DEUSES DE BARRO - AGUSTINA BESSA-LUÍS
O meu principio com Agustina Bessa-Luís é o seu princípio.
Deuses de Barro foi escrito pela escritora aos dezanove anos e manteve-se até hoje inédito.
No prefácio, Mónica Baldaque refere que Agustina enviou-o ao escritor Sousa Costa, pedindo-lhe um prefácio ao qual ele lhe responde que não o faria e aconselha-a; "a que escreva um novo romance, a que nos dê um novo trabalho a prova real das suas possibilidades"
Escreve outra coisa Agustina, mas não deixes de escrever, parece-me a mim o que está implícito na sua resposta. Talvez a frase que em consciência qualquer escritor amador/iniciado precisa de ouvir.
Agustina fez-lhe a vontade e escreveu, escreveu muito.
Deuses de Barro não é um livro que ficará na memória; escrito em três ou quatro meses quando Agustina tinha apenas dezanove anos.
Nenhuma personagem é digna de lembrança ou sequer transmite piedade, complacência, amor ou generosidade.
Nenhuma delas figurará no quadro daquelas personagens que nos machucam e deslaçam.
A pobreza e a riqueza que as coloca estanques em cada submundo, não lhe dá nenhum travo amargo ou doce, e a Ana, o José Maria e a Maria José são apenas futilidades presas à condição de si mesmas.
Agustina apanha esse vazio; aí está a genialidade desta narrativa. O retrato perfeito do mundo de castas e sociedades. A educação que cria abismos entre seres e os difere e limita.
Nem os Deuses nivelaram a humanidade, só poderiam ser Deuses de Barro.
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