ONDE CANTAM OS GRILOS - MARIA ISAAC
Este é um livro que vou colocar na minha lista das melhores leituras do ano.
Uma história simples com personagens puras. Colocar uma criança de dez anos como narrador dá-lhe um toque de inocência.
Depois há a terra. Aquilo que é muito nosso e está perdido no caminho das cidades.
Tem personagens maravilhosas e a inocência de Formiga não deixa de ser um escudo para o que aí vem.
Não é uma história surpreendente, não tem nenhuma formula mágica nem nada que se pareça, mas por isso mesmo, ou talvez só por isso é aquele livro que tenho vontade de chegar ao fim, mas que não quero acabar.
Assim, dividida entre dois mundos vou bebendo as palavras do Formiga, ansiosa para saber o que lhe acontece e o que acontece a todos que estão há sua volta.
Não tenho uma personagem pela qual tenha uma particular afeição e isso também é estranho para mim.
Vou variando entre o Formiga e a Clara, mas os segredos das outras personagens também tornam mais uma ou outra alvo do meu interesse.
Até a mais sumida no enredo tem um particular interesse - Ana.
E a D.ª Crisália. Esta personagem deixou-me de rastos. Já não me ria assim à muito tempo!
Bom! Há bem pouco tempo, num livro de Afonso Cruz, li uma frase da autoria de Kafka que me marcou profundamente. "Se um livro não nos magoa e esfaqueia não tem interesse."
Este esfaqueou-me. Teve a capacidade de me fazer rir às gargalhadas, e posso dizer que isso comigo não é muito comum, - posso sorrir, levantar ligeiramente os lábios, mas rir às gargalhadas é bem raro! - e teve a capacidade de me fazer chorar.
Maria Isaac consegue uma coisa extraordinária neste livro. A capacidade de construir personagens que são o espelho do ser humano. Com defeitos que podem transformar o mundo e empobrece-lo, mas que não são más.
Ela retrata o cinzento, não o preto e o branco.
Da inocência e ingenuidade do Formiga, muito mal veio ao mundo, mas ele não o fez sozinho nem à conta de uma índole maléfica.
Quanto à Matilde, não era mais do que um trigo ao vento, incapaz de perceber o tamanho do seu erro.
Vinte anos depois não são mais do que uma sombra do que foram por conta de uma noite que nunca deveria ter existido. A noite em que as suas acções inocentes e mesquinhas deixaram apenas o amarelo dos girassóis.
Clara, contudo ficou-me agarrada à pele e a autora nem teve a necessidade de lhe dar grande espaço no livro.
Mas o pouco que sabemos dela, das vezes que apareceu, do que fez e disse, a sua simplicidade e humanidade não me deixa margem. Foi a que esfaqueou o coração.
Gostei muito, Maria Isaac. É um livro de muita coragem!
Obrigada pela opinião.
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