10 de junho de 2021

 



O VÍCIO DOS LIVROS - AFONSO CRUZ

(DIA 2)



Detesto notas de rodapé. Aquela informação útil que a ler nos desvia da própria leitura. Aquelas linhas necessárias mas que eu evito a todo o custo. Por vezes convém não nos desviarmos das notas de rodapé!

Abrir um livro é abrir pessoas e explorar o nosso próprio mundo através da experiência dos outros. O território inexplorado dentro de nós é acessível através dessa imersão em personagens que nunca fomos e jamais seríamos ou talvez venhamos a ser, e em vidas que nunca tivemos e jamais teríamos ou vidas que serão o nosso destino. As personagens dos livros que lemos são o meio de transporte para o que não somos, ou melhor, para o que somos sem ser. Creio que esta noção é fundamental: ser profundamente o que não somos.”

Já li livros que as personagens ultrapassam-me. A história é a base do livro, mas a personagem é a sua alma. Sentirmo-nos na pele deles é dar-lhes vida para além de uma folha de papel. É vê-los sair pela capa e caminhar ao nosso lado.

Quando encontro uma personagem assim, sei que não sou, mas posso vir a ser.


Sem comentários:

Enviar um comentário