1984 - GEORGE ORWELL
"Percebo COMO: não percebo PORQUÊ"
Posso dizer que foi um desconforto este livro.
Totalmente fora da minha linha de leitura escolhi este livro para o meu projecto de leitura de Clássicos.
Em Janeiro já tinha optado por "Fahrenheit 451", também longe dos meus géneros literários.
Mas se em "Fahrenheit 451" existe uma esperança e uma subjugação do mal, aqui em 1984, existe esperança sim, e existe até ao fim, mas até a esperança pode ser aniquilada.
Opressão e resistência, dois atos distintos, em dois caminhos que se cruzam.
1984 em Londres, o Grande Irmão controla a Oceânia, a Policia do Pensamento controla as ideias, a Novafala controla a Liberdade.
(É curioso, como o meu corretor ortográfico não reconhece a palavra Novafala)
O livro foi escrito por George Orwell em 1949, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e nessa altura esta só poderia ser vista como uma visão futurista, uma realidade puramente imaginária.
Hoje, confesso, cria as suas dúvidas e receios. É demasiado real e presente.
"Percebo COMO: não percebo PORQUÊ"
Estas são as palavras de Winston Smith, algures no início do livro, quando ele ousa escrever o que pensa ser o seu diário.
Imaginem um Estado que controla tudo, como um grande olho. Um Estado que mais não faz do que eliminar a nossa consciência. Será que estamos tão distantes disso?
"Até ganharem consciência, nunca se revoltarão e, enquanto não se revoltarem, não serão capazes de ganhar consciência."
Para além das questões políticas e questões sociais que o livro descreve, existe acima de tudo uma questão de consciência e de expectativa.
É como se tivéssemos entre os sãos e os loucos, e numa dualidade de posição. Quem serão os sãos? Quem serão os loucos?
De resto está lá tudo. Uma sociedade onde cabem os altos, os baixos e os médios. Lutas de poder, sempre o poder.
Chegamos á conclusão que só o poder interessa, e que por ele, tudo se fará. Até eliminar consciências... pior ainda... alterar consciências.
Winston no meio deste caminho é aquele que é considerado "o lunático", com opinião... por vezes nem ele próprio define muito bem a sua opinião, mas sabe que tem uma e que pensa por si próprio. Mais grave ainda, consegue aperceber-se das subtis alterações que aos outros vão passando completamente despercebidas. No meio desta "normalidade", Winston interroga-se a mais das vezes, quem é o verdadeiro louco no meio desta sociedade do Grande Irmão.... ele, ou os outros!
A apatia generalizada da sociedade, é não mais do que uma forma de sobrevivência.
"Ocorreu-lhe que a única coisa verdadeiramente característica da vida moderna não era a crueldade nem a insegurança, mas simplesmente a sua aridez, a sua esqualidez, a sua apatia."
O "lunático" do Winston, ousou amar, acreditar e confiar, e por tudo isto e por toda a sua incapacidade para aceitar o inevitável, Winston foi traído.
" De certa forma, a visão mundial do Partido impunha-se com maior sucesso nas pessoas que eram incapazes de a compreender. Poderiam ser levadas a aceitar as mais flagrantes violações da realidade, porque nunca percebiam completamente a enormidade do que lhe era pedido... por não compreenderem, mantinham-se sãs."
Assusta um pouco este pensar, e assusta muito mais quando olhamos á nossa volta, e compreendemos que não estamos muito longe deste abismo. Sinceramente nunca tivemos, de uma forma ou de outra no decurso da história muito longe deste abismo.
Winston prometeu a Júlia que nunca a trairia, mesmo que fosse torturado. "Confessar não é trair. O que dizes ou fazes não interessa: só os sentimentos interessam. Se conseguissem que eu deixasse de te amar, isso é que seria a verdadeira traição"
Até ao fim do livro, caminhei com confiança. Enquanto Winston conseguisse dizer que dois e dois são quatro, manteria a sua liberdade e o seu discernimento.
Mesmo quando traiu a Júlia, continuei a confiar. Acreditei que um único homem "lúcido", poderia mudar toda a apatia. Mas até Winston capitulou no fim. Porra! O homem rendeu-se no fim!
P.S - E nós em pleno século XVI, em cheio numa pandemia, onde encontramos o Grande Irmão?
Num texto de Gonçalo M. Tavares para a revista Expresso, ele, encontrou-o no corretor automático. Os chamados corretores ortográficos que tanto nos ajudam, mas que determinam elegantemente quais as palavras que existem ou não existem, o que podemos e o que não podemos usar.
Conseguem encontrar mais?
É um livro fascinante e que toda a gente deveria ler para perceber melhor a sociedade onde vive e, sobretudo, no que não quer que essa sociedade se torne.
ResponderEliminarNão Digas Nada a Ninguém
Não podia ser mais correto o teu comentário Inês. É sem dúvida um livro que devia ser lido por todos para que a nossa sociedade deixe de caminhar para lá.
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