13 de agosto de 2020


A arte de se maravilhar com Francisco e Jacinta de Fátima - Jean-François de Louvencourt




Hoje é dia 13 de Agosto, um dos dias fortes em Fátima.
Para quem sabe, Nossa Senhora de Fátima apareceu aos Três Pastorinhos de Fátima de Maio a Outubro de 1917, sempre no dia 13.
Acrescido a esse facto, Agosto tem o significado dos Emigrantes. 
E Emigrante que se preze, cristão que venha passar férias em Agosto em Portugal, ao dia 13 vai a Fátima. É essencialmente uma atitude de gratidão. É  fé.
Aquele sentimento que é único e vivido de forma única por cada um de nós. Algo que nos puxa para a frente, nos ampara e nos acolhe.
Eu creio! 
Todos cremos em alguma coisa. Até os ateus crêem na sua descrença. Que não é aquilo que os move, mas o facto de não acreditarem que os move.
Eu creio! Felizmente. Digo, felizmente porque sinto que a minha existência não tinha sentido se não acredita-se que alguma coisa me ampara. Que me fortifica. E creio que não sou eu, que não é pura e simplesmente só a minha vontade, mas também a minha crença.

Vou com frequência a Fátima, duas a três vezes por ano, mas nunca fui a um dia 13. Nunca experimentei a fé como uma partilha com a multidão, mas como um acto isolado, como um momento solitário. Escolho assim, dias mais sossegados, não carregados de significado para o mundo mas cheios de significado para mim.
Provavelmente as sensações que se tem a um dia 13 de Maio, são completamente diferentes. É algo que vou ter de experimentar um dia, mas também para isso é preciso criar a capacidade para as multidões. Para estar no meio de muitos outros. 
Como vou a Fátima desde miúda, já dou por mim a passear pelas ruas e não me  limito ao recinto da oração. E acreditem, o peregrinar por Fátima, por aquelas traseiras do Santuário em que o silêncio é revelador é tão importante como rezar na Capelinha das Aparições.
É lá, nesses passeios pelas ruas desertas que ninguém atravessa com o vento a restolhar nas árvores que eu creio.
Descobre-se outra Fátima. A mesma terra, mas outros caminhos.
Lembro-me que umas das últimas vezes, dei por mim a pensar no seguinte: O que Lúcia, Francisco e Jacinta conseguiram fazer de Fátima. Será que quem vive e trabalha em Fátima tem noção disso. Verdadeiramente noção?
E quem eram os três Pastorinhos? Eu sei, que a personagem principal desta história é a Nossa Senhora de Fátima, mãe de Jesus Cristo. Mas há Nossa Senhora eu deixo para outra altura, pois é uma personagem fascinante e merece destaque. Por hoje ficamos com Francisco e Jacinta de Fátima.

A arte de se maravilhar com Francisco e Jacinta de Fátima de Jean-François de Louvencourt é um livro maravilhoso sobre os dois pastorinhos.
Nunca nenhum livro sobre a sua vida tinham-me despertado tanto interesse.
O prefácio do livro, estende-nos o tapete para um caminho de descoberta de duas vidas que decidiram maravilhar-se com a vida.
"há uma pergunta curta, mas certeira, que sintetiza o essencial desta obra: para que serve viver? A resposta mais bela é-nos dada por Francisco e Jacinta: serve para nos maravilharmos!"
Duas crianças simples e inocentes, sabiam mais da vida do que os doutores das leis. Sabiam mais que muitos de nós. Sabiam mais do que eu! 
Os Pastorinhos eram seres humanos simples, muito simples mesmo, alguns até podem referir ingénuos, apesar de eu não aceitar que ingenuidade seja um defeito.
Eles procuraram no seu sacrifício diário, salvar o mundo e consolar a Deus. Mas faziam-no de forma serena e não o faziam em frente aos outros.
Para eles só os olhos de Deus e de Nossa Senhora verdadeiramente interessavam.
E a fé deles, o crer em Deus e na Nossa Senhora, era algo tremendamente forte. Eles foram desprezados, caluniados, perseguidos inclusive pelo poder político local. Mas o crer em Deus estava lá, inabalável.
"Em Aljustrel não se dava o mínimo crédito ás afirmações dos pequenos. Motejos, acusações de intrujice, censuras ásperas á fraqueza dos pais ou incapacidade de lhes darem educação e o correctivo que tais circunstâncias reclamavam"
Se compararmos com o Novo Testamento, recordamos quando Jesus Cristo foi pregar á sinagoga da sua terra natal, e foi escorraçado e insultado, chamado de mentiroso e desacreditado.

