Valéria ao espelho - Elísabet Benavent
"A minha geração já se sentia muito livre; éramos mulheres trabalhadoras, com preocupações intelectuais e um certo grau de ambição profissional. Controlávamos a maternidade, relegando o papel de mães para o momento em que nos apetecesse, se nos apetecesse. Estávamos bem formadas academicamente e preparadas para o mundo laboral. Falávamos de sexo com naturalidade e já não dependíamos de ninguém. Mas... em muitos casos, isto mais não era do que uma enorme falácia. A verdade é que continuávamos a depender de forma doentia dos homens no plano sentimental..., questão que afectava tuuuudo o resto. Lola era, sem dúvida alguma, um exemplo de mulher evoluída."
Arriscadamente e como tem sido sempre o meu defeito fui a correr ler a Valéria ao espelho, para não deixar esfriar a paixão e a dependência causada pelos Sapatos de Valéria.
Com tudo encaminhado no primeiro livro, achava eu (ignorância pura!), que este livro seria um edílio de felicidade de todas as personagens. Bem! Não de todas... Mas dentro das expectativas de cada uma considerava que talvez a mais difícil de realizar seria a de Carmen. (Puro engano!)
Pois bem! Nada disso... engane-se quem vai para este segundo livro da vida de Valéria a pensar que vai acompanhar ao vivo uma lua-de-mel constante e a felicidade permanente.
Gostei particularmente do primeiro livro e o já referi aqui no Blogue. Foi talvez dos Post´s que mais prazer me deu em escrever de tão entusiasmada estava com a leitura.
Considerei o livro fantástico pela forma como foi contada a história. Considero que a forma estóica como a Valéria "resistiu" ao avanços sedutores de Vítor, tornaram toda a história apetecível.
Dos outros sentimentos já referi no outro post, e não quero repetir-me, até porque ele está mesmo há mão de semear para quem queira deitar uma vista de olhos.
Neste Valéria ao espelho, a minha sensação já é mais contraditória, e o livro nem sempre me agradou.
Começou por ter uma primeira parte carregada de sexo, e sem conteúdo. Aquilo que tinha sido trabalhado com paciência no primeiro livro tornou-se nesta primeira parte do livro bastante corriqueiro e aborrecido.
As personagens evoluem pouco até meio do livro, e a relação de Valéria e Vítor torna-se bastante repetitiva.
A sorte são as amigas de Valéria, que nesse entretanto começam a definir as suas próprias personagens.
Carmen avança para a sua relação com Borja de uma forma mais madura (nunca pensei!), Lola, assume o comando da sua vida sentimental (coloca Sérgio no seu lugar), e volta a ser a mulher que é e sempre será, e Nerea tem um percalço na sua relação com Daniel que lhe começa aos poucos a abrir os olhos para as suas fragilidades.
No entanto Valéria parece-me contraditória e as suas atitudes começam a desafinar.
No final dos Sapatos de Valéria a personagem acaba com o seu casamento de 6 anos com Adrián.
Sem pensar Valéria, segue o seu romance com Vítor, e essa relação começa a ser regulada pelo medo.
Medo de estar a ser usada, medo dos seus sentimentos, medo de se perder mais uma vez.
Com tantos medos e tantas dúvidas, Valéria abandona Vítor sem razões aparentes quando tudo estava a ficar encaminhado para uma relação duradoura.
Vítor que começava a aprender a amar e a assumir compromissos...
Não culpo Valéria... Vítor mostra-se nos pontos chave também ele contraditório e deixa Valéria meio perdida.
Confesso que em muitas passagens do livro, não entendi nem as reacções nem as atitudes de Valéria.
É a personagem mais insegura da história, e neste livro, demonstrou em certas alturas alguma banalidade.
Demasiado receosa a partir de certa altura, paga caro a sua impetuosidade inicial.
Para Valéria o final do livro tem um sabor amargo porque já nada será como foi! A desconfiança mata, o medo mata!
Pela positiva temos a história de Carmen, que a meu ver foi a mais bem conseguida em todo o livro. Ainda nos ensina muita coisa.
P.S.
Tal como no Post que escrevi sobre Os Sapatos de Valéria, também neste quero deixar um aparte.
Não considero que estes dois livros serviam como fim maior julgar ninguém, nem sequer as atitudes das suas personagens.
Também não me considero ninguém para saber se a vida da maioria das pessoas é assim ou não, nem tenho e nem quero fazer juízos de valor. Acho que estas histórias de Valéria não servem para isso.
Apenas sou uma pessoa que gosta muito de ler e escrever sobre o que leio, e que tenta fazer uma crítica construtiva daquilo que eu penso do livro que li.
Também considero que a leitura para além de ser um prazer, também nos deve ensinar alguma coisa e ver aquilo que se passa há nossa volta com outros olhos.
Sei, por experiência própria que a cabeça da mulher deriva muito da sua natureza, e que a evolução do próprio conceito feminino não retirou á mulher a capacidade de amar e muito menos a dependência sentimental.
Apesar de todos os riscos e de todas as perdas que isso traz há Mulher, é sem dúvida um bem maior!
Haverá mais livros de Valéria, isso é certo.
Temos mais de 600 000 exemplares vendidos só em Espanha e uma série na Netflix que promete ser um sucesso.
O meu profundo desejo é que Valéria no próximo livro, recupere, sem perder o seu prazer (porque também a isso temos o direito), o equilíbrio.
Depois disto, bora lá ver a série no NETFLIX!!!!
Hãaa! Três vivas há Lola... personagem descomunal!