Ípsilon de sexta-feira, 16 de Outubro de 2020 (Salman Rushdie)
Quando oiço falar de Salman Rushdie, lembro-me invariavelmente dos "Versículos Satânicos".
Nunca li o livro. Mas lembro-me de ter lido "O último suspiro do Mouro".
Não me lembro que idade tinha mas seguramente pouco mais de 20 anos, e o que recordo do livro é que não consegui parar de ler. Tive até comentários desagradáveis de alguns familiares em como estava a tornar-me bastante antissocial. Isto tudo porque passei as tardes de Domingo na esplanada da praia, e em vez de falar com os outros, metia a cara no livro. Acho que até passei por mal educada!
De lá para cá admito que nunca mais tive grande interesse na sua obra, e pelos vistos devo de andar bastante distraída, porque convenhamos, quem nos engole num livro também o deve fazer nos outros!
Uhhmmm! Lembrei-me agora! Li outro livro de Salman Rushdie, "Harum e o Mar de Histórias", o que vem reforçar a minha frase anterior. "Harum e o mar de Histórias" é uma das grandes preciosidades que tenho lá em casa. O escritor ainda não perdeu nenhum ponto.
Quando vi Quichotte nas bancas despertou-me a atenção. A mera referência ao nome e a inspiração ao original Dom Quixote, foi o suficiente para ficar de orelhas levantadas e olhar de vez em quando para a possibilidade de voltar a Salman Rushdie.
Dom Quixote de La Mancha faz parte das minhas fantasias. Nunca terminei de ler o livro. Acredito, porque peguei nele demasiado cedo não para a minha compreensão, porque aquilo que li adorei, mas para a minha paciência, pois em casa dos meus pais existe uma edição de D. Quixote em capa dura, de tamanho A4 e dividido em 3 volumes. Quando se é demasiado nova não se tem paciência para tanto.
Na revista que contém a entrevista de Isabel Lucas ao escritor, o livro de Salman Rushdie é descrito da seguinte forma e passo a citar;
"Quichotte é inspirado no cavaleiro de Cervantes e transporta as marcas de uma época. [Viveu em tempos, numa série de residências temporárias ao longo dos Estados Unidos da América, um viajante de origem indiana, idade avançada e faculdades mentais declinantes, que, devido ao seu amor pelo televisão acéfala, passara uma exagerada porção da sua vida sob a luz amarela de sórdidos motéis a vê-la em excesso, e em resultado disso sofrera uma estranha forma de lesão cerebral.]. Ás primeira linhas Rushdie expõe a paródia negra sobre o presente num romance de olho nos recursos usados pelo escritor Castelhano e convocando heróis e ambientes de Ionesco ou da Guerra das Estrelas ou deixando entrar um grilo falante. É um jogo, e vale tudo menos perder o pé na realidade a que o real quer fugir. Se o cavaleiro Quixote arruinou a cabeça a ler romances de cavalaria, a ruína de Quichotte foram os reality-shows de tal moco que se apaixonou por uma celebridade e por ela atravessa a América. Esse périplo permite a Rushdie dissertar sobre a actualidade. Quando o seu velho Quichotte vai atrás de Salma R., a amada, no caminho sonha com um filho, como Geppetto sonhou com Pinóquio, ele aparece, chama-se Sancho, ganha vida e será a voz da razão que o pai não tem."
Nesta entrevista que Salman Rushdie concede a Isabel Lucas, o escritor fala de tudo um pouco. Escritor de origem Indiana, vive actualmente nos Estados Unidos. A sua vida foi marcada por "Versículos Satânicos" e invariavelmente a conversa aborda esse tema.
São referidos também outros assuntos que fazem parte dos seus livros, como o amor, a realidade e a verdade.
Descobri outros títulos do autor que definitivamente deverão interessar-me: "Joseph Anton" e "Os filhos da Meia-Noite"
É um escritor que mostra claramente a sua capacidade de perceber a transformação da realidade no mundo e como isso afeta o meio envolvente. Quichotte é um exemplo disso, com uma clara conotação ao título de Cervantes transformado ou adaptado a uma realidade dos dias de hoje.
Achei bastante interessante a sua opinião sobre a América dos dias de hoje, nomeadamente no que toca a política, racismo e até sobre a grande expressão usada pelo atual Presidente "Make América Great Again" .
Políticas á parte, fala também da sua perceção sobre os instintos das pessoas, e garanto-vos que a sua resposta deixou-me bastante alarmada.
Fala de uma reviravolta na forma de pensar no mundo. De um mundo virado ao contrário. Fala em como as gerações mais velhas e as gerações mais novas, trocaram de posições. Em como hoje os mais velhos têm opiniões mais liberais e abertas e como as gerações mais novas se tornaram mais conservadoras, são mais censuráveis e com atitudes mais puritanas em relação aos outros. Fala num retrocesso de mentalidades.
A entrevista acaba com a questão principal das nossas vidas. O amor. Afinal a única coisa que vale realmente a pena.
Quanto ao livro Quichotte chega amanhã pelo correio.
Assim que puder teremos opinião!
Nunca li nada deste escritor. A ver se tem alguma coisa na Biblioteca que possa requisitar. Aconselha me a começar por qual dos livros dele? :)
ResponderEliminarDele por enquanto só li dois "O Último Suspiro do Mouro" e "Harum e o mar de Histórias".
ResponderEliminarApesar de ser classificado como uma história para crianças/jovens "Harum e o mar de Histórias" é um livro interessantíssimo que vai beber muito ás mil e uma noites.
Comece por esse... vai ver que vai gostar!