Os Herdeiros da Terra - Ildefonso Falcones
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Barcelona, 1387 |
"Dez anos depois de A Catedral do Mar, Idelfonso Falcones, regressa a esse mundo que tão bem conhece, a Barcelona medieval. e fá-lo de forma magistral, numa obra que recria na perfeição a efervescente sociedade feudal, submissa a uma aristocracia volúvel e corrupta, ao mesmo tempo que narra a luta de um homem para sobreviver sem sacrificar a sua dignidade."
Não esperei dez anos para ler o segundo livro de Idelfonso Falcones sobre uma Barcelona medieval.
Li a A Catedral do Mar, há certa de 2 anos, no Verão de 2018, e na altura não iniciei logo este livro devido ao seu tamanho. Não é fácil andar com um livro de 880 páginas, principalmente quando tenho como costume carregar os livros por onde quer que vá.
Este foi ficando para trás, e a oportunidade veio agora com o confinamento imposto pelo Covid-19.
A formula é a mesma da A Catedral do Mar, a história que começa na infância de Hugo Llor, até ao limite dos seus sonhos... o livro atravessa certa de 40 anos da vida desta personagem, assim como A Catedral do Mar atravessou toda a vida de Arnau Estanyol.
É um livro que se lê de uma forma suave e com alguma paciência. Ao contrário de um Triller não andamos há caça de nenhum criminoso, mas temos há nossa frente um espelho daquilo que é a vida dos homens.
Humildade e fé... fidelidade, perseverança... amor...sofrimento, acima de tudo sofrimento
O limiar entre aquele que comete um crime é muito estreito, e as massas humanas tem muito que se lhe diga.
E não, as classes sociais não são todas iguais. O ser humano não tem todo os mesmos direitos, e a escravidão, a tortura e a religião são linhas que se ultrapassam por vezes sem crer ou pela força das circunstâncias.
Estamos em 1387 e tirando a questão da escravatura que já não faz parte da nossa sociedade, pelo menos há vista de todos, tudo o resto não evoluiu muito.
A cobardia é um tema central em toda a história. Mas a cobardia tem muito que se diga!
Hugo Llor, aos 12 anos fica órfão do pai que morre afogado no Mar. Tem uma irmã e uma mãe que ficam desprotegidas na vida. Arnau Estanyol, personagem principal de A Catedral do Mar, orienta a vida desta família desfeita... arranja trabalho para Hugo no porto, trabalho para a mãe numa casa e o lugar de serviçal para a irmã num convento. Nenhum deles atravessa a vida de forma fácil, despreocupada, serena...
Arnau Estanyol acompanha muitas vezes Hugo e fala com ele, como se fosse um filho. Orienta-o. Tenta dar-lhe um caminho. E nas conversas que têm Arnau diz muitas vezes a Hugo. " Não te vergues a ninguém!"
Tentamos descobrir durante uma vida inteira a não nos vergarmos a ninguém, principalmente porque somos humildes e pobres e vivemos numa cidade injusta para com os pobres.
Para quem queira ter paciência para 880 páginas, não é de fugir da empreitada. O livro é bom.
Deixa-nos um travo amargo na boca em algumas passagens, faz-nos ver a realidade indestrutível de um mundo desigual em 1387 em plena Barcelona.
Chegamos a 2020 e não conseguimos ultrapassar as desigualdades... esse é um sabor amargo que nos fica na boca.
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