9 de janeiro de 2021

 


FAZES-ME FALTA - INÊS PEDROSA


Nas minhas andanças pelas redes sociais, encontrei em Dezembro uma publicação de opinião sobre o livro "Fazes-me Falta" de Inês Pedrosa.
Recordou-me que o já tinha lido em 2002, e que estava na minha estante, que até tinha frases sublinhadas, mas,  - pasme-se! -  recordava-me pouco da história.
Senti a urgência de o voltar a reler, e com ele outros mais que bem vistas as coisas, e depois de uma demorada olhadela pelas estantes merecem outro passar de olhos.
Foi assim que nasceu o projeto "Reler", para 2021, que já vos apresentei no Blogue no inicio do ano.

Falemos agora deste "Fazes-me Falta" de Inês Pedrosa.
Por vezes esqueço-me do alcance da escrita de Inês Pedrosa. Leio os seus livros de quando a quando, nunca é a minha primeira escolha.
Olhando bem para a sua bibliografia tenho poucos livro da Inês, mas é sem dúvida uma contadora de histórias.
"Fica comigo esta noite", "Nas Tuas Mãos", "A Eternidade e o Desejo", "Desamparo" e este "Fazes-me Falta".
Todos merecem uma releitura. Talvez um dia!
Lembro-me que tive "Desamparo" meses na estante, e que quando o li, foi uma lufada de sentimentos.
A forma como a Inês Pedrosa escreve, subtil, limpa, clara... poética.

Na primeira leitura de "Fazes-me Falta", tenho várias frases sublinhadas. Para separar leituras, estou a marcar as frases novas a cor. Nada está a mais! Encontrei até novas coisas, novas frases!
A história é banal. As memórias e as conversas de mim para mim, a duas vozes. Ele, 25 anos mais velho do que ela. Viveram uma amizade "escondida" em amor. Vamos inverter! Duas pessoas que se queriam, mas que não passaram da amizade, e assim viveram 9 anos, até ironia de Deus morrer a mais nova. Ela.
O tempo do livro é depois da morte dela. Aquele que ficou, ele, confessa-se a ela que já não está. E ela, num tempo que não é o nosso, no limbo da eternidade confessa-se a ele que já não a ouve. 
Descobrimos que somos seres difíceis de compreender, seres que dificultam a sua própria vida, mas e o amor?
Pensamos demais? "Pára de pensar. Acabas por não entender nada"
Somos maldosos! "Porque a opacidade do mal é interior. Um muro desconhecido dentro do coração. Nunca vemos o mal que fazemos, só o mal que nos fazem se torna claro."
São desabafos de quem descobriu depois do ato de morrer que o amor estava mesmo ali. "A ti, garota marota, tinha-te já praticamente esquecido, quando tiveste o mau gosto de morrer."

E agora?
A história não é sublime, mas é contudo uma forma bastante original destas personagens se mostrarem. Diria até "despirem-se" por completo em termos sentimentais.
Como disse anteriormente o que fica desta história não muito sublime são as frases que cada um vai desfiando para se revelar a si próprio, ou o próprio sentimento pelo outro.
"Como podes ter vivido tanto e ser tão leve? perguntavas-me. Eu respondia-te apenas com sorrisos. Ai de ti, se descobrisses que viver demasiado é desistir da vida"

Hoje o exemplar de "Fazes-me Falta " que vou voltar a colocar na estante tem um ar mais colorido.
As frases sublinhadas a lápis da primeira leitura, as folhas com manchas amarelecidas do tempo, e as frases sublinhadas agora a cor.
Esta é uma história de amor. Não propriamente do amor regado pelo corpo, mas acima de tudo um amor da alma, destas almas que apenas se relembraram depois da morte intrometer-se entre eles.
" Enroscaste-te em mim e começaste a coçar-me as costas, muito devagar. Dormimos muitas vezes e muitas vezes assim - e nunca, nem por um segundo pensamos em fazer aquilo a que os inocentes chamam sexo. Falávamos muito disso, sim desse acto a que as pessoas vão chamando sexo ou amor consoante as convivências. Esse acto que as pessoas vão repetindo até à mais exaustiva solidão.
Nós não podíamos prescindir um do outro. Não podíamos entrar no infinito jogo finito do corpo. Derramei sobre a tua vida, por incontáveis noites, os meus breves amores prefeitos, pormenor a pormenor. E tu derramaste sobre a minha as tuas paixões impossíveis, impossíveis de apagar. Desejo-te tanto, ainda."
Sim, a história não é sublime... é muito mais do que isso!

E vocês, gostam de reler livros?

P.S - Este é o primeiro livro do ano para o projecto "Reler"
Fará também parte do desafio de leitura #lêportuguês do "Clube de Leitura Manta de História" que pretende ao Blogue (mantadehistorias.blogspot.com)  

 


3 comentários:

  1. Não tenho o hábito de reler livros (devem ter sido uns 4 ou 5) pois há tanto por ler. Contudo, ao relermos descobrimos sempre coisas novas. Da Inês Pedrosa tenho o livro "Desnorte", mas ainda não o li.

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  2. Uma grande reflexão sobre a vida e a morte, e aquilo que fica por dizer quando alguém parte...

    "Há tantas coisas que nunca te disse – e dizias tu que eu falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. (...) não te perdoo o que não soubeste saber de mim. (...) não me perdoo o que não soube verter-te de mim."

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