a citação se permite, aquele Jesus Cristo que não foi nada no mundo, tanto que se duvida dele pela história. Os outros são de outra espécie - o conselheiro de estado Johann Wolfgang Von Goethe, o senador Victor Hugo, o chefe Lenine, o chefe Mussolini

Nós na sombra, entre os moços de fretes e os barbeiros, constituímos a humanidade.

De um lado estão os reis, com o seu prestigio, os imperadores, com a sua glória, os génios com a sua aura, os santos, com a sua auréola, os chefes do povo, com o seu domínio, as prostitutas, os profetas e os ricos...Do outro estamos nós - o moço de fretes da esquina, o dramaturgo atabalhoado William Shakespeare, o barbeiro das anedotas, o mestre-escola John Milton, o marçano da tenda, o vadio Dante Alighieri, o que a morte esquece ou consagra, e a vida esqueceu sem consagrar." 


Para os esquecidos da vida!


20 de janeiro de 2021

 


O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS - JOSÉ SARAMAGO



Ricardo Reis, é uma personagem de Fernando Pessoa. Melhor dizendo um dos seus "eu". 
Terá sido um dos menos ativos e em certa altura da sua vida, Fernando Pessoa desterrou-o para o Brasil.
José Saramago fez regressar a Portugal Ricardo Reis após a morte de Fernando Pessoa e assim nasce a história deste livro, e que livro!

Não é fácil falar deste "O ano da morte de Ricardo Reis". Já o li há algum tempo, e os pormenores da história por vezes já me fogem. Creio que foi o segundo livro que li de Saramago, logo atrás das "Pequenas Memórias".
Se gostei? Mais do que gostei...bebi-o.
Ricardo Reis volta a Portugal após a morte de Fernando Pessoa. É pois um órfão de quem o idealizou, do seu senhor. 
É uma parábola interessante... uma personagem que sobrevive ao seu próprio criador com pensamentos e vida própria. Só possível através de Saramago.

Assistimos então ao desfilar da vida de um homem, que não é mais que a imaginação de um outro, e que na ausência desse outro, outro houve que lhe deu uma extensão de vida. Extensão pequena diga-se de passagem...
Estamos em 1935, e Ricardo Reis viveu dezasseis anos no Brasil. O livro não deixa de aflorar as questões políticas da época. O Estado Novo que se erguia, os refugiados de uma guerra civil Espanhola. 
O mais interessante deste Ricardo Reis, não é propriamente a sua personagem, mas o facto de ela mesmo assim não conseguir ser ele próprio sem a presença de Fernando Pessoa.
O mesmo, o autêntico Fernando Pessoa, lá no seu mundinho eterno visita Ricardo Reis para dois dedos de conversa.
Aqui sim, Saramago apanha o comboio de Fernando Pessoa que só um grande escritor como Saramago o conseguia fazer.
"...É dificil responder, pelo menos não me lembro de me ter sentido verdadeiramente útil, creio mesmo que é essa primeira solidão, não nos sentirmos úteis..."
Este tipo de diálogos, a forma de escrever transporta-nos para o Livro do Desassossego, e é para mim admirável. É como se ele (Fernando Pessoa), estivesse mesmo aqui ao nosso lado.
"Não era dessa solidão que eu falava, mas doutra, esta de andar connosco, a suportável, a que nos faz companhia. Até essa tem que se lhe diga, às vezes não conseguimos aguentá-la, suplicamos uma presença, uma voz, outras vezes essa mesma voz e essa mesma presença só servem para a tornar intolerável."
Melodia pura!

"Os outros enganam-se muitas vezes, também nós."
Este livro faz parte do Plano Nacional de Leitura. Recomendado para o 12º ano de escolaridade.
Se o recomendo? Sim.
Eu própria gostaria de o voltar a ler, pois acredito que mesmo que o faça será como se fosse a primeira vez, e de cada vez que o faça vou descobrir mais e mais razões para o voltar a ler.

"Foi inveja, meu querido Pessoa, mas deixe, não se atormente tanto, cá onde ambos estamos nada tem importância, um dia virá em que o negarão cem vezes, outro lhe há de chegar em que desejará que o neguem."

Em 2020 João Botelho realizou um filme com adaptação deste mesmo livro...Outras adaptações já existiram, para o cinema e para o teatro. Esta é a mais recente... vou tentar ver! 


"Em geral pensamos antes de falar, ou vamos pensando enquanto falamos, toda a gente é assim, Se calhar, eu não penso."




