9 de fevereiro de 2021

 


CLARABOIA - JOSÉ SARAMAGO


O que é que Saramago disse de Claraboia;
"Claraboia é a história de 6 inquilinos de um prédio, sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal escrito. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver como o meu modo de ser."

Quando Claraboia foi editado pela primeira vez já José Saramago tinha morrido. Pode-se dizer que foi uma pequena "birra" do próprio em não dar luz a esta história antes de morrer, uma vez que o livro foi escrito muito no inicio da sua carreira de escritor e foi perdido dentro das editoras.
O livro andou perdido por décadas e por milagre ou não, voltou a aparecer quando Saramago já era um nome que se falava, e falava muito. Quando o convidaram para editar o livro ele respondeu que não.
Teorias e conspirações à parte, Saramago mostra aqui uma postura de caracter que se sobrepõem até ao seu beneficio pessoal e mantem a sua palavra de enquanto fosse vivo, nunca editaria o livro.

Já na minha modesta opinião, e agora falando do livro propriamente dito, considero-o diferente de todos os livros que tenho lido de Saramago.
Quando digo diferente, falo da forma de escrever, falo até da própria história.
Tem um caminho filosófico e personagens marcantes... não tem uma personagem marcante, mas várias, ou direi mesmo, quase todos os inquilinos do prédio são personagens marcantes.
É um Saramago atípico, fora do seu registo, quem sabe em 1953 procurava o seu próprio caminho.

E o que é que um prédio com seis inquilinos podem dar ao mundo?
Para o mundo muito pouco, para o seu universo limitado tudo pode acontecer.
O Sapateiro e a sua esposa Mariana que alugam um quarto para fazer fase às despesas. Um sapateiro filosofo, este Silvestre.
Temos também a bela Lídia e o seu amante Paulino, as costureiras Adriana e Isaura que vivem com a mãe Cândida e a tia Amélia.
O Emílio e a esposa espanhola Cármen; Caetano e a mulher Justina de luto fechado pela morte da filha, e Anselmo com a sua esposa Rosália e a filha Claudina.
Num prédio fecham-se história que se interligam entre si.
"... mas a compreensão é uma palavra apenas. Ninguém pode compreender outrem, se não for esse outrem. E ninguém pode ser, ao mesmo tempo, outrem de si mesmo."

Não penso que o livro seja uma crítica à sociedade daquela década de 50, mas acima de tudo uma majestosa reflecção sobre a admirável e inconstante da natureza humana.   

P.S - Lá pela página 272, existe uma passagem no livro que me recordou os meus avôs paternos. Sempre que passo os olhos nesta página recordo-os aos dois lá no fundo da rua;
"Casais de pequenos burgueses com dezenas de anos de sagrado matrimónio, ela atrás, ele adiante. Não mais que meio passo os separava, mas esse meio passo exprimia a distância irremediável a que se encontravam um do outro."


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