Antes de ser Feliz - Patrícia Reis
Não conhecia a autora.
É engraçado como certas coisas nos passam ao lado.Ás vezes penso que ando distraída.
Encontrei o nome Patrícia Reis numa referência de João Tordo no seu Manual de Sobrevivência de um escritor. Nele, João Tordo menciona em dada altura a escritora Patrícia Reis.
Patrícia Reis?
Fui pesquisar e descobri que até leio com frequência muitas crónicas que aparecem suas com regularidade no "Sapo" ou mesmo no "Facebook".
Se é assim, vamos aos livros!
Comecei por este "Antes de ser Feliz". Andei indecisa, sobre o titulo a começar... aparentava muita escolha boa. Alegro-me profundamente da escolha pois para mim o livro é mesmo bom.
Posso dizer que o devorei.
Contado a uma só voz. A voz do Pedro, que desfia a sua dor por um amor que não o compreendeu. Um amor juvenil, de banco de escola primária.
É uma história simples, muito simples até, mas têm lá tudo. Aquele fado da vida que só os Portugueses sabem contar.
Nostalgia e Saudade são palavras para os Portugueses dissecarem, experimentarem, indagarem...
Pedro corre o fio dos seus sentimentos de criança, da sua vida familiar e das suas vivências com pessoas de outro estatuto social. Mas Pedro quer contar e compreender o seu amor por aquela que o escolheu quando entrou na sala de aula, tão pequena, e sobre aquele ao lado de quem ela se sentou.
Patrícia Reis não é meiga com a personagem feminina. Apresenta-a como um ser frio.
Esta é a impressão recorrente do livro. Distante, senhora de si... "cabrita", impetuosa. Enfim, segura de si.
Não é mais do que um ser revoltado pela perda. A desolação escondida atrás da arrogância.
Há pessoas que não se deixam viver...
Não condeno Inês. Só sabemos o seu nome quase no fim do livro.
É uma personagem contraditória, escrita para ser odiada, mas acredito que a autora quer-nos mostrar algo mais que está por baixo da pele de Inês.
Não é fácil ver... costumamos avaliar as pessoas pelo que ouvimos e vemos delas e não por tudo que escondem dentro da alma.
No caso de Pedro, é muito fácil gostar ele. Do seu amor inocente. Da sua vida mínima e carente. Sem amor em casa, procura o amor nos outros que o rodeam. Encontra essa entrega no pai e no tio de Inês, dois seres isolados e solitários.
Não o encontra em Inês... ela quer o controlo para si. Pedro ou as pessoas não fazem parte dos seus planos.
Bem vistas as coisas, todas as personagens têm em comum a solidão que os assola. Procuram o amor naquele que não o dá, e não olham para o amor de quem lhe estende a mão.
Inês é esse paradoxo. Presa no amor da mãe que a abandonou ao acabar com a sua própria vida.
Das entranhas onde saímos está sempre a nossa cura e o nosso desespero.
Para Inês os outros passaram a ser acessórios, e o deixar-se levar, seria a porta aberta para mais abandonos.
Não é fácil gostar ou compreender-se Inês. É possível, mas não é fácil.
Patrícia Reis oferece-nos essa possibilidade, não é fácil alcança-la.
Creio ser o grande desafio que a autora nos coloca em toda a história... compreender Inês!
O fim, fica também por nossa conta. Ao fim de muitos anos de ausência, Pedro consegue chamar por Inês, e o que sairá daí ficará ao nosso critério.
O título do livro, é um caminho válido.
"Meu amor, é longa a história, eu sei. Quando chegares, cá estarei e não contes com o meu silêncio, a porta está aberta e serei imprevisível. Ando a treinar. E sei ao que vou. Não serei o mesmo e, apesar disso, serei eu. Aquele que tu escolheste quando entraste na sala de aula, tão pequenina, aquele ao lado de quem te sentaste. Sou ainda o teu estrangeiro mais íntimo e, mesmo que tenham passado por ti outros tantos, serei sempre o teu primeiro homem."
Gostei muito
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