26 de janeiro de 2021

 

UMA PUBLICAÇÃO PURAMENTE PESSOAL

"Portanto vocês tem nas mãos algo de divino: um livro como fogo, um livro no qual Deus fala"


Faço parte de um país que se intitula católico, mas não sou nem de longe nem de perto aquilo a que as pessoas podem chamar de uma católica praticante. Quando comecei a ter noção do que esta palavra significava, admito que fiquei um pouco confusa.
Sempre acreditei em Deus, mas não tinha por hábito palmilhar os bancos das Igrejas ou as missas ao Domingo, e nunca pensei que isso me tornava uma católica diferente.
No dia em que quis casar, descobri que da Igreja e dos seus preceitos nada sabia, e que ainda por cima tinha a afronta de querer casar em tempo de quaresma!
Mudei de paroquia para poder casar em paz, com alguém (diácono) que não me julgasse tanto. Óbidos. Estará sempre no meu caminho.
Descobri que existem dois níveis diferentes de religião aos olhos dos homens, os que acreditam em Deus e praticam os seus preceitos diariamente, semanalmente, etc, etc, e os outros, os que acreditam em Deus, mas desviam-se deste caminho por aptidão ou falta dela, sem preconceitos e sem grandes necessidades para além da presença de Deus.

Se acredito em Deus? Sim, acredito... mas sempre fiz parte do segundo nível de católica digamos assim.
Mas sim, acredito. Tenho razões para acreditar. Porque nos bons e nos maus momentos, quando estou rodeada de pessoas ou completamente só, sinto que O tenho comigo. 
Está mais distante quando tudo corre bem, mas quando tudo corre mal é O que está mais perto. É o meu ponto de abrigo, por isso só posso acreditar, principalmente quando é Ele que me mostra que tudo isto não é cor-de-rosa e que a vida terá que ter todos os estados. Sem isso não será vida, seremos apenas uma espiga ao vento!
Mudar e lutar por tudo aquilo que por nós próprios podemos fazer, aceitar aquilo que não podemos alterar. Acima de tudo ser humildes com a vida e amáveis com os outros. Perdoar como gostaríamos de ser perdoados. 
Claro que eu não sou de ferro! Nem Santa, tenho defeitos e pecados, mas o meu caminho diário é lutar por um "eu" melhor.
Há quem diga que Deus está em cada um de nós... dificil de compreender por vezes, perante tanta maldade humana. Como tenho alguma dificuldade em concordar com esta afirmação, prefiro acreditar e aceitar que Deus, por vezes, está em cada um de nós. Todos experimentamos Deus em algum momento da nossa vida, resta saber o que realmente conseguimos fazer com isso.

À parte disso não sou de missas. Não frequento as igrejas assiduamente, não me confesso, nem tomo a comunhão. A minha mãe apesar de ter tido uma educação religiosa mais severa acompanhada de todos os preceitos, não nos subjugou a rotinas religiosas que passassem pelos bancos das igrejas ou as salas da sacristia.
Graças a isso eu pude descobrir Deus pelo meu próprio pé. Este caminho é mais demorado e solitário, mas é feito daquilo que verdadeiramente sentimos.
Admito que sou um pouco tosca nas celebrações, que não sei fazer todos os "sinais da cruz", e que nas ladainhas vou atrás dos outros. A mais das vezes sinto-me envergonhada num ambiente que aparentemente não faz mais de se observar uns aos outros.

Alguns meses antes do início da Pandemia  Covid-19 em Portugal, comecei a ir à missa uma vez por mês. Perguntei à minha filha de cada vez que ia se também me fazia companhia ao que sempre respondeu que sim. Mais uma vez o porto seguro foi Óbidos, com o padre Ricardo Figueiredo.
É um padre jovem com vários livros editados, do qual gosto muito dos seus sermões. Não nos machucam emocionalmente, nem nos julgam... relembrar apenas. Tem uma maneira alegre de transformar uma missa, não num ralhete religioso, mas na verdadeira palavra de Deus.
Contudo, continuo a considerar que o caminho de Deus não está na presença ou ausência numa missa, mas dei por mim a gostar de ouvir cantar aqueles louvores e a ouvir falar de Deus. É o único sítio onde canto na presença de outros.

Agora o ponto onde queria chegar. Nunca li a Bíblia. Não como um todo, como um livro por inteiro.
É para mim, a mais das vezes de dificil interpretação.
Como não o conseguia fazê-lo por mim, encontrei um subterfúgio na leitura dos livros que falam da Bíblia. Entrei então no mundo da Religião e Moral, nos Estudos Teológicos, no Catolicismo.
Desfiei a obra de José Tolentino Mendonça, e descobri um pensar bíblico e poético. Dali passei para Tomas Halik que nos tira as amarras que temos nos olhos, que nos mostra a luz e que tem a preocupação e admiração pelos não crentes e pela sua profunda forma de pensar.
As minhas estantes começaram também a ser povoadas por estes tipos de livros. Papa Francisco, nas suas exortações apostólicas e Cartas Encíclicas..."Bibliografia do Silêncio" de Pablo D´ors, o "Mapa do Tesouro", e principalmente "Espelho Meu" de Gabriel Magalhães.
Descobri livros interessantíssimos de um homem que nunca me provocou grande empatia, Papa Bento XVI.
A minha caminhada é aberta e já cheguei a Tiago Cavaco, um elemento fundamental do protestantismo português. O seu "Milagres do Coração" é sublime, para o definir numa palavra.
Todos eles falam de Deus, das suas crenças e sobretudo falam da Bíblia. Com eles a Bíblia ganhou a vida que eu não lhe consegui dar com o original.
Quando achei-me minimamente preparada, peguei no primeiro volume da Bíblia traduzida por Frederico Lourenço [Os Quatros Evangelhos]. Descobri uma tradução do Sermão da Montanha avassaladora.
Seguiu-se Leo Trese, no seu "Sem medo à vida", o "Zelota" de Reza Aslan, que nos mostra um Jesus Cristo tão humano que se senta ao pé de nós. Carlos Maria Antunes com o seu "Só o pobre se faz pão" e "Atravessamos a própria solidão"
Neste caminho já cheguei a John Stott.

A Bíblia continua a ser algo intransponível, inalcançável.
Nestes caminhos, encontrei um projecto intitulado YouCat, um projecto acarinhado pelos dois Papas; Papa Francisco e Papa Bento XVI.
Comprei a Bíblia para jovens editada por eles. Resumida. Não é a estrada, mas é um caminho... o principio do caminho.
Graficamente é bastante apelativa, e parece que nos inclui a todos nós, ao antes e ao depois. Ao passado e ao presente.




Há livros que fazem parte da Bíblia que de tanto ler sobre eles, tenho muita vontade de os ler;
Provérbios; Eclesiastes; Cântico dos Cânticos; Sabedoria; Isaías; Daniel; Salmos; Job (já li Job uma vez, mas como todo o livro bíblico, não se alcança toda a sua plenitude numa única leitura.)

Tal como está escrito em Eclesiastes, tudo tem o seu tempo. O caminho de cada um de nós terá portanto o seu tempo.
"Debaixo do céu há momentos para tudo, e tempo certo para cada coisa."


   


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