A VIDA NO CAMPO - OS ANOS DA MATURIDADE - VOL.II - JOEL NETO
Cheguei ao fim deste livro, sentada no sofá da minha sala, com a lareira acesa e a desejar estar noutro lugar qualquer. A desejar ser outra pessoa. Talvez não outra pessoa, mas a desejar ter outras opções de escolha.
Hum! Não será uma questão de opções de escolha. Será a capacidade de procurar essas opções de escolha.
Falamos de um diário. Este é o segundo volume, mas entra na pele e percorre as veias do meu sangue com tanta intensidade como o primeiro.
E tenho de parar a meio, para degustar as suas palavras na minha boca. Tenho de largá-lo a um canto e descansar os olhos noutras histórias ao mesmo tempo, que os diários de Joel Neto têm duas maneiras de ler.
Em degustação como fiz com a Primavera e o Verão e em compulsão como fiz com o Outono e o Inverno.
E qual é a primeira conclusão que eu tiro?
Que sinto-me um pouco invejosa!... Muito invejosa.
Que também eu queria esta "vida no campo" para mim.
Um bocado de chão. A promessa de um jardim e um pomar. O trabalho perfeito. Os livros, as linhas, as letras, as frases.
A sabedoria de alguém que já aceitou o caminho da aprendizagem.
O tempo para a escrita.
A compreensão de quem está ao nosso lado porque está no nosso "eu".
Os outros!
Sempre os outros.
Quantas vezes parei e olhei as palavras e li mais do que aquilo que está escrito. O seu significado.
Inverno, necessário, possível, sublime.
Quase que lhe sinto o cheiro a terra quando a chuva caí.
Da minha janela tenho um deslumbramento de um rebanho de ovelhas. Para os tempos que correm, olhar para a janela e não ver o prédio do vizinho, nem o cinzento das ruas, nem o dilúvio das cidades em dias de chuva já é, por si só uma bênção.
E eu sou agradecida por isso. Mas por vezes, também essa pequena bênção, não me basta.
Dentro do meu corpo eu anseio por mais do que isto. Um planalto a perder-se de vista onde o barulho ensurdecedor dos balidos e chocalhos das ovelhas seja tão forte. A paz reconfortante da minha própria alma.
"Viver aqui também. Viver noutro lugar qualquer. Em qualquer lugar - em todos os lugares. Podíamos ter vivido tantas vidas. Podíamos ter sido tanta gente que já não seremos. Como é que as pessoas conseguem lidar com isto sem literatura, afinal?"
É uma pergunta que Joel Neto faz sensivelmente no início do Outono.
Eu não sei o que vai nas vossas cabeças, mas na minha não existe qualquer dúvida.
Sem a literatura e a própria imaginação. Sem o paralelo de outras realidades e fantasias somos apenas seres incompletos.
Falo por mim, claro!
Quero tanto ler estes livros!!!
ResponderEliminarSão verdadeiras perolas Carla. Vale mesmo a pena ler.
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