19 de janeiro de 2021

 


O REGRESSO DO DESEJADO - REDENÇÃO - RICARDO CORREIA


"O final épico da Trilogia"

Não é uma estreia no Blogue, este Regresso do Desejado de Ricardo Correia.
É uma trilogia bastante interessante que eu li com gosto. E digo interessante, porquê?
É a capacidade de transformarmos algo que se passou na nossa história e reformular um caminho completamente diferente com as mesmas personagens.

Dom Sebastião é um Rei simbólico. Aquele que ficou preso na bruma e desapareceu numa batalha com três Reis. Dentro da literatura é um Rei inúmeras vezes referido e a sua personalidade nem sempre retratada da melhor forma.
É amado por aquilo que nunca foi, e detestado pelo legado que deixou. É comum referirmo-nos a Dom Sebastião sempre que temos um nevoeiro cerrado!

Ricardo Correia teve a coragem de pensar numa história diferente e dar vida a um rei morto. E uma vida de unificação.
Admito que o primeiro livro foi o que mais gostei. Este Redenção, considerei-o até um pouco lento em termos de narrativa em comparação com os outros.
A morte da Rainha deixando o país sem sucessão ao trono deixa-nos no mesmo pé da realidade. Afinal Dom Sebastião continua a deixar-nos sem sucessão.
No conjunto da trilogia, posso afirmar que é de ler, sim.
A narrativa é intensa e a história está toda muito bem construída. Para quem gosta de História, apesar de não ser um Romance histórico, mas pura fantasia é sem dúvida épico.


16 de janeiro de 2021

 


TODOS OS NOMES - JOSÉ SARAMAGO


"Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens" - Livro das Evidências

Como contador de histórias, Saramago é inesperado e este "Todos os Nomes", foi um livro admirável para mim. A história em si é toda ela clara e no entanto tão estranha.
Qual o valor do nosso nome? Qual o valor de cada um de nós para o mundo? Seremos mais do que nomes registados numa folha de papel, numa conservatória e esquecidos no meio de tantos outros? 
Terá realmente a nossa vida e até a nossa morte realmente importância? Ou seremos apenas um número. Única e exclusivamente um número que anda e torna a andar entre os nascimentos, batizados, casamentos, divórcios e por fim a morte.

O Sr. José é um mero funcionário da Conservatória Geral do Registo Civil. Mora até num anexo agarrado ao Registo com uma porta que liga a sua casa da Conservatória. A porta já se fechou há muito, até porque o Sr. José é o último dos funcionários que ainda vive como  pendulo do edifício.   
A sua circulação por aquela porta não é permitida e todos os dias o Sr. José tem de entrar e sair pela porta principal da Conservatória.
O posto que ocupa na Conservatória não é de chefia, limita-se a cumprir ordens dentro de uma organização tremendamente disciplinada e organizada.

Para fugir à solidão, ou porque está muito preso a ela, o Sr. José vai tirando registos de celebridades pela porta que não devia. Faz isso durante a noite, copia os dados para as suas próprias folhas que sorrateiramente vai desviando da Conservatória, e volta a colocar o original no devido lugar. Ninguém dá por nada, ou assim pensa o Sr. José, e assim vai enganando a sua própria solidão.
Mas vai haver um dia que no meio dos verbetes que o Sr. José tira da Conservatória, de todas aquelas celebridades que o Sr. José pode acompanhar também por outras vias, vem um verbete por engano.
"O verbete é de uma mulher de trinta e seis anos, nascida naquela mesma cidade, e dele constam dois averbamentos, um de casamento, outro de divórcio."
O Sr. José, sem saber muito bem porquê cópia também este verbete, e a partir daqui poderá dizer-se que o sossego acabou na sua consciência. A sua vida deixou de ser aquela breve monotonia para se transformar na busca de um homem, para encontrar um rosto, um ser para dar aquele nome do verbete do Registo Civil.
É a procura da identidade... da identidade de um nome.
Posso dizer que as andanças do Sr. José para encontrar esta mulher, alteram a pacatez da personalidade do mesmo. Alteram de tal forma, que o Sr. José faz coisas que não deveria fazer, falsifica documentos, assume identidades falsas, assalta uma escola.
O nosso acanhado e tímido, sério e honesto Sr. José! 

Mais não digo, seria revelar toda a história e ela até tem um toque de suspense que merece o meu silêncio.
Este livro foi escrito por Saramago,  logo após ao "Ensaio sobre a Cegueira".
Li, algures que este livro foi a confirmação para o Prémio Nobel.
Não sei se estou a ser muito correta, não li ainda o "Ensaio sobre a Cegueira", mas posso dizer que diverti-me imenso com esta história, que tem um enredo e uma construção perfeita e que merece qualquer prémio, e sim, dá muito em que pensar nos dias de hoje. Oh, se dá!    



