O FUNERAL DA NOSSA MÃE - CÉLIA CORREIA LOUREIRO
O amor é um sentimento ambíguo, esponjoso, volátil, maligno, mas redime.
Amar alguém pode ser destrutivo, apaziguador ou cruel.
Célia Correia Loureiro encontrou esse caminho nesta história; estas personagens demoraram a sair da pele, com toda a certeza.
Classifico-o, no mínimo como intenso.
Não gosto de dar pontuações, como se fosse uma professora dos bancos de escola em que avalio e atribuo notas diante do meu discernimento. Não tenho competência para isso, e tenho para mim que os livros não devem ser avaliados, nem tão pouco comparados entre si.
Gosto de carregá-los de adjetivos, pisando as regras do bom escrever que nos ensina a moderar.
Um desfile perante as possibilidade da palavra amor; até que ponto ele nos condena ou absolve? Seremos puros quando experimentamos o amor, ou é nesse ponto que o deixamos de o ser?
Confesso que a determinada altura temi pela existência de história a mais - algures na descoberta do filho da outra - e, com tantas páginas por ler, tive uma leve sensação de mais, em detrimento do menos.
Que essa história a mais iria acabar por se diluir e perder no emaranhado de tantas memórias comprometedoras.
Célia Correia Loureiro parecia ter descoberto a tampa do poço da imaginação e não sentiu necessidade de a voltar a fechar, deu livre arbítrio às escolhas que a história lhe dava e cedeu a todas as suas vontades - acabo de ler um post da Célia em que escreve "não sou eu que mando na escrita, é ela que manda em mim"
E o que é esta história? O amor destrutivo.
Perante tantos disparates nunca consegui condenar a Carolina. O amor tem trilhos que não se coadunam com a honestidade. Não todos os dias, não em todos os momentos. Acima de todos os males ela era pura e amava.
Foi claro para mim que Lourenço também a amava, sempre a ela e nunca à outra. Tão claro que a outra também o sentiu quando os viu juntos pela primeira vez; tão claro que cedeu sem luta.
Ingrid nunca lutou por um amor demasiado frágil; aos seus olhos cresciam sentimentos que ela não experimentara e dos quais Lourenço não compreendia.
Ele não compreendeu de imediato a grandeza do amor que se estendia a seus pés, mas sentiu qualquer coisa dentro de si para não a rejeitar poucos momentos depois de ter rejeitado a outra.
Quando a classifico de pura, também o faço pela maneira como se puniu, acredito que Carolina nunca se perdoou a si própria e considerava o seu ato tão vil que nunca teve palavras para o justificar. A forma como se justificou foi tão parca que denotava a falta de fé em si própria.
A história acaba por se revelar não a mais, mas com a sabedoria de quem sabe encaixar as peças do puzzle com a medida certa.
O caminho que se fez com os pais até se chegar aos filhos.
Elas e ele; filhos do mesmo pai, de mães diferentes que carregam os traços, as virtudes e os defeitos de quem os gerou.
Também eles não fogem à imensidão da palavra amor e de toda a sua vulnerabilidade.
Gostei muito @celiacorreialoureiro
Cheguei aqui através do Goodreads. Foi das reviews que mais me tocou. De vez em quando, sinto que um leitor captou a essência das personagens melhor do que eu. É natural que nos sintamos confusos diante deles e das suas opções - tal como nos sentimos diante dos outros, das pessoas de carne e osso. Obrigada, foi muito gratificante. Beijinhos,
ResponderEliminarObrigada Célia. O seu comentário também é para mim muito gratificante. Beijinhos :)
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