16 de março de 2021

 


O SOL NASCENTE - JOHN DONNE 




"Tu, velho tolo atarefado, indomável Sol,
Por que dessa forma,
Por janelas e cortinas, nos chamas?
Devem acaso seguir teus movimentos as estações dos amantes?
Impertinente, pedante, infeliz, vai ralhar com
Estudantes atrasados e aprendizes rabugentos,
Vai dizer aos caçadores da corte que o Rei irá cavalgar;
Chama os lavradores do campo aos ofícios de colheita;
O amor, como sempre, não conhece estação nem clima,
Nem horas, dias, meses, que são os retalhos do tempo.

Teus raios, por que os imaginas
Tão veneráveis e fortes?
Eu os poderia eclipsar e nublar com um piscar de olhos,
Mas não conseguiria ficar sem vê-la por tanto tempo.
Se os olhos dela não cegaram os teus,
Fita-os, e amanhã, mais tarde, me conta,
Se ambas as Índias, de especiarias e de minas,
Estão onde as deixaste ou repousam aqui comigo.
Pergunta pelos reis que tu viste ainda ontem,
E irás ouvir: "Estão todos aqui repousando sobre um leito".

Ela é todos os estados, e eu todos os princípios;
Não há mais nada;
Príncipes não chegam até nós; comparadas com isso,
Todas as honras são imitações, toda a riqueza, alquimia.
Tu, Sol, tens somente metade da felicidade que temos,
Porque o mundo foi arranjado assim;
Tua idade pede calma, e como tua tarefa é
Aquecer o mundo, ela está cumprida aos nos aquecer.
Brilha aqui para nós e estarás em toda a parte;
Esta cama é o teu centro, estas paredes tua esfera."



3 comentários:

  1. Adoro!!!

    jiaescreve.blogspot.com

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  2. É, não é! Faz parte de um livro de poemas que tenho já muito antigo que comprei na minha adolescência numa livraria da Nazaré. Tem imagens lindíssimas e na altura tinha um cheiro a rosas. O cheiro durou ainda alguns anos... hoje, infelizmente já não cheira a nada, mas o seu conteúdo continua estimulante.

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