15 de janeiro de 2021

 


FAHRENHEIT 451 - RAY BRADBURY


"Apenas Silêncio"

Este é o primeiro livro que escolhi para o projecto de leitura dos clássicos que vos falei no início do ano. Fahrenheit 451, saltou assim para o mês de Janeiro.
Admito que quando escolhi o livro, não tinha noção da magnitude da história, nem que se estava a falar de um livro de ficção cientifica. Nunca li nenhum livro do género, e uma vez mais a influência de Neil Gaiman resultou em cheio.
A história não é mais do que uma visão profética, apocalíptica de um futuro. Se ele está longe ou perto dos nossos dias, ninguém sabe, mas parece-me que já esteve mais longe.
O livro têm 3 capítulos. Fui um pouco de espirito leve para o mesmo. A partir do momento em que me dei conta da parte "Ficção Cientifica" não alimentei grandes expectativas pelo livro e o início teve um interesse fugaz até Montag ter uma conversa com o seu chefe Beatty.  
Quando esta conversa se dá, já Montag mantinha com regularidade conversas com a sua vizinha Clarisse. Clarisse questionava a ordem natural das coisas. E o que é questionar a ordem natural das coisas? Para Montag, bastou uma dúvida instalada para perceber que algo estava errado na normalidade adquirida.

Este é um futuro em que as casas não ardem, mas os bombeiros existem para queimar livros. A ordem natural das coisas reposicionou-se, e neste futuro profético, não alimentamos o saber, mas a homogeneidade.
Por volta da página 85, o discurso de massas é-nos apresentado, e eu juro-vos que se olharmos para ele vemos o nosso futuro.
Reli aquelas páginas, 85,86,87, algumas vezes antes de prosseguir na história. Ainda incapaz de assimilar que um escritor em 1953, conseguiu imaginar de uma forma tão clara a nossa própria evolução como sociedade.
"Não houve uma ordem, uma declaração, um ato de censura, nada disso! A tecnologia, a exploração massificada e a pressão das minorias fizeram tudo sem qualquer ajuda. Hoje, graças a elas, pode manter-se feliz o tempo todo, pode ler banda desenhada, revistas de mexericos ou jornais especializados."

"Um livro é uma arma carregada na casa ao lado."
Com toda a certeza. Um livro move caminhos, salta fronteiras, molda-nos a personalidade, faz-nos pensar, puxa a nossa melancolia, fazemos perguntas, não aceitamos os caminhos só porque sim. Não ambicionamos apenas a ser felizes, mas queremos a procura. Podemos tornar-nos infelizes? Sim! Mas nunca seremos vazios. Teremos sempre emoções diferenciadas.
"Receamos sempre o que não conhecemos."
"Quanto maior o mercado Montag, menor a margem para controvérsia: lembre-se disso! Todas as minorias, as mais pequenas e menores minorias têm de ter um umbigo bem lavado e limpo. Autores, cheios de pensamentos perniciosos nas vossas cabeças, fechem à chave as vossas máquinas de escrever! E eles fecharam-nas"
Pois é!
"Receamos sempre o que não conhecemos"
"Nem todos nascem livre e iguais, como diz a Constituição, mas todos se tornam iguais. Cada homem à imagem do outro, todos felizes, pois há montanhas que os intimidem ou que os diminuam."
Montag, no entanto ousou pensar, talvez motivado por uma Clarisse que morreu sem deixar rasto, talvez porque dentro dele já existia a pedra de toque de uma vida diferente. Mildred, a sua mulher já não é um ser humano, mas um espetro do futuro agarrada à realidade virtual. Montag esconde 20 livros, que mostra à mulher após a sua conversa com o Comandante Beatty.
Agora, fechados os dois em casa, já não há volta a dar. A aventura da literatura vai começar. Vamos ver onde ela nos leva!

