Luz de Luz de Pedro Strecht
Este livro pequenino, não conta uma história, não é um romance, nem um conto infantil. Não se assemelha aos extraordinários livros de Pedro Strecht sobre o dia-a-dia e a sua profissão.
Este pequeno livro é um ensaio, pequenas frases tiradas aqui e ali sobre a felicidade ou a falta dela e o buraco negro da depressão social. O vazio, o nosso vazio interior.
Frenesim? Como cada um de nós admite dentro do seu ser esta mesma palavra? E dor? Perda? Derrota? Diferença? Solidão? Vazio?
E o riso dos outros? É reconfortante e estimulante, ou o ruído degrada-nos ainda mais?
A minha opinião sobre este livro terá de ser uma opinião muda e aberta.
Cada paragrafo convida-nos a parar e refletir.
Na página 15, Pedro Strecht transcreve uma frase do artista chinês ai wei-wei que nos devia curvar a todos "a maior tragédia da sociedade atual é o desrespeito."
Muitas frases podem ser retiradas deste livro. Muito haverá a refletir sobre a luz e o escuro.
Essa reflecção não a quero partilhar convosco porque cada um tem a sua e todos temos luminosas ponderações e assombrosos desvaneios. Há quem fuja delas. Há quem queira viver sempre na luz e nunca toque na vida.
"pelo meio de um caos interior que encerra um dia excessivo e sem pausa, a quebra do tempo espreita com esforço e escrevo. penso, deixando que a mão siga o curso inexplicável e singular do feixe eléctrico que dá vida ao pensamento. a luz mantém-se acesa no meu interior e como chama de fogo aceso, não pára, delineia formas, brinca, transporta-me sem queixa de aqui para ali, em contínuo mas diverso movimento (lembra uma dança). dizem que tudo no mundo começou com um sim, o possível contacto entre dois que se aceitam e completam e que, assim, geram outro e outro momento. mas aceito com tranquilidade o não: a contrariedade, a ambivalência, a impossibilidade (ainda que transitória) desse mesmo encontro. quer dizer, respeito o eterno espaço por preencher, a não concordância da frase, do texto, do amor, do desejo, do sonho. sei que há a solidão e o escuro, a morte, mas nenhuma dessas palavras me prende ou bloqueia. nem tão pouco a ausência de luz, que não tardará em chegar (re)inventando novas sombras, um eterno contraste de definições/indefinições, ordem e caos. preocupa-me, isso sim, apenas o excessivo de um branco que cegue, a paralisia, a força retropulsora ou estagnante que continuamente evoca o medo de existir."
O que nos leva hoje em dia a ter tanto medo da diferença e ao mesmo tempo aceitar os extremos dos comportamentos com tanta facilidade?
O que nos leva a levantar bandeiras e a caminhar para a violência sobre ideais gastos e manipulados?
O que encontramos nas nossas vidas quando o Sol se põem que nos humilha e diminui que nos faça continuamente procurar a luz estéril no meio do escuro?
O que nos faz virar as costas ao sofrimento, dor e morte?
No entanto banalizamos a morte e a dor. Escondemos a nossa inépcia nas estatísticas.
Ultimamente, todos os dias vemos e ouvimos uma estatística de morte e já a aceitamos como a maior das banalidades, como se quem morresse deixasse de contar como pessoa e passasse a ser um mero número diariamente banalizado.
Escondemo-nos diariamente, atrás de uma fachada de luz, a invariável condição de não sabermos viver.
"existir é diferente de viver..." e existir é uma mera formalidade que praticamos na maioria dos nossos dias.
Será que nos damos conta? A maioria está desatenta ou encontra distrações. Os outros perecem ou definham!
Que estimulante fim de tarde!
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