A sombra do que fomos - Luís Sepúlveda
Que saudades de Luís Sepúlveda!
Em tempos devorava tudo o que aparecia do escritor. Achava as suas histórias envolventes e marcantes.
A escrita era carregada de situações trágicas, vidas amputadas pelas origens da realidade, mas sempre com um travo de esperança. - Sim, para mim, a melhor palavra que define o escritor é esperança.
Sepúlveda consegue arrancar-nos um sorriso, até em cenários de desolação.
Mais tarde vieram as histórias para crianças, mas sempre com candura... ensinou aos nossos filhos entre uma baleia, um gato ou um caracol, aquilo que se tem de procurar, a razão da nossa luta.
Descobri há alguns anos que o escritor Chinelo, participou activamente na Resistência á Ditadura no seu país. Chile.
Foi um exilado politico, e transpôs para a maioria dos seus livros essas experiências. Quando não são estas, são as questões ambientais.
Contudo não podemos dizer que os seus livros sejam gritos de raiva ou de rancor, mas faz-o com aceitação de uma realidade que existiu e da qual não se pode separar dela.
Neste livro " A sombra do que fomos", Sepúlveda retrata mais uma vez a Resistência.
A ditadura Chilena, fez como em outros países por onde passaram Governos opressores exilados políticos. Sepúlveda foi um deles.
Alguns desses exilados regressam ao Chile, e o livro fala da experiência desses homens e mulheres que não se sentem de terra nenhuma, nem no Chile que abandonaram perseguidos, nem nos países que os receberam.
Seremos sempre estrangeiros em terra alheia e desconhecidos na nossa própria terra.
Desilusões, falta de sonhos, ideais políticos sem sentido na veracidade actual.
Agarrados a um passado de luta "Sou a sombra do que fomos e enquanto houver luz existiremos", não sabem caminhar neste novo mundo, que contém a liberdade pela qual tanto lutaram, mas desprovida de tudo o resto.
Sem chocar o leitor, Sepúlveda abre em pequenos diálogos aquilo que terá sido a repressão chilena.
"Muitos homens e mulheres que se conheciam negaram-se a si próprios numa epidemia de amnésia necessária e salvadora"
Resistentes, derrotados. Esta é a história que se conta neste livro "também não tinha qualquer dúvida de que, para os derrotados a vida se tinha transformado num banco de nevoeiro."
A sombra do que fomos também é uma alegoria há vida comum.
Aos nossos filhos que ainda acreditam que o mundo é cor-de-rosa, que a alegria está há distância de um teclado, basta um livro pequeno, quase de bolso como este para perceberem que existe "uma linha fina que separa o delinquente da vítima do acaso."
Os nossos filhos que não sabem o que é a ditadura, nem o que significa Resistência.
Vivem num limbo de liberdade e realidade virtual. Mas a ilusão é grande, o perigo é imenso.
Ilusões, não tem nenhuma das personagem deste livro. Esses são os valentes.
Mas como diz Sepúlveda "Os valentes não existem, só as pessoas que aceitam caminhar ombro a ombro com o seu medo."
Que saudades que eu tinha de Luís Sepúlveda!
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