Neste segundo capitulo, o pormenor literário agiganta-se. Este é um tempo apocalíptico em que os livros não tem lugar. A verdade é que se criou uma sociedade gerida pelas maiorias que pretendem mascarar a realidade e a realidade das pessoas.
Faz-me lembrar a frase "Vai ficar tudo bem". Se a repetirmos vezes e vezes sem conta e se não olharmos para o lado, para os outros, somos capazes de acreditar nela sempre e a tristeza não nos invade.
Montag está confuso. Montag já não se contenta com a breve explicação de uma felicidade inventada, por isso com a Bíblia debaixo do braço, vai visitar um velho que conheceu num parque em tempos. Montag tem esperança que ele, antigo professor, lhe explique o significado do que está escrito nos livros.
Se com Beatty no capitulo passado assistimos a um discurso de massificação, sobre as certezas e a ordem, com Faber, o velho professor, assistimos a pura poesia e paixão pela palavra escrita. Pelo conhecimento, pela procura...
"Os livros eram apenas um tipo de recetáculo em que guardávamos as coisas que tínhamos medo de perder. Em si mesmos, nada têm de mágico. A magia está no que eles nos dizem, em como nos apresentam uma única peça feita da costura de vários bocados do Universo."
Apenas um pormenor... livros são alma, a nossa alma. a alma de todos de uma forma ou de outra, sempre a alma.
"O pormenor revelador. O pormenor fresco. Os bons escritores tocam muitas vezes a vida. Os medíocres apenas lhe passam a mão pelo pelo. Os maus violam-na e deixam-na para as moscas. Vê agora porque os livros são temidos e odiados? Porque mostram os poros da vida"

Já em 1953 o mundo caminhava para uma realidade virtual. Difusa, insipiente em comparação com os nosso dias. Neste tempo futuro do livro de Ray Bradbury, a realidade virtual trabalha assente na televisão e na tecnologia que proporciona a interligação do eu com essa realidade. O importante é pensarmos pouco. Podemos ter muito tempo livre, mas não o utilizamos para pensar, não temos espaço na cabeça.
Montag inicia então uma espécie de revolução, de subversão, mas não tem seguidores visíveis e não sabe pensar por si só, afinal não foi assim que a sua mente trabalhou até aqui.
As suas ideia são muito confusas, e tropeça nos primeiros tempos. Escancara aos outros as suas dualidades e atrapalhações. A ajuda de Faber, nem sempre é aceite, porque Montag acima de tudo quer pensar por si próprio e não pretende continuar a fazer apenas e só o que lhe mandam.
A sua ingenuidade, todavia paga-se caro, e na primeira deslocação a uma casa para incendiar livros, os bombeiros do seu quartel com o próprio Montag vão dar à sua casa.

O terceiro e último capítulo é obscuro. Montag num acto de extremo stress mata o seu comandante e tem de fugir.
A fuga transforma-se num espetáculo televisivo, mas com alguma sorte Montag consegue chegar às montanhas atravessando o rio.
Lá, encontra a margem da sociedade, as minorias que foram colocadas de lado por não aceitarem o paradigma universal. 
Lá Montag descobre que não está sozinho, que há muito, muito tempo existem outros como ele. Pessoas que guardam os livros não nas estantes mas dentro de si.
Tal como num tempo virtual a guerra chegou e imediatamente partiu. Tudo desaparece, qual Arca de Noé.
Mas por baixo das cinzas, da mesma forma que uma Fénix, existe o renascer de uma nova sociedade e quem sabe, do caminho para o pensamento.
"Enche os teus olhos de coisas maravilhosas, vive como se fosses morrer dali a dez segundos, vê o mundo, é mais fantástico do que qualquer sonho produzido em fábricas, não exijas garantias nem segurança, nunca houve disso na natureza, e, mesmo que tenha havido, seria algo mais próprio da preguiça..."

P.S. - Como livro surpreendeu-me. O paradigma da sociedade e do ser humano como individuo é bastante transparente a revelador. A alegoria é fantástica! 
 


13 de janeiro de 2021

 


SPUTNIK, MEU AMOR - HARUKI MURAKAMI



Pois é! E é isto. Com Haruki Murakami fico sempre agarrada ao livro.
A escrita de Haruki para mim não é fácil.
Eu explico! É muito fácil ler um texto, um livro de Haruki. Quando dou por mim estou completamente metida na história. Não deixam contudo de ser estranhas histórias, e eu, porém, confesso, tenho muita dificuldade em perceber o seu sentido.
Para além deste, apenas tinha lido do escritor "Crónica do Pássaro de Corda" que me deixou igualmente desconcertada. 
Nessa altura decidi deixar o escritor e os seus livros para um futuro apesar de namorar muitos os seus livros. Hoje, e após esta leitura, não poderei continuar a ignora-lo nem a fugir aos seus livros.

Este Sputnik, meu Amor, está na minha estante desde 2008, e é o primeiro livro do ano que leio para o desafio literário intitulado "Ataque à Estante" do blogue (quandoseabreumlivro.blogspot.com)

E o que este Sputnik, meu Amor me trouxe!
Acima de tudo uma grande confusão misturada com uma leitura compulsiva e à procura de um fim. À procura de Sumire que desapareceu sem deixar rasto.

