O LUGAR DAS ÁRVORES TRISTES - LÉNIA RUFINO
Esta é a história da mãe Lurdes, da filha Isabel e da sua irmã Luísa. Do pai delas, Joaquim, da avó Irene, e das irmãs Filomena e Alice. Esta é a história de um lugarejo sem nome e de uma aldeia próxima onde mora a tia Graça, a Senhora Eulália e a Juliana.
Este é um lugar que não tem nome, mas têm o cheiro da paz do cemitério, a tristeza no olhar, o segredo de uma vida inteira.
Ao ler este livro revi-me em muitas histórias contadas pela minha mãe, do seu tempo de criança e principio de ser mulher.
Aldeia pequena, lugarejo. Os outros que estão tão perto, os costumes tão enraizados. Uma linha tão ténue entre o pecado, maldição e desventura.
A vítima que não era mais do que a culpada do crime.
Um padre que leva tudo com mão de ferro. Que transforma um olhar em pecado e que controla os seus fiéis pelo medo e submissão. Será que a Igreja compreendia realmente a Bíblia e Jesus Cristo naquele tempo, ou no tempo antes daquele?
Transpor a linha da vergonha era mais fácil do que aparentava.
Eram realmente outros tempos. Eram muito diferentes dos dias de hoje, e este livro de estreia de Lénia Rufino, que entrou em casa de mansinho, na sua escrita simples, e corrida, com uma personagem pura e teimosa, abre-nos a ponta a essa realidade.
Esteve ali tão perto de nós. Foi a realidade dos nossos pais, daqueles que hoje tem, setenta, oitenta e que viveram no campo. Os da cidade, nem tanto.
Enquanto o lia, os vizinhos da minha mãe voltaram a ter o rosto que eu lhes via quando era miúda.
Tenho histórias destas no meu colo. São depositadas de quando em vez pela minha mãe, na sua alegria de recordar a infância e a juventude. Tempos difíceis, diz ela muita vez, mas os tempos que era recorda com mais amor.
Acabei o livro ontem, mas não fui logo a correr escrever a resenha. Queria tempo para pensar no que li, e o que li é imenso. É um mundo que hoje habita dentro daquele lugar das árvores tristes, naquele lugar que quando vou pôr flores na campa da minha avó eu encontro nas campas dos mais antigos.
Naquelas fotos tiradas tipo passe com fato domingueiro.
Naquelas pessoas que, sempre que passamos por lá a minha mãe conta, esta é "fulana e fulana, morreu disto e daquilo, aconteceu aquele outro e mais isto."
Não sei como conseguiste, Lénia Rufino, mas está cá tudo.
É um belo livro.
Fiquei muito interessada nesta leitura.
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