5 de março de 2021

 


FAINGIRL - RAINBOW ROWELL




O que é um livro? O que pode ser um livro para cada pessoa que o lê?
Fangirl, é de talvez fácil abordagem. Pessoalmente, dificilmente seria uma escolha. A capa não anima e a sinopse não traz nada de novo.
Porque é que o comprei? "Eleanor & Park". Gostei tanto deste livro o ano passado que queria ler mais alguma coisa de Rainbow Rowell.
Porque comprei "Eleanor & Park"? Porque estava em promoção, saldos, descontos, o que lhe queiram chamar.
Já aqui tinha dito, "Eleanor & Park", foi um dos livros que mais me marcaram em 2020.

Mas Fangirl! Bem! É aquela sensação que se tem de nos estarmos a ver ao espelho. Literalmente.
O que é um livro? Para mim, livro é livro quando existe pelo menos uma personagem onde eu sinto que consigo e posso colocar-me no lugar dela.
Fangirl é diferente. Em Fangirl literalmente a personagem está no meu lugar.
Sombrio? Sim. Devastador.
Reconhecimento profundo com a personagem principal em tantos e tantos momentos que o livro chega a rasgar a pele. Não há necessidade de colocar-me na pele de Cath. Cather já é a minha pele. 
Bastou chegarmos à página 29 e entrarmos na sala de aula de escrita criativa e ouvir, sim, ouvir! os pensamentos de Cath, para perceber que a personagem está cá dentro.
"Porque escrevo? Cath tentou pensar numa resposta profunda - (...)
Para estar noutro lado qualquer, pensou Cath (...)
Para pararmos, pensou Cath. Para deixarmos de ser qualquer coisa e de estarmos em qualquer lado (...)
-Porque escrevemos ficção? - perguntou a Professora Piper.
Cath olhou para o seu bloco de notas.
Para desaparecer"

Assim como "Eleanor & Park", também "Fangirl" é uma história que existe no mundo do Jovem Adulto. A formula é muito simples. A miúda tímida no primeiro ano da Universidade. A miúda tímida com uma irmã gémea que nesta fase tenta deliberadamente diferenciar-se da irmã e encontrar o seu próprio espaço. Cath não está preparada para isso e sente-se magoada e abandonada. 
A irmã, Wren é mais determinada, sorri mais, mas é mais dura.
Cath a tímida. Wren é a melhor das duas, porque fala mais, sorri mais, ou pura e simplesmente tem melhor aspeto.

Cath não queria fazer amigos, evitava o contacto. Mostrava-se pretensiosa, mas desviava-se de ser rude. Rude, nunca!
Cath é aquela miúda que não quer estar lá, mas já que está, fará tudo para que não deem por ela.
As suas prioridades de vida são diferentes dos outros. Aquilo que a faz mover é contrário ao "rebanho" generalizado de todos os jovens que a acompanham. 
Essencialmente Cath vive dentro do seu mundo. No seu refúgio, que neste caso chama-se "FanFiccion"

É a primeira vez que tenho acesso a esta realidade que nem sequer sabia que existia.
A minha filha acompanha-o através do "Wattpad" e da sua adoração pelo "Harry Potter".
Ontem quando falei com ela sobre isso, contou-me uma história paralela que inventou do "Harry Potter", onde ela entra como personagem. Fiquei de boca aberta.

FanFiccion é uma constante neste livro, mas o tema principal é rapaz-rapariga. O tema principal é como um rapaz consegue que uma rapariga completamente fora do mundo se aperceba que ele gosta dela.
Mais do que isso a história de um rapaz que consegue gostar muito, muito de uma rapariga sem que ela fizesse nenhum esforço de sedução.
Como diz Levi - o rapaz - "Tu não forças cada momento. Tu prestas atenção. Tu absorves tudo. Gosto disso em ti - gosto mais disso"
O que nos faz gostar de alguém? Será só o especto do outro? Ou a alma?

O livro consegue abordar tantos assuntos, que agora sinto-me emaranhada neste teia. Nesta Cath, demasiado louca para este mundo real, ou demasiado sã? Nem sei!
"Olha bem para ti. Tens as ideias em ordem, não tens medo de nada. Eu tenho medo de tudo. E sou louca. Tipo, sei que julgas que sou um bocadinho louca, mas na verdade só deixo as pessoas ver a ponta do icebergue da minha loucura. Por baixo deste verniz de ligeira loucura e mediano atraso social, sou um completo desastre."
Mediano atraso social. Esta frase fica-me tão bem!

Cath não gosta de festas, Cath não gosta de muita gente junta, Cath não gosta de sorrir a todas as pessoas, Cath não beija só por beijar, Cath não bebe.
Cath só pode ser ligeiramente louca e com um mediano atraso social.
Cath não sabe onde é o refeitório e come barras de cereais no quarto para evitar contacto com os outros e para não dar ares de pateta a fazer perguntas.
Reagan, a alienada e imprudente companheira de quarto, consegue ler e compreender Cath, antes de qualquer um. Será porque também é louca, mas no sentido contrário?
"As manas entre as camas"

Cath é sem dúvida uma grande personagem. Nem ela própria entende daquilo de que é capaz. Daquilo que realmente é! Mas como era de prever, Cath não foge à regra de ser usada pelos outros e também de ser magoada.
Faz tudo parte daquilo que somos como pessoas, não é? Ninguém passa pelas rosas, sem tocar nos espinhos!
O que não é fácil é encontrar um rapaz com paciência - ou será amor? - para esperar por ela. Esperar que ela se encontre e que o encontre a ele.
O primeiro beijo dos dois é isso mesmo. A capacidade que Levi teve de esperar que Cath estivesse pronta e olhasse realmente para ele. A cena é perfeita.
" Os beijos de Levi eram todos de posse. Como se estivesse a arrancar algo de dentro dela com pequenos movimentos suaves do queixo. Levou os dedos ao cabelo dele, e continuou sem conseguir abrir os olhos. Por fim, não conseguiu continuar acordada."
Posso dizer que não íamos a meio do livro quando este beijo aconteceu. Muita coisa se passou depois.
Ser magoada foi uma delas, voltar a confiar e a acreditar foi outra.
Cath não tem um rancho de amigos, mas tem os amigos certos.
Cath não quis a mãe que a abandonou quando tinha 8 anos, mas a mãe também não tem capacidade para ser mãe.
Cath recusou ficar no mesmo quarto com a irmã no segundo ano, por uma questão de compromisso com Reagan, mas puxou a irmã para o seu dormitório. Cath queria cuidar dos outros e só dos outros, mas descobriu que também tem de tomar conta dela e que também tem de deixar que os outros tomem conta dela.

Para o final a história foi-se desvanecendo. O fim parece uma interrupção. Tipo um "Até já"
Não deixo no entanto de ter Cather na minha pele! 







3 comentários:

  1. É uma agradável surpresa. Pelo menos para mim assim foi. A forma de escrever é muito simples e a história é como se passasse à frente dos nossos olhos.
    Recomendo Carla... vai ver que vai gostar.

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