13 de junho de 2020


Chuva Miúda - Luís Landero



Tudo na capa merece a compra do livro. Adoro as capas dos livros!
Um cavalinho de madeira da nossa infância e duas frases do escritor Manuel Vilas que mereceram a minha atenção.
Nunca considerei que o livro pudesse desiludir, e a verdade é que se revelou de variadíssimas formas.

Uma família aparentemente normal com três filhos. Uma mãe que fica viúva cedo. Caminhos que se cruzam e descruzam sem soluções.

A personagem que mais impressiona é Aurora. A sua capacidade de encaixar é estóica. Pela sua originalidade, creio que é a mais bem conseguida. Não encontramos no nosso caminho muitas pessoas assim.

O livro acaba por nos ser demasiado familiar, expõem-nos até nas nossas fragilidades.
Dei por mim a relembrar certas situações de conflito familiar e a entender que a maioria dos nossos caminhos não são construídos por atitudes boas ou más, mas muito depende como cada um de nós encara o momento e enfrenta o perigo.
Um acontecimento têm várias leituras, tantas quanto o número de pessoas que o assiste.

Sónia, Andrea e Gabriel, os três irmãos que crescem com uma mãe viúva. Todos juntos, não tem o mesmo conceito da realidade que existiu e as suas memórias e lembranças são tão dispares e difusas que nos ariscamos a opinar que não viveram a mesma realidade. Mas viveram!
Aurora, mulher de Gabriel é a confidente de todos eles. 

Rancor, é a palavra para os definir aos três.
A meio do livro, lá pela página 127, cheguei á conclusão que Sónia e Andrea eram aquelas que nunca se contentavam com nada e Gabriel aquele que se contentava com pouco.
Mudei algumas vezes de opinião, especialmente em relação ao Gabriel.
A mãe no entanto é a que menos desabafa, a que menos se expõe nos seus sentimentos, mas a que é mais exposta pelas filhas. Tida como fria e sem amor, é a desculpa perfeita para os erros cometidos, e as vidas perdidas.
O seu comportamento pode ou não ser justificado, depende do ponto de vista de quem lê. Uma liberdade que o autor nos deixa.
A mãe é uma personagem de extremos... ou se ama, ou se despreza. 
É também uma personagem forte, alguém que teve de fazer de mãe e de pai, colocar comer em casa, dinheiro, educar e pensar no futuro. Faltou-lhe o amor declarado, a palavra amiga, o carinho, um beijo, um abraço. Mas tem de sobra convicção, capacidade de se reinventar, arregaçar as mangas e caminhar em frente.
A perfeição humana é algo que nunca alcançaremos.

Sónia escondeu-se na dor, Andrea revoltou-se no seu imaginário, e Gabriel criou um mundo de teorias filosóficas para fugir da realidade. 

Todos eles fogem... 
A falta de capacidade que tiveram para viver. A desordem das suas vidas. Os seus sonhos desfeitos. Os erros cometidos. A culpa nos outros.
Todos nós em demais ou em de menos nos sentimos assim. Faz parte da vida.
Aquilo que eu vejo e sinto, apesar de ser aquilo que quem comigo partilha o momento, não é aquilo que eles vem ou sentem.
A desordem deles é que nunca saíram deste pé. Ficaram agarrados a esta muleta da culpabilização alheia para as suas desgraças e a vida passou por eles, sem se darem conta.

O ciúme. O egoísmo...
Aurora apresenta-se como a personagem normal dentro da anormalidade familiar, mas sucumbe ao peso do sofrimento e egoísmo alheio. Está ali para ouvir, ouvir e ouvir...
Todos estão tão preocupados com os seus próprios dramas, que se transformam em egoístas e não tem qualquer empatia pelos outros. Têm alguma, mas muito pouca. Breves frases... nenhum gesto!

Luís Landero é extraordinário nisto. Numa história sem grande enredo, mostra-nos de uma forma ligeira, a verdadeira natureza de todos nós.
Aquilo que eu vivo e como o vivo e assimilo para mim própria é bem diferente daquilo que quem vive ao meu lado vive e assimila.

Isto explica muita coisa! Aí se explica!

Uma nota especial á capa do Livro!
Gosto muito das capas dos livros. São a minha primeira paixão! Compro livros pela capa. 
Esta é verdadeiramente bonita!  




Sem comentários:

Enviar um comentário