19 de agosto de 2020


A Princesa do Dia e o Príncipe da Noite ou "Como nascem as histórias" - Lisbeth Renardy & Adeline Yzac 


" Há muito, muito tempo, havia de um lado o reino do Dia e do outro o reino da Noite.
No primeiro reino, o Sol nunca se punha. No outro, era a noite que não se punha nunca.
A filha do rei do Dia e o filho do Rei da Noite apaixonaram-se.
Pouco tempo depois, casaram.
A princesa do Dia instalou-se no palácio do marido, o príncipe da Noite. No caminho, a jovem princesa recebeu muitos e variados presentes dos habitantes do reino do seu pai.
Uma velhinha até lhe ofereceu uma pequena noz, uma noz pequenina e avermelhada, dizendo: <Se algum dia te sentires muito triste, abre esta noz e ela ajudar-te-á.>
A princesa agradeceu o presente. Guardou a noz no bolso e nunca mais se lembrou dela.
A jovem princesa começou por viver feliz no palácio do rei da Noite. Tudo era novo e atraía a sua curiosidade. O marido adorava-a e toda a gente gostava dela.
Porém, no reino da Noite, tudo era escuro e triste. Não passou muito tempo até a princesa perder o riso e a alegria. Tudo lhe metia medo. Ouvia ruídos estranhos e sinistros. Sentia falta da luz. Sentia falta das cores.
A jovem princesa adoeceu. Ficou magra como um junco e branca como leite.
Nenhum dos médicos que acorriam à sua cabeceira conseguia curá-la.
Mas numa noite, enquanto a aia arrumava os vestidos, a pequena noz caiu no chão, ao lado da cama da princesa. Então, a jovem lembrou-se das palavras da velhinha: <Se algum dia te sentires muito triste, abre esta noz e ela ajudar-te-á.>
A princesa abriu a noz. Cá para fora, saltou uma velhinha. Era uma contadora de histórias, que logo começou a narrar. O palácio encheu-se de cor e de luz e a princesa curou-se.
Como todo o reino ia visita a princesa para ouvir a contadora, algo de estranho começou a acontecer. Uma a uma, as pessoas começaram também a contar histórias. Já ninguém dormia. Já ninguém trabalhava.
Preocupados, o rei do Dia e o rei da Noite reuniram-se e decidiram partilhar a luz e a escuridão.
Metade do tempo, o Sol iria iluminar o reino da Noite, enquanto a sombra levaria a escuridão ao reino do Dia. Depois trocavam.
E foi assim que nasceram as histórias. E com elas os dias e as noites."

Este foi um dos muitos livros que foram lá parar em casa no tempo do primeiro ciclo.
Foi prenda de Natal, e como podem ver é uma história simples, simples, simples. Cabe até dentro de uma noz.
Como todas as histórias infantis o texto é curto e claro. O poder das histórias na vida vazia e crua das pessoas crescidas. O direito à fantasia e à imaginação como alegria de viver.
Tudo coisas que esquecemos quando crescemos, ou que nos tentam fazer esquecer!

É um livro muito popular lá em casa. A capacidade que o escuro e a solidão tem para nos derrubar, e a força na luz e nas histórias que nos podem transformar.
Era tão bom que a vida fosse assim tão simples! Só que por vezes é bem mais frágil.

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