23 de outubro de 2022

 


O DESPERTAR - KATE CHOPIN





"O pássaro que se alcandorar acima do plano horizontal da tradição e do preconceito tem de ter asas fortes. É um triste espectáculo ver os que fraquejam adejarem de volta à terra, contundidos e exaustos."

Um dos melhores livros que li este ano. Esta história simples contada com subtileza sobre a condição da mulher numa sociedade feita por homens e para homens. 
Eles decidem até ao fim; dispõem as cartas e baralham as ilusões e o pássaro que tenta voar, que se predispõem a inverter a tradição e o preconceito acaba por cair.
O triste espectáculo final faz lembrar um comentário que ouvi em tempos sobre os contos de Maria Judite Carvalho; "por mais que tentem, elas, nunca conseguem."

Edna nada consegui; não porque não tentasse. 
Nestas páginas assistimos à tentativa de transformação da mulher; a visão clara, as perceções e as realidades mais primitivas. 
Edna caminhou sobre elas com a inocência da descoberta, ciente dos olhos reprovadores da sociedade que a poderia marginalizar. 
Bem perto do fim, Edna responde a Robert aquilo que eu esperava ouvir da sua boca quase desde o inicio do livro. 
Falhava-me a compreensão; como esta mulher teria a capacidade de redescobrisse a si própria, apenas para servir outro homem, ou outro amor?
"Foste um rapaz muito, muito pateta, perdendo o teu tempo a sonhar com coisas impossíveis, quando falas em que o Senhor Pontellier me libertar! Eu já não sou um dos pertences do Senhor Pontellier de que ele possa ou não servir-se. Eu dou-me a quem eu quiser. Se ele dissesse, "Toma, Robert, fica com ela e sê feliz: ela é tua", eu ria-me na cara dos dois."

Pois é! A descoberta ia para além da palavra servir, e a Robert outros valores demoníacos soaram mais fortes; Edna sem opções - voltar a trás estava fora dos limites da sua natureza - restou-lhe o sacrifício de si própria em troca de si mesma. 
Eu sei! É uma dualidade o que acabo de escrever, mas são duas coisas diferentes. O eu como pessoa e o eu como alma humana; o estar e o estar sem estar.
Edna já não estaria por isso cedeu.  
    


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