TRILOGIA - JON FOSSE
Porque os sentidos também precisam de ser acarinhados, e a propósito deste livro, quero referir o toque.
Se algum dia o tiverem na mão, compreendem do que falo. Esta capa cor de vinho, aveludada, grita ao toque com carícia.
Quanto ao livro propriamente dito é composto por três novelas que se enlaçam entre si. Uma parábola de inspiração bíblica sobre o amor, crime, castigo e a redenção.
Nos últimos tempos, as minhas leituras tem sido lentas. Uma alteração no metabolismo ou a necessidade de reter com outra perspetiva as próprias narrativas.
Considero-me uma má leitora, carregada de impulsividade e pressa. Os textos sofrem com isso, eu mais do que eles, pois não retenho a escrita na sua essência.
Tenho uma necessidade da história, e sacrifico o interesse pela escrita propriamente dita.
Trilogia de Jon Fosse, caí desgarrada, novamente lida com pressa e impulsividade, num domingo pachorrento em que a chuva ameaçava mas não vinha e o vento ralhava, sabe-se lá porquê e para quê.
Desconfiei de início. As palavras não estavam no sítio onde normalmente estão e eu aconcheguei-me no sofá, suspirei aborrecida e pensei; este vai dar trabalho.
Deixei-me estar, por vezes, basta adaptarmo-nos às regras de Jon Fosse. Tirando a irritação do diz ela e diz ele constante, é dificil pousar o livro.
Vígilia fala de amor e crime; Os Sonhos de Olav de castigo; Fadiga de redenção.
A poesia da narrativa é sublime e simples. Cheguei mesmo a perguntar-me; será que é só preciso isto? tão pouco e tanto ao mesmo tempo? Esta simplicidade de texto, por vezes tão desconexo, frágil e profundo.
Esta familiaridade com a história bíblica do nascimento de Jesus, reproduzida como uma pintura sobre a outra, separa-se por uma linha ténue. As escolhas.
Talvez, talvez, a necessidade seja subverter deus nas nossas próprias escolhas e assim, encontrar uma expiação entre o que somos e o que não conseguimos ser.
Aida e Asle são ingénuos e puros à sua maneira. A solidão que os atinge suportam-na, com palavras não ditas, gestos e escolhas de cada um. Estão um para o outro, não pelo amor que os une, mas pelo mito do destino.
Não posso complicar o que está por si só, simples.
Acreditei que não, mas agora não é só o toque da capa que me agrada.
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