A fé cristã assenta muitas vezes sobre coisas questionáveis para o ser humano. Muitas vezes essas ideias, essas certezas, são difíceis de compreender  e aplicar nos tempos que atravessamos. Acredito que em todos os tempos da história, seja difícil assimilar esses ensinamentos. 
Por vezes vejo séries ou documentários na TV, de tempos antigos ou até livros de época que retratam a Igreja como uma comunidade opressora sobre todos os poderes ou pessoas. A inquisição é uma dessas fases. É difícil acreditar na Igreja depois da Inquisição.
A própria construção do país Portugal assenta em cruzadas contra Mouros e Muçulmanos, perseguições a Judeus.  Guerras Santas em nome de um Deus, feitas pelos homens.
Aos dias de hoje, concluímos que os Cristãos são o povo mais perseguido.
Enfim! Quando falamos disto não falamos de fé, mas de poder e política, e a Igreja não é Jesus Cristo. A Igreja por vezes apenas parece uma instituição que se serve de Jesus Cristo a todos os níveis.
Tenho algumas ideias a esse respeito mais não estou aqui para aprofunda-las.

Apenas e porque é 13 de Agosto, queria falar-vos deste livro que conta de uma forma magistral o pensamento simples e puro de dois pastores que viram Nossa Senhora de Fátima e se sentiram maravilhados por isso.
Perguntei-me muitas vezes, nas minhas visitas a Fátima, porquê eles? Afinal eram só Pastores.
A leitura deste livro leva-nos á questão contrária. 
Só poderiam ter sido eles!
Francisco era o rosto da misericórdia "ele nunca falava da vida dos outros nem se metia naquilo que não lhe dizia respeito. Francisco tinha um verdadeiro sentido de respeito e amor ao outro. Não julgava, não condenava e acolhia o que de melhor o outro tinha"
Jacinta era uma força da natureza. Era por vezes contida, por vezes caprichosa. Enquanto que Francisco tinha já aquele espírito pacifico e benevolente que as aparições de Fátima mantiveram, em Jacinta a transformação foi mais profunda. A sua existência de vida é também bastante mais sofrida. Até a sua doença é mais sofrida, como se o seu processo de aprendizagem fosse mais doloroso.
Existe outro livro "Jacinta de Manuel Arouca" que retrata a vida de Jacinta. Também a ler.
Para quem não sabe tanto Francisco como Jacinta morreram de Gripe Espanhola, muito falada actualmente devido ao COVID-19.

"o sofrimento desestabiliza e fragiliza" é uma dolorosa observação que me vem á memória quando visito as campas de Francisco e Jacinta na Basílica de Fátima.
A pergunta que se coloca é; Nossa Senhora apareceu a Francisco e Jacinta, mas não os salvou do sofrimento.
Para os Pastorinhos o sofrimento não fragilizou, e para a maioria de nós tão pouco. O sofrimento humaniza-nos e até pode dar sentido a uma vida vazia.
A nossa existência têm sentido? 
Têm! Com toda a certeza, mas é necessário caminhar e persistir até ao fim, seja qual for a dificuldade do caminho ou o tamanho do sofrimento.


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