DEVOÇÃO - PATTI SMITH
A sério! Que revelações este mês.
Abri um pouco os olhos para os lados e descobri coisas novas e profundas. De repente sinto-me um pouco grata por isso.
Há mais vida para além do top de vendas das livrarias e dos sites online.
Descobri que existem escritoras que eu tenho medo de explorar e que tem muita coisa para contar-me.
Descobri que a distância temporal do livro é uma pequena gota no meio do oceano da inspiração e descobri que tenho de deixar de ser arrogante, supersticiosa, implicativa e que se quero mesmo aprender alguma coisa terei de ter muita humildade.
Tentei pensar assim. Um papel em branco, um caderno, ou apenas uma folha. Um movimento. O nosso movimento. O que fazemos com ele, e o que ele nos leva a pensar, a sentir.
Devoção de Patti Smith começa assim. A minha cabeça começa a estalar com estas realidades.
Devoção é o coração feminino.
"Porque escrevemos? Irrompe um coro. Porque não podemos somente viver."
É um livro dentro de outro livro.
O processo criativo da autora para o conto "Devoção".
A primeira parte do livro é como um diário da autora em que ela explica os seus movimentos e como do nada ou do tudo, saiu uma história que foi escrita freneticamente numa viagem de comboio entre dois pontos.
" A inspiração é um mistério recorrente e invisível, a musa que ataca quando menos se espera."
É assim que Patti começa este livro. O conto em si, não é o melhor que o livro tem, apesar da personagem principal ser de extrema beleza. Como em tão pouco está tudo lá. A minha descrença em relação ao conto vai para o ato da personagem que me pareceu sem qualquer sentido.
Mas foi o seu diário de bordo que eu prendi a minha atenção.
Como se movimenta, como se cria.
Serão todos diferentes, acredito. Patti Smith não tem um hábito, uma rotina.
Ela espera e desfruta e escreve o que vê e sente. A inspiração como ela diz é uma musa que a ataca quando ela menos espera.
Pelo seu conceito original, pelo menos por aquilo que me tem passado pelas mãos, e eu só posso responder por aquilo que li, é um pequeno livro inspirador.
Que posso dizer? Gostei! Vale a pena ler.
"Por que razão nos sentimos impelidos a escrever?
Para procurarmos o isolamento no interior de um casulo nosso, absorvidos numa solidão que é alheia às necessidades dos outros. Virginia Woolf trabalhava num quarto só seu. Proust, por trás de janelas sempre cerradas. Marguerite Duras, numa casa habitada pelo silêncio. Dylan Thomas, na sua cabana modesta.
Todos em busca de um vazio para preencher com palavras. Palavras que irão penetrar território virgem, inventar combinações entre si jamais imaginadas, estender as suas possibilidades infinitas.
Há um grande número de cadernos em que os escritores falam de esforços falhados, de euforias ocas, de um caminhar feito incessantemente de avanços e recuos. É imperioso escrever, mas é também impossível não ficar envolto numa infinidade de batalhas, como se estivéssemos a domar um potro teimoso. É imperioso escrever, mas não sem um esforço persistente e um certo sacrifício: para abrir direções no futuro, para revisitar a infância e para equilibrar os terríveis e tortuosos meandros da imaginação numa linguagem que desperte a inteligência dos melhores leitores."
Gosto de dar oportunidade a todos os livros e é muito raro deixar algum para trás.
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