Começando pelo principio e não pelo fim. Sumire é uma jovem de 22 anos que aspira a ser escritora. Os seus textos saem fluidamente apesar de Sumire não conseguir escrever nada com um fito.
Sumire deixou a Universidade e dedica-se exclusivamente à escrita. A sua vida não gira portanto, dentro de uma normalidade.
K, é um amigo dos tempos da Universidade. A pessoa a quem Sumire acorda ás quatro da madrugada com um telefonema que faz da cabine telefónica para conversar. Para Sumire, K é apenas um amigo, para K, Sumire será sempre o seu amor.
Todos os livros tem uma história para além da história. Nas leituras que fiz de Haruki, essa história está lá mas tenho sempre grande dificuldade em alcança-la.

"O que importa aqui - murmurei para mim mesmo - não são as grandes ideias que os outros tiveram, mas as pequenas coisas que só a ti de ocorrem."
Alguém pode ajudar-me aqui? Sumire é sem dúvida uma alma em ebulição e inadaptada ao mundo quotidiano. A páginas tantas, conhece Miu, uma mulher estranha de 38 anos por quem se apaixona. Esta mulher oferece-lhe um emprego e uma rotina dita normal a Sumire. 
Por causa desta rotina ou por causa desse amor que Sumire sente pela primeira vez por alguém, esta deixa de escrever.
É notável ver como Sumire se adapta ás circunstâncias. Deixa de conseguir escrever sequer uma linha mas assimila a causa/efeito desse mesmo acontecimento de uma forma natural.
K, assiste a tudo isto da bancada, no sítio onde sempre Sumire o quis ter.
O que está garantido não precisa de esforço.

K é o narrador desta história, e a partir de um certo ponto, K deixa de narrar a história como um espectador e passa a ser a voz principal. São os seus sentimentos que passam para primeiro plano.
É através dele que vamos galopando para uma realidade difusa, entre o sonho e a realidade.
Sumire e Miu fazem uma viagem juntas e numa Ilha Grega, Sumire desaparece sem deixar rasto.
A partir daqui partimos para a busca de uma Sumire que desapareceu sem deixar rasto numa ilha que não tem escapatória possível.
Começa então, a ser feita de sonhos, de ilusões, de seres divididos em duas partes.
"Sonho. Ás vezes penso que é a única coisa que vale a pena. Sonhar, viver no mundo dos sonhos - tal como Sumire dizia. Mas nunca dura muito tempo, a vigília acaba sempre por me trazer de novo à realidade."

Sempre acreditei que chegaria ao fim do livro, sem uma Sumire, ausente em parte incerta. O escritor consegue-me deixar no ponto de partida. Aqui à espera de Sumire, à espera do seu telefonema a horas inoportunas, com os seus diálogos aterradora mente descomplicados.
" E assim prosseguimos com as nossas vidas, cada um para o seu lado. Por mais profunda e fatal que seja a perda, por mais importante que seja aquilo que  vida nos roubou - arrebatando-o das nossas mãos - e, ainda que nos tenhamos convertido em pessoas completamente diferentes, conservando apenas a mesma fina camada exterior de pele, apesar de tudo isso continuamos a viver as nossas vidas, assim, em silêncio, estendendo a mão para chegar ao fio dos dias que nos coube em sorte, para logo o deixarmos irremediavelmente para trás.
Repetindo, muitas vezes, de forma particularmente hábil, o trabalho de todos os dias, deixando na nossa esteira um sentimento de um incomensurável vazio."   

E vocês, que estão aí desse lado, alguém já leu este livro? Qual é a vossa opinião?
Alguém pode ajudar-me?



12 de janeiro de 2021

 


AS PEQUENAS MEMÓRIAS - JOSÉ SARAMAGO



"Deixa-te levar pela criança que foste" "Livro dos Conselhos"

Este livro é dedicado a Pilar. Saramago escreve no início "A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar."

"As Pequenas Memórias", será o que mais perto que temos de uma autobiografia do escritor. Um livro que conta a sua infância, as suas raízes humildes na terra de Azinhaga. É um livro despido de floreados.
Se nunca leram Saramago, este é sem dúvida um bom começo.
Se vos venderam a ideia que Saramago é dificil de ler (eu já vendi essa ideia), ou acreditam mesmo nisso, este também é um bom livro para desfazer esses conceitos.
"Não se sabe tudo, nunca se saberá tudo, mas há horas em que somos capazes de acreditar que sim, talvez porque nesse momento nada mais nos podia caber na alma, na consciência, na mente, naquilo que se queira chamar ao que nos vai fazendo mais ou menos humanos."
Para mim foi o livro que colocou à frente dos meus olhos um Saramago genuinamente humano. 
O livro atravessa a sua infância até à idade adulta, a vida em Lisboa com os pais, as férias em Azinhaga com os avôs. A morte do irmão.
O percurso escolar, e como nasceu o enredo para alguns dos seus grandes livros.

