1 de outubro de 2021

 


da meia noite às seis - patrícia reis




A Patrícia Reis tem uma escrita luminosa. Consegue abordar um tema, hoje em dia Universal, com um impacto ainda tão presente na nossa vida sem nos amargurar profundamente. 
O seu livro é uma ode à esperança no ser humano.

Um dos temas abordados e o mais presente é esta pandemia de Covid-19 que entrou dentro da casa de todos sem nos pedir licença. Os que foram infetados e que sofreram e morreram pela doença e aqueles que vão fugindo ao vírus mas não podem fugir à "bolha" criada em torno de tudo isto.
Quase dois anos depois dos primeiros casos terem sido noticiados, assistimos a uma escalada de mortes a nível mundial. A comunidades devastadas como se de uma guerra falássemos. 
Por curiosidade fui ver os números de mortes em Itália por este vírus, (131 mil) e comparando com a segunda guerra mundial (140 mil), deixa-nos no mínimo cabisbaixos.
Eu só posso lamentar. Vou lamentando diariamente, e eliminando da minha mente a profundidade da realidade, tal como fiz durante muito tempo em relação à segunda guerra mundial.
Depois deste tempo todo, acho que todos tentamos fazer o mesmo, e ao dia de hoje que escrevo esta resenha e que nas notícias ouvimos a palavra libertação, eu apenas olho para trás um pouco desastradamente e não sei muito bem como vou libertar-me. 
Será que posso? Será que realmente posso libertar-me?

Mas não é este o sentido que a Patrícia Reis quis dar a esta história. 
Ela quis dar-lhe uma ideia de esperança, uma ideia de pertença a um mundo que por mais que se desmorone, não morre.
Convenhamos, poderemos não caminhar para um café durante meses, poderemos não entrar dentro de uma discoteca durante anos, poderemos não visitar nem jantar com os nossos amigos, nem passar o Natal com a nossa família, mas nunca deixaremos de ser feitos de ternura e afinidade.
Este poder da ternura e da afinidade não se desvanece e é alimentado pelos estranhos que nos acompanham diariamente sem nos darmos conta. 

Patrícia Reis lê-se devagar, sem atropelos. Por volta da página 88, 90, tive de fechar o livro. Senti que se continuasse naquele momento, eu própria me desfazia na tristeza da Susana Ribeiro de Andrade. Aquela voz que era perfeita porque estava repleta de tristeza.

É o segundo livro que leio da Patrícia Reis, e sei que estou a perder muita coisa de todos os livros que ainda não li desta escritora.



1 comentário: