6 de maio de 2021

 


UM HOMEM CHAMADO OVE - FREDRIK BACKMAN



Depois de muito ouvir falar de Fredrik Backman - e a culpa é de @o.meu.refugio e @booksbynadia (podem segui-las no Instagram) - lá fui eu alegremente ler o meu primeiro livro do autor.

Se virarem o livro encontram na contracapa entre outras coisas a seguinte frase "uma leitura perfeita para os momentos de lazer." Não sei se o poderei pura e simplesmente considera-lo assim. É sem dúvida uma leitura perfeita mas proporciona-nos mais do que momentos de lazer.

Só que o assunto tornou-se complicado e eu estou aqui à frente de uma folha em branco. Acabei de pousar o livro e de  ler a última página e a única coisa que me ocorre é porra!, que livro!
É isso mesmo! Que livro. Que autor!
Ove é uma personagem tão bem construída. Um velho embirrento e permanentemente zangado com a vida e com os outros.
O humor negro dele é desconcertante.
Com o tempo vamos abrindo o véu para aquilo que foi a sua vida e descobrimos não um homem zangado e rabugento, mas um homem cansado e em luto. 
Ele tenta inúmeras formas de por fim à sua vida. Mas as circunstâncias, os outros vizinhos que se intrometem, as guerras que tem de travar, adiam invariavelmente a sua vontade de voltar para junto da mulher. 
Ele não se fez sozinho! Sonja, a sua falecida mulher é a personagem mais bela de toda a história. Ele levita em torno dela.
Este "velho rabugento", construiu um história de vida com a sua Sonja que foi repleta de infelicidade e amargura, mas os dois, nos seus feitios tão distintos, souberam preservar o amor que tinham um pelo outro.
Sonja, a mais sacrificada, mostrou a Ove que a vida tem cor, seja de que forma for.
Ela era a mão que o acalmava, ele o braço que a cuidava.
O mais surpreendente era a relativa diferença entre os dois. Não eram almas gêmeas, mas almas que nas suas diferenças se complementavam.
Ler este amor foi ler a coisa mais terna e tocante deste livro.
"Mas se alguém lhe tivesse perguntado, teria respondido que, antes de a conhecer, não tinha vivido. E, depois de a perder, tão-pouco."

Para além da particularidade do amor, temos a particularidade da personagem. Ove.
O que podemos dizer de Ove? Rabugento não! Isto para ser simpática.
Mas... "Ove não via as coisas dessa maneira. Apenas achava que a ordem das coisas devia reger-se por uma certa consistência. Achava que não se devia viver a vida como se tudo fosse substituível. Como se a lealdade não valesse nada. Hoje em dia, as pessoas trocavam tantas vezes de coisas que a mestria de preservar a sua durabilidade se tornara supérflua. Já ninguém dava importância à qualidade."
Ove era mais do que rabugento. Era um homem leal, honesto, fiel e direto. Prático e sem mediocridade.
Não tinha absolutamente nenhum jeito para morrer.

É um livro insubstituível. Na ternura que demonstra. Na preservação de uma forma de ver o mundo e os outros. Até nas tiradas e frases de Ove, que nos fazem rir a bom rir, sempre que ele diz "porra", ou "raios partam isto."   
À dias que ando com estas palavras na boca.
As pessoas dizem que Ove não passa de um "Cota Rabugento", e para dizer a verdade se me aparecer um Ove à frente seria capaz de pensar o mesmo.

A história de amor entre ele e Sonja é belíssima.
"As pessoas dizem que Ove via o mundo a preto-e-branco. Mas ela era cor. Toda a cor que ele tinha."

P.S. - Se tivesse pura e simplesmente entrado numa livraria e procurasse um livro para ler, dificilmente teria comprado este livro.
Ultimamente ando assim. Títulos que por minha iniciativa própria eu nunca iria comprar, revelarem-se histórias incapazes de esquecer.
Agora graças a @o.meu.refugio e @booksbynadia, não vou largar este autor tão facilmente.

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