AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE - JOSÉ SARAMAGO
Imaginem o seguinte! A morte tirava férias.
De repente, de um momento para o outro ninguém morria. Isso é que era, não era!?
Pois é! Mas e as consequências?
Neste país deixou-se de morrer. Ao virar do novo ano, a morte suspendeu a sua atividade, e aqueles que estavam novos assim ficaram, os que estavam assim-assim, assim continuaram e a vida prosseguiu de uma forma estranha. Ninguém morria, nem de acidente.
A principio esta pode ser uma grande noticia. Convenhamos, a morte. A nossa e a dos outros pesa incessantemente nas nossas cabeças, e o desaparecimento da mesma do país é no mínimo apaziguador. É, não é?
Mas depois vem o resto. Toda a lógica que roda e se movimenta em torno da morte, que com a ausência da morte também acabada, mingua e se desfaz.
Saramago cria aqui um enredo fenomenal sobre as causas/consequências da não morte dentro de uma sociedade e pasme-se, chegamos à conclusão que a morte faz parte da ordem natural da vida e que sem ela saberemos cada vez menos o que é um ser humano.
Com uma escrita fluída e vaporosa, encontramos neste livro um dos nossos maiores medos. O desmoronar das nossas certezas. Daquilo que efetivamente existe e do qual não pode ser desassociado da nossa própria vida. A nossa própria morte.
Com a ausência da morte, assistimos a um viver para sempre, e isso traz problemas ainda maiores do que o nosso próprio desaparecimento.
Imaginem o desmoronar da logística instalada e do aproveitamento económico/político/religioso à nova realidade?
Saramago é mestre nesse ponto!
Quanto à morte! Bem, Saramago deu-lhe vida e uma vida. Uma humanização e até apaixonada.
Leiam, por favor!
Nunca li, mas fiquei muito interessada.
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