O BOM INVERNO - JOÃO TORDO
Falar deste livro é muito complicado. É uma história virada ao contrário.
Um narrador sem nome. Um escritor que perdeu o caminho das linhas de um livro.
Acho graça ao seu despreendimento em relação a esse facto. Completamente disponível para entregar-se ao vazio.
Curioso também a maneira como sai dele.
A necessidade de dinheiro. A realidade que lhe bateu à porta e a necessidade de pagar contas. Somos sempre atropelados por esta conjuntura chamada dinheiro, deveres, obrigações.
A partir daí ele vai na irracionalidade da situação e tudo passa a ser irreal.
Estou inclinada a pensar que não passou de um sonho. Quem sabe o narrador sem nome nem saiu da sua cama e sonhou tudo isto.
Podemos misturar-nos com o irreal, não podemos? Afinal um livro é um livro e um livro é único e o que eu li, não será, concretamente o mesmo que o outro leu.
Por isso eu estou inclinada para esse ponto. O narrador precisou de um fio condutor que o tirasse do vazio e o levasse de volta às linhas sólidas da criação e esta era a melhor estrada para o fazer. Fê-la tão bem que foi dos poucos que sobreviveu.
A escrita de João Tordo está lá. Porventura menos trabalhada, por vezes menos conseguida, mas o exemplar que eu tenho na minha estante já tem doze anos. Ele já caminhava e já tinha rasgos de genialidade.
Li este livro como leitura conjunta do "Clube Manta de Histórias".
Li-o em conjunto, provavelmente com centenas de pessoas que trocaram nas redes sociais opiniões especificas de determinadas páginas.
Como cada um somos apenas "um". Únicos como o autor diz a certa altura, invariavelmente a minha opinião será diferente das demais.
Voltando um pouco atrás, há parte da irrealidade, Bom Inverno foi um sonho, Bom Inverno nunca existiu.
Pelo menos terminou a sua angústia de não conseguir criar.
Pelo menos devolveu-lhe a saborosa sensação de sentir-se desperto daquele vazio que o consumia até aos ossos da perna.
Mas esta é apenas a minha humilde e despachada opinião.
E a vossa, qual é?
"Um marca de finitude"
"Vai àquela sala e pergunta a cada um deles onde é que fracassou; pergunta-lhes onde se encontra a sua prova de finitude. Todas a carregamos connosco de uma maneira ou de outra, porque estamos agora e para sempre predestinados ao fracasso."
Esta ideia de fim (finitude) e fracasso, como se o fim fosse o resultado do fracasso é interessante.
Nesta perspetiva todos nós fracassamos, porque a finitude faz parte do ser humano.
É lá que se encontra a nossa passagem estreita que nos limita para todo o sempre.
Provavelmente nunca deveríamos perder de vista a possibilidade de finitude. Vê-la apenas como uma possibilidade é mantermo-nos ébrios perante a realidade.
Mas esse é um jogo perigoso demais para o dia-a-dia.
Esse é um jogo que nos poderá levar ao fraco domínio de nós próprios. Esse jogo não é para todos!
Nunca li. Obrigada pela sugestão e opinião.
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