UM DIA - DAVID NICHOLLS
Não faço ideia dos anos que namoro este livro. Pode parecer até um pouco piegas, mas sempre que ele aparecia-me à frente eu incluía-o na minha lista de desejos.
Não vou explicar a quantidade de vezes que ele foi preterido por outros. Pela novidade do momento, pelo sinopse bem mais interessante, pela resenha extraordinária de algo que teria mesmo de ser lido.
"Um Dia" já esteve na lista dos livros lamechas que provavelmente não seriam tão interessantes assim.
Mas há luas e eu por vezes sou feita de luas, e numa dessas luas sem sentido encomendei o livro sem pensar, outra vez duas vezes e coloquei-o na estante à espera de vez.
A vez dele não demorou muito, devo dizer. Tenho outras relíquias que esperam à muito, muito tempo.
As razões porque o fiz agora também não as tenho. Aconteceu simplesmente, porque tinha de acontecer.
E o que devo dizer de "Um Dia".
Há muito tempo que não demorava duas semanas a ler um livro. Não sei porque o fiz, mas a verdade é que eu queria e não queria andar muito depressa. Queria saborear estas duas vidas da forma mais lenta possível.
O que dizer de uma história de amor entre duas pessoas que esperaram quase vinte anos para se encontrarem?
Que tiveram de ser amigos para serem amantes e que tiveram de viver outras vidas para puderem ser um para o outro.
Ian, no fim mata o livro com a maior realidade de todas. Emma iluminava-se na presença de Dexter, e conseguiu fazer dele um tipo decente. Ele (Dexter) conseguiu fazê-la feliz.
Confesso que Dexter foi a minha mala-pata deste livro. Ele nem sempre foi decente, nem sempre fez aquilo que devia fazer e muita vez daquela boca só saía asneira.
Uma vez ela (Emma) disse-lhe que o amava e sempre o ia amar mas que já não gostava dele.
A mãe disse-lhe isso, que ele não estava a ser a melhor pessoa.
Por isso, e por muitas outras coisas Dexter é a personagem que menos encanta. Porquê?
Porque no reverso da medalha está Emma, que cresce continuamente e é o motor de um amor abençoado.
É como um paradoxo. Dexter tem tudo para ser grande, e o que consegue "fama" vem tão depressa que se esvaí como veio. Vazio e sem sentido.
Emma, tem tudo para ser pequena e faz o seu caminho como se cada passo fosse o grande passo. Quando chega lá, ninguém dúvida que aquele lugar é dela, e que ela está onde sempre deveria estar.
Não acabei de lê-lo. Quando dei conta, só fui capaz de esconder a cara nas mãos, dizer uma asneira e começar a chorar.
Continuar a ler dali para a frente foi um sacrifício entre lágrimas.
Hoje, deitada no sofá, tomei a coragem de ver o filme.
É bonito! Gosto muito da atriz que interpreta Emma, mas filme é filme e livro é livro.
Está muito similar, chorei o que não ajuda. Ou ajuda não sei!
Quanto ao livro tem diálogos incríveis. Adorei os diálogos entre os dois. O namoro dissimulado através da conversa e a simplicidade da história mexe com qualquer um.
A lucidez da espera. A alegria de que dia, seremos e poderemos ser felizes.