27 de outubro de 2020

 

David Grossman 

 Entrevista Revista do Expresso de 17 de Outubro de 2020



É um dos grandes escritores vivos de Israel e acaba de lançar "A Vida Brinca Comigo", o seu 13º Romance e o primeiro a contar uma história real.

A prepósito do seu último livro " A Vida Brinca Comigo", o Expresso entrevistou via Skype o escritor a encurtar as distâncias entre Israel e Lisboa.
Este último livro de David Grossman é o primeiro livro baseado numa história real. Uma história que fala essencialmente no ódio que sentimos .
"Quem somos sem o ódio que sentimos?"
Esta é uma pergunta que em Portugal não faz grande sentido, mas em Israel já é diferente. Aliás, quem são os Israelitas e os Palestinos sem a existência de um inimigo? A paz caída em (desabito), falta de hábito.

O livro tem como tema principal a família. A família é pois uma instituição misteriosa. O poder supremo da humanidade, aquilo que se desmorona no fim de tudo já ter caído.
O próprio escritor refere "Escrevo muito sobre as famílias e penso honestamente que os momentos mais interessantes na história da espécie humana ocorreram não nos palácios ou nos parlamentos, não nos campos de batalha, mas nas cozinhas, nos quartos das crianças ou nos quartos de dormir. A estrutura das famílias constrói-se por camadas de sensibilidade, temos sempre a sensação de estarmos demasiado perto ou demasiado distantes do outro - é tão difícil não nos impormos, encontrar equilíbrio certo. Cada família tem os seus códigos, a sua linguagem, as suas palavras passe, as suas anedotas do passado, o seu olhar único e irrepetível.  E mesmo os que se rebelam contra a família, ao fazê-lo estão a aprová-la."




O livro retrata 3 gerações de mulheres da mesma família. Vera com 90 anos, a sua filha Nina com 56 e a neta Gulli, de 39.
Cada uma pertence a um tempo diferente e tem a sua própria identidade.
Apesar de "A Vida Brinca Comigo" ser um romance, baseia-se em factos reais da vida de Eva Panic Nahir.
Eva tornou-se amiga do escritor e contou-lhe a sua história.
David Grossman define Eva como a pessoa mais extrema que conheceu. Uma mulher dura nos seus ideais e conceções políticas, no entanto tão mole, patética, atenciosa e amável.
A entrevista é extensa a aborda outras questões para além do escritor, dos seus livros e este livro em particular.
Recordo que David Grossman já anteriormente tinha sido premiado em 2017 com o International Booker Prize pelo livro "Um Cavalo entra num bar"
Ao escritor posso afirmar pelo que li, que a família é o seu centro de entendimento, ele mesmo a define como "...um lugar mais revelante da nossa existência." Mas atenção, a sua definição tem a pretensão do lado bom da existência humana mas também têm a alegoria de um "campo de extermínio."

A entrevista resvala como não poderia deixar de ser, para questões políticas, para o conflito entre os povos de Israel e da Palestina. Para o ódio!
A opinião de David Grossman sobre este assunto é clara. Para mim uma opinião bastante relevante;
"Quem somos sem a Guerra contra os Palestinianos? Quem são eles sem lutarem contra nós? Quem somos individualmente, sem os nossos pontos rígidos, sem o ódio, sem a agressão? Talvez nos recusemos a abandoná-los, talvez não queiramos desistir deles porque deixaríamos de nos reconhecer a nós próprios."

Parece-me uma boa sugestão de leitura e a descoberta de David Grossman, e não me refiro exclusivamente a este último livro. Refiro-me a toda a sua obra.
Não poderia terminar sem referir a frase que mais me cativou na sua entrevista, a forma como o mesmo define escrever;
"Escrever é estar em chamas. Depois de três anos a dedicar a alma e o corpo a um livro, é como se ele estivesse vivo, e nessa altura o sentimento é de ardor, de paixão."

E opiniões? Alguém já leu este último livro de David Grossman? Ou outro livro de David Grossman?
Preciso das vossas opiniões!  


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