6 de maio de 2020

A NOITE EM QUE O VERÃO ACABOU
JOÃO TORDO

"Estou só a tentar dizer-lhe que, na ganância de encontrarmos um culpado, podemos ter-nos esquecido de que ninguém é inocente"

"Temos saudades de tudo, ou de quase tudo, não é? Infelizmente, a vida está-se nas tintas para os nossos sentimentos."

"Sobre a derrota, afirmei. Sobre tudo o que me aconteceu desde o Verão de 87, desde o momento em que conheci a Laura e provei o sabor do fracasso...a impossibilidade de sair vitorioso desta vida."


O livro tem 666 páginas. Um inconveniente! Dentro da mala, onde costumo carregar todos os livros que leio seria um peso bruto!

À primeira vista a capa também não me agradava, mas em contrapartida o autor sim.
Como dizem os Espanhóis "me agradava muitíssimo! Principalmente porque o livro saiu nas banca quando estava a terminar de ler "Ensina-me a voar sobre os telhados", outro colosso de João Tordo.

Fiquei indecisa, mas a minha irmã decidiu-se por mim, e recebi-o como prenda de anos. Encantada!
Os tempos que correm deram outro empurrão, e já que estou em casa por causa de um vírus, decidi que o melhor era ir lendo as "Bíblias" que tenho na estante, assim não tem de sair de casa e não me dão cabo das costas!

Confesso que já tinha perdido o interesse pelos chamados "Thriller", mas este comeu-me a alma.
Não sendo o crime perfeito, consegui sempre manter-me alerta sobre as várias possibilidades, e o "Thriller" propriamente dito vem também acompanhado por um sentimento de amor.
Quando falo de amor, não falo simplesmente de uma relação amorosa entre um homem e uma mulher, mas o amor na sua plenitude, em todo o seu sentido, em todas as suas formas.
Como o próprio autor diz em certa altura, é de amor que se trata, pois tudo gira á volta desse sentimento que não se consegue explicar.

Só muito no fim do livro, consegui por apenas duas ocasiões adiantar-me ás conclusões do autor, o que me deixou nas nuvens!

Com um livro deste tamanho e com um espaço temporal de 30 anos é normal que existam muitas personagens.
As que mais me marcaram foram o Narrador, o Português Pedro Taborda, que vai atrás na história até aos seus 13 anos. Um Português mesmo Português, cujas características são mais vincadas quando está no meio americano.
Em torno de um Português existe sempre a Saudade, a Tristeza e a melancolia.

Laura Walsh, uma personagem indefinida, distante, isolada no seu caminho.
É digno de nota a paixão de Pedro por Laura em todo o livro e Laura nunca dá conta e até reage com surpresa quando quase no fim do livro Gary List lhe diz na cara.
Poderemos pensar que é impossível que ela não tenha dado conta, 30 anos e não deu conta! Claro que deu, mas o que Laura queria não era paixão. Não era com paixão que ela olhava para Pedro, mas com o amor de um irmão.

No entanto Gary List, um escritor de meia idade em decadência numa América que encontra ídolos e se desfaz deles todos os dias, é para mim a personagem mais marcante, mais inteira, mais perfeita!
É curioso, mas em todos os livros de João Tordo fica-me sempre um personagem, muitas das vezes até secundária, que preenche tudo por onde passa, e nos liberta a alma.
Consegui até rir ás gargalhadas numa conversa entre Gary List e Laura Walsh, algures na página 578.
O encontro inicia-se na página anterior quando Pedro e Laura vão visitar Gary List, antigo professor de Pedro, e estende-se por muitas páginas. Gary List é genial nas suas reflexões.

Resta dizer que apesar de 666 páginas meterem respeito, é um livro muito fácil de ler. Ás tantas dás por ti com 80 /100 páginas lidas e sem vontade de largar o livro.
Mais uma vez João Tordo me encantou!

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