Ípsilon de Sexta-Feira dia 30 de Outubro 2020 (Vanessa Springora)
Isabel Coutinho entrevista Vanessa Springora, na edição da revista Ípsilon de 30 de Outubro de 2020. A escritora lançou recentemente o livro "Consentimento", que chegou a Portugal em Setembro deste ano com a tradução de Tânia Ganho.
O livro é um testemunho que incendiou a França e a sua sociedade.
Uma história da própria Vanessa Springora que com 14 anos manteve uma relação com o escritor Gabriel Matzneff, 36 anos mais velho.
Confesso a minha incapacidade para assumir ou compreender a história. Acredito que só o conseguirei fazer depois de ler o livro, mas também admito que tenho algumas dúvidas em fazê-lo. Daí o meu interesse em ler esta entrevista.
O que move uma rapariguinha de 14 anos a ter uma relação com um homem de 50 anos? Reparem! Estamos a falar de uma relação consentida.
A abordagem ao tema é muito difícil, e creio que as opiniões sobre o mesmo serão muito discutíveis. As minhas opiniões serão muitos discutíveis até para mim própria, pelo que, acredito, cada vez mais, só o vou compreender verdadeiramente quando ler o livro.
Vamos nos lembrar quando tínhamos 14 anos?
O consentimento, não é um consentimento mas uma ilusão da realidade.
Vamos colocar a questão noutros termos!
Uma rapariga com 14 anos não tem noção onde se está a meter, mas um homem com 50 anos, sabe qual o terreno que pisa, e sabe que a relação é imprópria.
Uma rapariga com 14 anos para todos os efeitos é menor de idade, por isso o seu consentimento também tem de ser considerado um abuso.
Vanessa Springora não se considerava abusada na época, nem tão pouco manipulada. Até relata que se apaixonou, e que teria feito da mesma maneira mesmo que alguém (mãe), se tivesse oposto. Também não foi o caso. O consentimento era total, aos olhos de uma sociedade inteira, que viu e consentiu.
Vamos enquadrar-nos por favor!
A época (anos 80), França livre. Vanessa com 14 anos considerava-se adulta e inicia um relacionamento com um escritor de 50 anos, que o fazia frequentemente com raparigas da mesma idade. Não podemos falar de um amor especifico e avassalador, único e exclusivamente por Vanessa. Falamos de uma tendência para a tenra idade. Para a manipulação.
No entanto este testemunho é apenas de Vanessa que aos 14 anos se considerava adulta e que nos dias de hoje reflete essa sua atitude e já não se sente tão adulta.
A premissa baralha-me, mas acredito que a chamada de atenção está para todos que rodeiam estas situações e que não devem eles sim, dar o seu consentimento.
Mas afinal, qual é realmente o papel dos outros nestas histórias?
Ainda na Ípsilon e escrito por Isabel Coutinho um resumo sobre o livro que achei interessante transcrever;
A literatura serve de desculpa para tudo?
Não se escapa facilmente ao espirito de uma época. Eis como em tempos de revolução sexual, Vanessa Springora, 14 anos, passou de musa a personagem de ficção. A partir da cama de Gabriel Matzneff.
"Passava os dias da sua infância [entre os livros], como [algumas crianças passam os dias entre as árvores]. Tinha pais com ar de actores de cinema, mas à noite, escondida debaixo das cobertas, ouvia o pai tratar a mãe de [cabra] e de [puta]. Se os pais [são para as filhas umas muralhas], conta Vanessa Springora no romance autobiográfico Consentimento, o seu era [uma corrente de ar].
Depois do divórcio, a vida da mãe e da filha dá uma reviravolta inebriante, passam a viver em águas furtadas, nem sempre recebem pensão de alimentos e Vanessa só vê o pai de tempos a tempos. Desde que o meu pai desapareceu do mapa, tento desesperadamente atrair o olhar dos homens. Uma causa perdida. Sou feiosa. Sem o mínimo encanto. (pág.31)
Uma noite a mãe, assessora de imprensa numa editora, leva a filha de 13 anos para um jantar que tem como convidados personalidade do meio literário. É aí que Vanessa, com Eugénie Grandet de Balzac nas mãos, sente pela primeira vez o olhar fixo de G., o escritor Gabriel Matzneff, 36 anos mais velho, que a cerca, passa-lhe a escrever várias cartas por dia, marca encontros, fica à espera dela no liceu e, por fim, a leva para a cama. Com uma voz carinhosa gaba-se então da sua experiência, da mestria com que sempre conseguiu tirar a virgindade a miúdas muito jovens, sem nunca as magoar, chegando mesmo a afirmar que elas guardaram a vida inteira uma recordação comovente, foi uma sorte terem ido parar às mãos dele e não às mãos de outro homem qualquer, um daqueles tipos brutais, sem o mínimo tacto, que as teriam pregado ao colchão sem preliminares, levando-as a associar àquele momento único um sabor eterno de desilusão. (pág.48)(...)
Viajamos até aos anos 1980 franceses, chegamos muito perto dos anos 70. São décadas em que em nome da libertação dos costumes e da revolução sexual, há que defender o livre desfrute de todos os corpos (pág.56). Não se escapa facilmente ao espirito de uma época: Neste contexto, a minha mãe acabou, portanto, por se acomodar à presença do G. nas nossas vidas. (...) Seja como for, a sua intervenção limita-se a um pacto com o G. Ele tem de jurar que nunca me fará sofrer.
O que obviamente não aconteceu e vanessa, sozinha, irá descobrir como o escritor famoso que a afasta dos amigos da sua idade não hesita em reproduzir nos seus livros as cartas das suas conquistas, como elas se assemelham todas estranhamento (pág. 79). De musa Vanessa passa a personagem de ficção (...)
Ainda não li o livro e como disse no início estou a ponderar muito a sua leitura. Gostaria de opiniões de quem já leu.
Gostaria que quem já leu, conseguisse "vender-me" o livro da melhor maneira possível para convencer esta indecisa a ler o mesmo.
Comentem, comentem! por favor...
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