12 de junho de 2022

 


BONJOUR TRISTESSE - FRANÇOISE SAGAN




A primeira leitura foi há vinte anos. 
O que senti na altura foi tão pouco que releguei o livro para a estante dos esquecidos. Na escolha desses esquecidos, resgatei-o recentemente para nova releitura. Não o faço com frequência, mas nada recordava da narrativa e pensei; e porque não? será que ele é assim tão insignificante como pareceu?
A idade parece subjetiva, a autora tinha dezoito anos quando escreveu este livro, e ele diz-me mais hoje, do que quando eu tinha, mais ou menos essa idade. Confuso? Nem sempre foi fácil...

Bonjour Tristesse é um sussurrar na nossa alma na voz de Cécile. Quase que a definia como doce, mas Cécile, é acima de tudo, inconstante. Talvez por isso, tenha sido tão dificil para mim, há vinte anos reconhecer a minha própria inconstância. Incapaz conotei-a como pouco. 
O que deslumbra neste livro, hoje, é essa possibilidade. Assumir a fragilidade da minha própria juventude, que à sua maneira estará sempre associada a instabilidade, presunção e desorientação.
Debatia-me durante horas no meu quarto para saber se o medo, a hostilidade que Anne me inspirava presentemente, se justificavam, ou se eu não passava duma rapariguinha egoísta e mimada, disposta a uma falsa dependência.

Cécile era uma rapariga de dezassete anos que vivia num mundo de excessos. Órfã de mãe, com um pai boémio que só privara nos últimos dois anos, conheceu com ele o significado do vazio, da excentricidade das relações fúteis e do álcool. 
A viverem em Paris, partem para a Costa do Mediterrâneo para semanas de férias com a amante do pai.
Anne Larsen junta-se a eles, mas Anne é o oposto dos dois e é nessa dissemelhança que Cécile se desoriente. Porquê?
Anne representa o fim de algo que Cécile não tem capacidade de abdicar, contudo, é precisamente esse algo tão subjetivo que carrega a rapariguinha de dúvidas. 
É aqui que sobressaí a sua inconstância, e foi aqui, que há vinte anos, inconstante como ela, não lhe soube dar valor, nem compreender o significado do que ela dizia.
Anne fascinava-a. O mundo de serenidade e paz que Anne oferecia-lhe, era-lhe tão dolorosamente belo que Cécile teve medo dele. 
A fuga a esse mundo teve consequência graves para todos eles e Cécile descobriu que a manipulação, os ideais retorcidos e a busca do prazer, são faces da mesma moeda.
Este relato sussurrado de Cécile, nada mais é, do que o grito da solidão e das más decisões. Não sou eu que o digo, é ela que o assume. 

É uma história crua, como descortinador da alma e retrato da palavra tristeza, é simplesmente perfeito. 







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