22 de maio de 2022

 


BIOGRAFIA JOSÉ SARAMAGO  - JOÃO MARQUES LOPES





Estamos cada vez mais cegos, porque cada vez menos queremos ver. No fundo, o que este livro quer dizer é, precisamente, todos nós somos cegos da razão.
Citação de José Saramago, em entrevista ao JL, 25.10.1995, sobre o livro "O Ensaio sobre a Cegueira", em "Caderno de Lanzarote", anotação de 4 de Março de 1995, já tinha referido, No ensaio não se lacrimejam as mágoas íntimas de personagens inventadas, o que ali se estará gritando é esta interminável e absurda dor do mundo.




Detenho-me com mais vagar entre estas páginas, como o poderia ter feito, algures, nesta biografia de José Saramago. 
Um livro extremamente bem escrito, que acima de tudo, tenta refletir Saramago como um ser humano de convicções, fraquezas e defeitos. As suas opções políticas, o percurso profissional, a sua militância, e o abandono a que foi vetado, numa determinada altura da sua vida.
Como qualquer português, muito apreciado depois do sucesso do Nobel, por vezes ignorado e desprezado, antes dele.
Algumas curiosidades para mim desconhecidas, ou que já não recordava, como o facto de ter sido tradutor, e amanuense.
A influência da escrita de Eça de Queirós, no seu primeiro livro. Livros que se escreviam em quatro, seis meses.
Mas é no capítulo oito, e ao seu ciclo de alegoria e outras obras, que eu fico presa. 
Desperta-me a curiosidade para livros que ainda não li do autor. "Ensaio sobre a Cegueira", a eterna segunda escolha, "Ensaio sobre a Lucidez", e "A caverna", este último, morre na minha estante sem comprometimento, e ao qual eu ainda não lhe dediquei, sequer, um terceiro olhar. 
A possibilidade do fim da razão.

Saramago era feito de certezas e convicções. E um homem que é feito de certezas e convicções, que não se deixa abalar, franqueia o mundo com outra visão. 
Essa outra visão, não lhe permitiu mais do que o chamado exílio para Lanzarote, não lhe permitiu mais do que prémios literários e penetrações no mercado nacional e internacional, não lhe permitiu mais do que ser o único Nobel da Literatura português.
As personagens que se criam com o formato da terra e não do barro ou da idolatria, as desigualdades sociais e os direitos do ser humano, muito para além de uma ideologia política, o fim da razão, o abismo do pensamento único, a guerra infinita, e a subserviência pela palavra vende. Tudo isto, Saramago expõe.
Sou católica, mas o livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, não me choca. Chocante é, em pleno século XX, associar-se, literatura com religião. Misturar-se literatura com ideologias políticas, religiosas, etc, etc, etc... 
Literatura é um produto de ficção. Terá que ser encarado como tal. Essa é a minha opinião, vale o que vale.

Não será, porventura, o único grande escritor português do seu tempo. Mas é um grande escritor.
   

 

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