ORGULHO E PRECONCEITO - JANE AUSTER
Há muito que oiço falar deste livro. Oiço e leio várias opiniões que estimulam a sua leitura.
Confesso que não sou de clássicos. Acho que nesse aspeto sou um pouco limitada. Não tenho grande lista de obras desse género. Já tive. Creio que as minhas primeiras leituras foram muito baseadas em clássicos.
Não sei se já referi aqui, mas os meus primeiros tempos de menina dada a leituras compulsivas foram suportadas pela Biblioteca Municipal e isso, acreditem, pode e é, uma grande vantagem. O limite do que podemos ler é esse mesmo, ilimitado.
Nessa altura, recordo que nunca fui muito inclinada para leituras próprias da minha idade, mas por estes mesmos clássicos que agora tenho tanta dificuldade em pegar.
Por norma, hoje em dia, são livros que ficam a meio e acabo por ficar um pouco dececionada comigo própria.
Leitura conjunta com o Clube Manta de Histórias, escolheu para Dezembro a leitura deste livro, e eu pensei que seria desta. Comprei uma edição da "BookCover" editora, muito bonita e muito acessível e descobri no site da editora outros clássicos que eu vou tentar aventurar-me no futuro.
Quanto a Orgulho e Preconceito. Bem! É melhor começar do princípio. É, não é!
Esta história tem um tempo próprio. O século é muito diferente do nosso, por isso a maneira de escrever, e a própria realidade social são diferentes.
Confesso que tive dificuldade no início em enquadrar-me nessa mesma realidade, e ainda andei no primeiro e no segundo dia a apalpar terreno na esperança fervorosa de não abandonar o livro.
Recordei as palavras amáveis de Virginia Woolf no seu ensaio "Um Quarto só seu". Na maneira como ela recorda a escritora Jane Auster, e na forma abnegada em como ela se dedicou à escrita.
Prossegui então, com alguns atrasos nos dias seguintes, mas cheguei ao ponto em que abandonar o livro deixou de ser uma opção.
Elizabeth Bennet, a personagem capaz de arrebatar o espirito, é das poucas personagens femininas da história com convicções, ideais e até com capacidade para compreender a realidade que a rodeia.
No entanto as aparências enganam. Aliás, as aparências enganam sempre, mas Elizabeth, mesmo com a sua capacidade em compreender os outros, é também arrebatada pela ilusão.
O seu relacionamento com Mr. Darcy, torna-se assim interessantíssimo por esta dualidade. Mais do que tudo pela sua própria capacidade em compreenderem-se um ao outro.
Não estava à espera de uma história assim. Tão pouco com um desfecho tão favorável para as personagens.
Acredito que naquele tempo essa realidade não era uma opção válida, mas alegro-me que o orgulho de um e o preconceito de outro, os pudessem aproximar, e não separar.
Que essa perceção mútua, foi também capaz de os fazer compreender as suas fragilidades como indivíduos e acima de tudo, compreenderem tudo o que teriam de alterar de si próprios para poderem estar disponíveis um para o outro.
Nos dias que correm seria uma história comum. Duvido mesmo até que seria uma história. Talvez esta última perceção não seja mais do que um erro de leitura da minha parte. As convenções sociais, embora mais esbatidas existem, e dificilmente as classes sociais se misturam. É certo, que hoje, quase tudo é permitido e aceite. Mas mesmo assim, não deixamos de passar por orgulhos e preconceitos.
Mr. Bennet, é também ele um personagem e tanto.
Não pela sua atitude benevolente e permissiva. Demitida até das suas obrigações de pai. Mas realmente pelo que pensa. A sua desilusão no próprio casamento é um sinal claro que o assunto é algo sério e não deve ser visto com leviandade.
O seu concelho a Lizzy, quando lhe dá o consentimento para casar-se com Mr. Darcy é tocante, e se o lermos condignamente, até acho que vale a pena pensarmos nele, no derradeiro momento de dizermos o "sim".
"E agora torno a dar-lhe o meu consentimento, se a isto está decidida. Mas aconselho-a a pensar melhor. Conheço o seu temperamento, Lizzy, penso que jamais seria feliz e equilibrada a não ser que estime realmente o seu marido, a não ser que o possa considerá-lo o seu superior. A sua vivacidade e inteligência colocá-la-iam numa situação de grande perigo num casamento desigual. Ser-lhe-ia difícil salvar a sua reputação e a sua felicidade. Minha filha, não me dê o desgosto de a ver impossibilitada de respeitar o seu companheiro de vida. Você não sabe a seriedade do passo que está a dar."
A capacidade de compreendermos o passo que estamos a dar é por vezes diminuta e os casamentos tem o fim à vista. Hoje em dia isso é perfeitamente normal e aceitável, naquele tempo, ficava apenas o desrespeito e a mágoa em casamentos iguais ao de Mr. Bennet.
Ele compreendia isso perfeitamente, a sua mulher fingia que não.