22 de janeiro de 2021

 

LEVANTADO DO CHÃO - JOSÉ SARAMAGO

"Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave. Ou uma bandeira.
Enfim, cá estou outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo. 


Quando comecei a ler este livro estava de férias no Alentejo... Castelo de Vide, mas precisamente, num banco de jardim da Portagem mais concretamente entre Marvão e Castelo de Vide. Há minha volta a chapinhar no rio existia um ruído ensurdecedor de cantilena espanhola. 
São comuns por aí, os Espanhóis... atravessam a fronteira num abrir e fechar de olhos e invadem a vila de Marvão e Castelo de Vide para conviver e divertir-se. E como eles sabem divertir-se todos juntos, e calar nunca se calam. Quando era pequena chegava a fechar os olhos na mesa do Restaurante só para os ouvir falar, falar, falar... não sei como soa o nosso falar Português a um estrangeiro, mas garanto-vos que um Espanhol é tão rápido que eu ficava perdida no seu linguajar. "Nem o comer lhes tapa a boca" diria a minha avó se visse aquilo!

Voltando ao início, sim! Comecei a ler este livro no Alentejo. Foi apenas uma espécie de simbolismo, nada mais. Ia de férias uns dias e na altura tinha muito prazer em ler Saramago.
E de que nos fala "Levantado do Chão"? 
Para mim, fala de um sonho, e fala acima de tudo da dignidade humana.
Compreendo que seja um livro político que queira mostrar a miséria que as gentes alentejanas viviam e  trabalhavam e sobreviviam agarradas a um poder político dependente dos grandes proprietários e de uma igreja que os amordaçava. 
Mas essa é a parte do livro da qual eu não quero falar... quero apenas falar das mulheres e dos homens que trabalharam e trabalham a terra. Das mulheres e homens a quem tudo falta menos dignidade e coragem. Gente que fez da sua vida, uma vida de sacrifício e trabalho.
Setenta e cinco anos são os anos que atravessa este livro e a vida da família "Mau-tempo", em três gerações.
O tempo é distante com inicio em 1900 e o fim em 1975. Para a maioria das pessoas é uma realidade demasiado remota e tão, tão diferente, que até podem considerar uma ilusão.


 


Este é um livro sobre a luta da gente simples em sair de um círculo vicioso de miséria a que fora condenada desde sempre pelos domínios do poder. Posso dizer que no final os levantados do chão fizeram-me chorar.
É um livro com 40 anos. Como o mundo mudou. E será que somos capazes de compreender esse mundo? E será que mudou mesmo?

P.S - Como disse há pouco não quero falar de política, apesar do livro ser assumidamente um livro politico. Mas para além da politica e da ideologia, palavras tão em voga, e pelas quais se atropelam os ser humanos, considero que acima de tudo este livro é um livro que dá nome às verdadeiras pessoas.
Somos todos números, certo? Os dias de hoje provam isso mesmo. Não passamos de números. Mas por detrás de qualquer número que possamos ser, estará sempre um ser humano.



P.S outra vez! Queiram desculpar... estavam a pensar que já tinha acabado não era! 
Encontrei no site da RTP, mais concretamente (ensina.rtp.pt), este documentário sobre José Saramago e o livro Levantado do Chão. O site está bastante bem conseguido e como projecto educacional é tremendo, e este documentário vale mesmo a pena. Quem quiser ver é só carregar no link https://ensina.rtp.pt/artigo/jose-saramago-documentario-levantado-do-chao/

Sem comentários:

Enviar um comentário