O mais comovente é a ternura com que Saramago fala dos seus avôs.
"O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô. Vem cansado, o velho. Arrasta consigo setenta anos de vida dificil, de privações, de ignorância. E no entanto é um homem sábio, calado, que só abre a boca para dizer o indispensável."
" Tu estavas avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa..."
Também eu, minha avó recordo-te sentada na soleira da tua porta, num sorriso que era só  para mim quando eu chegava.

Deixa-te levar pela criança que foste. Vendo bem, - e acreditando que não será assim para todos mas para a maioria - a infância será sempre o nosso porto de abrigo, se não mesmo o nosso único caminho. 

P.S - Comecei por este "As Pequenas Memórias", não tanto por ter sido o primeiro livro lido completo de José Saramago, mas porque é o livro do escritor que mais me identifico. Posso dizer que foi surpreendente aquilo que me foi aparecendo com o virar das páginas e a minha descoberta de um Saramago que eu invariavelmente tentava sempre "puxar para debaixo do tapete".
Este foi o começo do meu caminho, e depois deste já li grandes histórias de Saramago, mas essas ficam para as próximas publicações.
E vocês? O que já leram de Saramago? Vamos partilhar! 


11 de janeiro de 2021

 


VAMOS FALAR DE JOSÉ SARAMAGO




Muito se pode escrever sobre José Saramago.
Estou à algum tempo a olhar para a folha e penso no que quero escrever sobre José Saramago.
Este é mais  um projecto novo para o Blogue neste ano de 2021. Contar as opiniões dos livros já lidos e aproveitar os meses para ler os livros do mesmo escritor que ainda faltam-me ler.
No caso de José Saramago vou estender o projecto aos Herdeiros de Saramago.

E agora? O que vos dizer de Saramago!
Durante muitos anos foi escritor que andou desarredado das minhas preferências. 
Quando ganhou o Nobel da Literatura, não lhe prestei grande atenção.
A culpa?
Primeira culpa - Memorial do Convento.
Tentei ler o livro para o ensino secundário e não passei das primeiras páginas.
A história não me inspirava, o texto parecia-me demasiado dificil. As personagens não me prendiam. É um daqueles livros que não se moldam a mim.
Deixei de gostar então, daquilo que não tinha experimentado e agarrei-me a um exemplo que não correu bem.
Segunda culpa - Na época era fã de António Lobo Antunes. Nessa altura virava noites a ler, devorar os livros de Lobo Antunes. Os livros dele lambiam-me a alma, e eu, no inicio da minha juventude, cheia de tiques, pouco altruísmo, devo dizer que na altura era bastante arrogante, acreditava que no mesmo espaço, onde existia António Lobo Antunes não poderia existir José Saramago. 
Eu sei! Atitudes toscas, sem nexo, sem jeito. Demonstram uma total incapacidade de separação e refletem essencialmente imaturidade.

Posso agradecer a redescoberta de José Saramago, á minha irmã, que fez uma viagem à ilha de Lanzarote, e veio de lá encantada.
Gastou um almoço inteiro a contar o que viu e não viu. A casa de Saramago, a ilha, a Biblioteca de Saramago, a secretária onde escrevia os seus livros. As horas precisas em que o fazia diariamente.
Trouxe-me o discurso de Saramago em Estocolmo quando recebeu o Nobel.
Ganhei algum interesse e apesar de ter em casa " As Intermitências da Morte", resolvi começar a ler Saramago pelas "As Pequenas Memórias"
Não podia ter recomeçado melhor!

"As Pequenas Memórias", mostrou-me um escritor diferente daquele que eu conhecia.
Desta vez mais humano. Eu explico!
Saramago sempre me pareceu em público, uma pessoa distante, diria mesmo arrogante. Senhor de si mesmo, metido no seu mundo.
Mas quem era eu para tirar estas conclusões se nem sequer seguia o escritor?
A verdade é que a pouca importância que lhe dedicavam não dava para ver grande coisa e a facilidade em confundir timidez, falta de jeito com estranhos e conota-la como arrogância vai um passo.
O mais grave nisto tudo é que a minha própria atitude com o mundo é idêntica, até mais carregada. A incapacidade para as grandes multidões, a falta de graça para seguir rebanhos, a inabilidade de manter relações e a falta de aptidão quando observada pelos outros.
Também eu deslizo para a timidez extrema, também eu caminho, e já o fiz mais vincadamente na juventude para a altivez.
Isto são suposições. Afinal, eu nunca convivi com José Saramago, nem sequer um breve encontro para um autografo num livro, por isso a minha opinião sobre a sua pessoa não passa de suposições, quem sabe até bastantes estrambólicas.

