26 de maio de 2022

 


A METAMORFOSE - FRANZ KAFKA



Uma manhã ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si transformado num bicharoco monstruoso.


Deixei este livro a um canto depois da sua leitura. Tinha um travo amargo na boca e não conseguia definir onde o colocar.
Relembrei o prefácio do livro, onde é sugerido que o próprio autor, não tinha gostado do produto final. 
Pessoalmente, tem o efeito definido pelo autor, algures noutro contexto qualquer, não recordo quando e onde; julgo que só se deveriam ler livros que mordessem e picassem...
É subjetiva esta expressão, e amplifica o sentido de qualquer livro. Dá o devido valor a qualquer narrativa. Ela, depende sempre do leitor. Transforma o livro, qualquer livro, num bem essencial para a multidiversidade do leitor.

Kafka define escolhas nesta historia surreal. A minha dificuldade foi encaixar as escolhas na narrativa em si. 
Morde e pica na situação peculiar que não pode ser alterada, como uma metáfora da condição humana. 
Gregor transforma-se num bicharoco, não por sua livre vontade, nem sequer num momento de escolha, parafraseando todos os acontecimentos da nossa vida que ultrapassam a nossa capacidade de sermos livres.
Morde e pica, no contexto da não possibilidade de escolha, para a formulação de uma escolha dentro dessa impossibilidade. 
Os sacrifícios familiares e a capacidade de os manter.
Gregor não tem opções, a família, essa sim, têm-nas. Morde e pica com a volatilidade dessas opções e escolhas.
A repugnância e o susto, que acaba por se transformar em doação, o  benefício que se vai desfigurando em cansaço, a fraqueza que dá lugar ao descontentamento, e por fim a escolha.
Gregor prescinde em nome de todos.
Pensou na família com carinho e amor. A sua opinião acerca de necessidade de desaparecer era provavelmente ainda mais decidida do que a da irmã.

Encerrará, porventura outras conclusões que uma releitura merece. Não é claro nem cristalino, perde-se nas entrelinhas tudo o que quer dizer-nos. Não o descobriremos de uma só vez. 
Quem leu Kafka?

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