21 de setembro de 2022

 


SOBRE A BREVIDADE DA VIDA - SÊNECA



Um tratado breve de um filósofo, dramaturgo, político e escritor. Sêneca viveu na era antes de Cristo, a sua morte data de 65 d.C, e é considerado um expoente intelectual de Roma no início da Era Cristã.

Existe uma curta descrição da sua vida no início deste livro bastante interessante para quem a Era Grega e Romana e a filosofia tem interesse.
Apesar de suscitar-me bastante curiosidade este período e a própria filosofia em si, peguei neste livro com a leveza dos despreocupados, ciente que leria algo desatualizado e meramente informativo para os dias de hoje.
Enganei-me profundamente; o tratado é uma ode belíssima sobre a consciência da brevidade da nossa vida.
"A vida é curta, a arte é longa. A ocasião, fugidia. A esperança, falaz. E o julgamento, difícil.", já dizia Hipócrates, e Sêneca pega nesta sublime frase para proclamar o seu pequeno tratado.

"Pequena é a parte da vida que vivemos". Pois todo o restante não é vida, mas somente tempo.
O que difere a vida de tempo?
Provavelmente essa definição obtusa é também distinta de cada um de nós.
Acredito que o meu tempo, e a parte mínima de vida que lhe dedico é bem diferente do conceito de tempo e vida do meu próprio parceiro, da minha filha, da minha mãe ou do meu pai.
Sêneca fala da importância de se cuidar de nós mesmos, mas o paradoxo existencial remete-nos para a necessidade de cuidarmos de quem nos está próximo em abnegação do eu pessoal e intransmissível. 
A minha mãe ensinou-me a dar; a aceitar e a agradecer o que se recebe. Nunca a reclamar a parte de mim mesma que me pertence por direito.

Como tratado filosófico ele leva-nos a tentar filosofar; deparamo-nos com questões de fundo que não tem resposta coletiva. Seremos melhores como um todo, ou como uma parte, como individuo?
Saberemos cuidar de nós sem prejudicar ou negligenciar os outros, ou os outros nunca deveriam fazer parte da equação da nossa própria vida?
O espirito humano é cego, diz Sêneca e coloca umas perguntas íntimas que patinamos em responder;
"Perscruta a tua memória: quando atingiste um objetivo? Quantas vezes o dia transcorreu como o planejado? Quando usaste teu tempo contigo mesmo? Quando mantiveste uma boa aparência, o espirito tranquilo? Quantas obras fizeste para ti com um tempo tão longo? Quantos não esbanjaram a tua vida sem que notasses o que estavas perdendo? O quanto da tua existência não foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu? Compreenderás que morres cedo."

Sêneca desliga-se do homem ocupado, mas não é o homem ocupado que as sociedades dão primazia? 
Na perspetiva final acredito que deveremos fazer contas, tomar iniciativas para combater a celeridade do tempo. Demorar-nos no essência da nossa própria representação; decidir se queremos vencer as nossas paixões subjugando a ocupação diária de todo o nosso tempo, ou pelo contrário, espicaçar os nossos demónios, ter consciência do nosso ócio; informar o nosso corpo que somos donos do nosso tempo, vergarmo-nos como um tributo a uma rainha, á assimilação do eu. Esse pronome pessoal desenraivado do nosso próprio ser.

Também podemos não pensar em nada disto!       

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