CADERNOS DE LANZAROTE I - JOSÉ SARAMAGO
A arte não avança, move-se.
Neste pequeno diário, Saramago brinda-nos com esta frase no primeiro dia.
O que transpira destas páginas é um Saramago, ilustre Nobel da Literatura, similar ao comum dos seres humanos; transborda humanidade, perspetiva, compreensão e não esquece.
O bom e o mau também. E porque não?
Dentro do seu casulo sofre com as injustiças, ironias e cinismo que o rodeia. Não esquece os desagravos sofridos e gosta, adora todos os momentos de êxtase, de gloria e triunfo.
É claro o luxo e o desvelo que ele coloca nessas vitórias, tornou-se claramente presente.
Sempre muito exposto, sempre muito crítico, neste livro ainda sofre com a loucura associada ao Evangelho Segundo Jesus Cristo. (Confesso que quando li o livro, muitos anos depois da sua edição, custou-me reconhecer toda essa celeuma.)
Tenho curiosidade em ler os diários seguintes para compreender se essa insistência se esbate ou não.
Não que o condene. Nada o crítico.
Por muita glória associada, foi deveras cansativo ler o que o escritor passou por escrever um livro. As perguntas, as cartas recriminatórias, a maneira austera com que Portugal encarou toda esta situação.
Saramago foi um sugador de prémios, mas foi renegado em Portugal.
Há quem lhe dissesse que ele teve sorte, que lhe deu fama e fortuna; pelas suas palavras ao longo deste livro, eu acredito que ele trocaria toda essa fama e fortuna pela alegria de se sentir em Portugal.
Neste livro, algo me desilude. Não Saramago, talvez a minha expectativa fosse outra. O livro centra-se no quotidiano do escritor e no ano de 1993.
Ao quotidiano a que o livro diz respeito, assistimos a viagens, congressos, feiras do livro, entregas de prémios mas a escrita esbate-se. Não sei se o sei interesse fosse precisamente não falar dela; os outros diários, quando os ler, logo o confirmarão.
Por vezes, pareceu-me um pouco maçador e senti um cansaço mutuo, talvez porque eu queria ler sobre escrita.
Tenho de ler mais Saramago...
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