26 de março de 2021

 


MULHERES INVISÍVEIS - CAROLINE CRIADO PEREZ


Não li este livro. Ou melhor! Vou dizê-lo de outra forma. Ainda não li este livro.
Aparece na edição da revista Ípsilon do dia 19 de Março, com destaque para página inteira com texto de Amanda Ribeiro.
Quando fiz reciclagem dos jornais e das revistas rasguei a folha porque tinha uma grande vontade de escrever sobre isto.
A verdade é que já dei muitas voltas ao texto e aquilo que quero dizer é precisamente o que lá está escrito, por isso, vão desculpar-me esta falta de criatividade, mas vou transcreve-lo quase, quase na integra. O texto fala do livro e fala da autora. Foi falar só sobre o livro...
O tema Mulheres Invisíveis é extenso e complexo. 
É até limitativo da minha parte, não ter mais nada a acrescentar a esta publicação da Ípsilon. 
A questão é precisamente essa. Existe muito a acrescentar. Muitos caminhos que poderíamos tomar para falar sobre este assunto, e então, até quem sabe criar um Blogue próprio para isso.

"Mães, mulheres. Invisíveis, mas presentes.
Sopro de silêncio que dá a luz ao mundo.
Estrelas brilhando no céu, ofuscadas por
nuvens malditas. Almas sofrendo na sombra
do céu. O baú lacrado, escondido neste 
velho coração, hoje se abriu um pouco, para 
revelar o canto das gerações. Mulheres..." 
Paulina Chiziane

Basta pesquisar um pouco e a informação ou a relação que existe com a frase "Mulheres Invisíveis" ganha uma dimensão assustadora.
Há pois, muito que escrever e refletir sobre o assunto. 
Actualmente apenas lhe dedicamos o dia 8 de Março, como uma forma de vitoria por um reconhecimento que não está lá no seu todo.

"Está na altura das mulheres serem vistas, não?"
O assunto é mesmo esse! Continuamos a não ser realmente vistas como parte integrante da sociedade, mas como algo a quem cederam alguns benefícios e liberdades, mas continuamos a manter-nos sobre a influencia de uma sociedade maioritariamente masculina. Não digo machista, digo masculina. São duas coisas bem diferentes... provavelmente com imagens iguais.
O mundo deixou há muito de se machista, mas continua a ser sem dúvida um mundo masculino. Depreendo do que li sobre este livro, que é disso mesmo que ele trata. Da masculinidade enraizada na nossa sociedade. 
Aquilo que conseguimos até agora foi tentar que fossemos tratadas como iguais e não como menores. O caminho presumo, é descobrir a maneira para sermos tratadas como diferentes e não como menores.
Vale a pena uma reflexão. Alguém tem ideias?



"Já alguma vez sentiu que o smarphone é demasiado grande para a sua mão? Que tem de ir fazer musculação para o ginásio (em máquinas também elas demasiado altas) só para empurrar a porta do escritório? Que o sistema de reconhecimento de voz tem um fraquinho por tons graves? Ou que o GPS não tem lá muito em conta o desconforto que é atravessar um parque mal iluminado à noite? Há uma grande probabilidade de uma pessoa do sexo feminino se reconhecer em algumas (todas?) estas questões. Acrescentamos: não é culpa sua, mas de um mundo feito à imagem e semelhança de um outro individuo - um homem.
Mulheres Invisíveis - Como os dados configuram o mundo feito para os homens, o segundo livro da jornalista e activista Caroline Criado Perez, chegou há poucos meses ao mercado português, com a chancela da Relógio d´Água (tradução de Maria Eduardo Cardoso), e estará em destaque no sábado, 27 de Março, no Heróides - Clube do Livro Feminista, da actriz e encenadora Sara Barros Leitão. Um abre-olhos que põe a descoberto a desigualdade de género que está na base de tantas coisas apenas aceites. Como aquelas do arranque do texto. Equipamentos concebidos com base numa mão e num corpo, tomados como universais; algoritmos enviesados porque se alimentam de bases de dados igualmente enviesadas, dominadas por homens.
São 400 páginas (48 só de bibliografia) cheias de factos, estudos e muitos, muitos números, que estão a encorajar organizações e governos (como a Escócia) a tomar medidas. (Achei que era uma maneira muito boa de explicar o feminismo a pessoas que não o entendiam), disse Caroline Criado Perez ao The Scotsman. (Especialmente se for um homem, para entender o que as mulheres estão a dizer sobre como nos sentimos quando estamos a navegar num mundo que é hostil para nós, onde somos assobiadas, interrompidas, tratadas com paternalismo, apalpadas, assediadas.) Uma mensagem que ecoa, por estes dias, nas sonoras reacções à morte de Sarah Everard, a mulher de 33 anos que foi assassinada quando regressava sozinha a casa, ao final do dia, em Londres.
Para isso, Caroline mostra dados (ou a falta deles) e 1001 exemplos de um mundo assente no que chama de (défice informacional de género), tanto analisando filas para casas de banho como a participação política.
Obliterado o papel da mulher na história da evolução humana, na arte, na ciência, no planeamento urbano, nas transportes, na economia, considerou-se "que as vidas dos homens representavam as vidas da generalidade dos humanos", escreve a autora no prefácio. O que sublinha, não é mal-intencionado ou sequer deliberado: É simplesmente o resultado de uma forma de pensar que prevalece há milénios e que, em consequência, é uma espécie de não pensar. E consumada porque as mulheres nem sempre estão nos centros de decisão para mudar este chip.
Apesar de não ser propositada, esta falta de dados desagregados por sexo pode ser perigosa, ou até fatal. Porque elas, muitas vezes, não têm o (ataque cardíaco à Hollywood, com dores no peito e no braço esquerdo) logo os seus sintomas são considerados atípicos e não são correctamente diagnosticadas (a descoberta que inspirou a escrita desta livro). Porque têm 74% mais probabilidade de sofrer ferimentos graves num acidente de automóvel - será porque não se está a ter em conta as medidas do corpo feminino, quer no design automóvel, quer nos testes de segurança? Porque se confia em estudos de radiação feitos no Homem Referência (caucasianos entre os 25 e os 30 anos com cerca de 70 quilos cujo superpoder é ser capaz de representar a humanidade como um todo), quando os níveis seguros para uns não o são para os outros - outras, aliás, que o masculino genérico da língua, nomeadamente no português, também revela o poder do masculino por defeito.
E se, por um lado, as mulheres são invisíveis na recolha de dados, muitas vezes com desculpas que são demasiado complicadas para serem mensuráveis, tornam-se hipervisíveis noutros aspectos: como alvo de violência sexual ou na sua sina de cuidadoras. A incapacidade de medir os serviços domésticos não remunerados talvez seja o maior de todos os défices informacionais de género, escreve a autora, questionando a sua omissão na formulação do produto interno bruto (PIB) de cada país. 

 
 

 



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