Seja como for. Enfim! Quando finalmente coloquei estas questões corriqueiras de lado, e me dispôs a descobrir o escritor e o que ele escrevia, cheguei à triste conclusão, que não passo de um ser humano cheio de defeitos, e que a prática de que "não julgarás" e "mantém uma menta aberta", terão de ser revistas e praticadas até à morte.

José Saramago, descobri eu à cerca de 3 anos - aquilo que muitos já o tinham feito - era e é um grande escritor.
No livros "As Pequenas Memórias", descobre-se o homem dentro do escritor.
Este foi o meu caminho para a sua obra.
"Levantados do Chão"; "Todos os Nomes"; "O Ano da Morte de Ricardo Reis"; "O Homem Duplicado"; "Caim"; "A Viagem do Elefante"; "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"; Claraboia"; "As Intermitências da Morte"; "Manual de Pintura e Caligrafia" e "Terra de Pecado"
Devo dizer que voltei a pegar em "Memorial do Convento", e que voltei a largar a leitura a meio. Decididamente não é livro para mim.



Ao longo deste mês de Janeiro vou dedicar um Post de opinião a nove deste livros.
Depois dedicarei aos restantes meses do ano, a opinião de um livro dos tantos que ainda me faltam ler de Saramago. Será essencialmente um ano dedicado a José Saramago.
Em Fevereiro iniciarei em conjunto o projecto de leitura dos Herdeiros de Saramago. A ideia será ler em cada mês o livro vencedor do Prémio Saramago.
Teremos muito de Saramago este ano. 
Espero que gostem!




9 de janeiro de 2021

 


FAZES-ME FALTA - INÊS PEDROSA


Nas minhas andanças pelas redes sociais, encontrei em Dezembro uma publicação de opinião sobre o livro "Fazes-me Falta" de Inês Pedrosa.
Recordou-me que o já tinha lido em 2002, e que estava na minha estante, que até tinha frases sublinhadas, mas,  - pasme-se! -  recordava-me pouco da história.
Senti a urgência de o voltar a reler, e com ele outros mais que bem vistas as coisas, e depois de uma demorada olhadela pelas estantes merecem outro passar de olhos.
Foi assim que nasceu o projeto "Reler", para 2021, que já vos apresentei no Blogue no inicio do ano.

Falemos agora deste "Fazes-me Falta" de Inês Pedrosa.
Por vezes esqueço-me do alcance da escrita de Inês Pedrosa. Leio os seus livros de quando a quando, nunca é a minha primeira escolha.
Olhando bem para a sua bibliografia tenho poucos livro da Inês, mas é sem dúvida uma contadora de histórias.
"Fica comigo esta noite", "Nas Tuas Mãos", "A Eternidade e o Desejo", "Desamparo" e este "Fazes-me Falta".
Todos merecem uma releitura. Talvez um dia!
Lembro-me que tive "Desamparo" meses na estante, e que quando o li, foi uma lufada de sentimentos.
A forma como a Inês Pedrosa escreve, subtil, limpa, clara... poética.

Na primeira leitura de "Fazes-me Falta", tenho várias frases sublinhadas. Para separar leituras, estou a marcar as frases novas a cor. Nada está a mais! Encontrei até novas coisas, novas frases!
A história é banal. As memórias e as conversas de mim para mim, a duas vozes. Ele, 25 anos mais velho do que ela. Viveram uma amizade "escondida" em amor. Vamos inverter! Duas pessoas que se queriam, mas que não passaram da amizade, e assim viveram 9 anos, até ironia de Deus morrer a mais nova. Ela.
O tempo do livro é depois da morte dela. Aquele que ficou, ele, confessa-se a ela que já não está. E ela, num tempo que não é o nosso, no limbo da eternidade confessa-se a ele que já não a ouve. 
Descobrimos que somos seres difíceis de compreender, seres que dificultam a sua própria vida, mas e o amor?
Pensamos demais? "Pára de pensar. Acabas por não entender nada"
Somos maldosos! "Porque a opacidade do mal é interior. Um muro desconhecido dentro do coração. Nunca vemos o mal que fazemos, só o mal que nos fazem se torna claro."
São desabafos de quem descobriu depois do ato de morrer que o amor estava mesmo ali. "A ti, garota marota, tinha-te já praticamente esquecido, quando tiveste o mau gosto de morrer."

E agora?
A história não é sublime, mas é contudo uma forma bastante original destas personagens se mostrarem. Diria até "despirem-se" por completo em termos sentimentais.
Como disse anteriormente o que fica desta história não muito sublime são as frases que cada um vai desfiando para se revelar a si próprio, ou o próprio sentimento pelo outro.
"Como podes ter vivido tanto e ser tão leve? perguntavas-me. Eu respondia-te apenas com sorrisos. Ai de ti, se descobrisses que viver demasiado é desistir da vida"

Hoje o exemplar de "Fazes-me Falta " que vou voltar a colocar na estante tem um ar mais colorido.
As frases sublinhadas a lápis da primeira leitura, as folhas com manchas amarelecidas do tempo, e as frases sublinhadas agora a cor.
Esta é uma história de amor. Não propriamente do amor regado pelo corpo, mas acima de tudo um amor da alma, destas almas que apenas se relembraram depois da morte intrometer-se entre eles.
" Enroscaste-te em mim e começaste a coçar-me as costas, muito devagar. Dormimos muitas vezes e muitas vezes assim - e nunca, nem por um segundo pensamos em fazer aquilo a que os inocentes chamam sexo. Falávamos muito disso, sim desse acto a que as pessoas vão chamando sexo ou amor consoante as convivências. Esse acto que as pessoas vão repetindo até à mais exaustiva solidão.
Nós não podíamos prescindir um do outro. Não podíamos entrar no infinito jogo finito do corpo. Derramei sobre a tua vida, por incontáveis noites, os meus breves amores prefeitos, pormenor a pormenor. E tu derramaste sobre a minha as tuas paixões impossíveis, impossíveis de apagar. Desejo-te tanto, ainda."
Sim, a história não é sublime... é muito mais do que isso!

E vocês, gostam de reler livros?

P.S - Este é o primeiro livro do ano para o projecto "Reler"
Fará também parte do desafio de leitura #lêportuguês do "Clube de Leitura Manta de História" que pretende ao Blogue (mantadehistorias.blogspot.com)  

 


6 de janeiro de 2021

 

PASSATEMPO NO BLOGUE 2021



E é assim! Um novo ano, coisas novas.
O livrista durante o ano de 2021 vai implementar todos os meses o tempo para o Passatempo.
No inicio de cada mês, vou indicar-vos o livro que estará para oferta.
Deixo já claro que, como ainda não tenho apoios das editoras as ofertas podem ser livros não novos, mas sem defeitos ou estragos.

O vosso objetivo será ganhar a oferta, e o objetivo do livrista é angariar seguidores e principalmente interagir convosco, e a melhor forma de o fazer é a vossa participação nos Post´s através dos comentários.

Assim sendo, para se habilitarem ao livro que tenho para oferta em cada mês e que anunciarei no início, basta isso mesmo... seguir-me e comentar as publicações... comentar as publicações e seguir-me.

Qualquer pessoa que passar a seguir o Blogue em cada mês fica habilitada à oferta. Quem já é seguidor pode habilitar-se comentando as publicações. 
Vou divulgando o vencedor de cada mês na publicação que farei no mês seguinte do livro que estará para oferta.

Espero que a dinâmica do passatempo seja simples e que nos possamos divertir e conviver ao longo do ano de 2021.


Para este mês de Janeiro o livro será UM HOMEM COM SORTE - Nicholas Sparks

Sinopse; Depois de um ano de interregno Nicholas Sparks regressa com o seu mais recente romance para encantar os leitores portugueses. Logan Thibault sempre foi um homem que em tudo se pode considerar comum. No entanto a sua vida estava prestes a mudar... A combater no Iraque, Thibault encontra a fotografia de uma mulher nas areias do deserto, e apanha-a pensando que alguém acabará por a reclamar. Mas ninguém aparece e, apesar de rejeitar a ideia, a fotografia passa a ser encarada como um talismã da sorte que faz com que Thibault sobreviva, sem ferimentos graves, a situações de indescritível perigo. De regresso aos EUA, o militar não consegue esquecer a mulher da fotografia decidindo procurá-la pelo país. Mas assim que a encontra a sua vida toma um rumo inesperado e o segredo que Thibault guarda pode custar-lhe tudo aquilo que lhe é querido. Uma história apaixonante sobre a força avassaladora do destino.