20 de janeiro de 2021

 


O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS - JOSÉ SARAMAGO



Ricardo Reis, é uma personagem de Fernando Pessoa. Melhor dizendo um dos seus "eu". 
Terá sido um dos menos ativos e em certa altura da sua vida, Fernando Pessoa desterrou-o para o Brasil.
José Saramago fez regressar a Portugal Ricardo Reis após a morte de Fernando Pessoa e assim nasce a história deste livro, e que livro!

Não é fácil falar deste "O ano da morte de Ricardo Reis". Já o li há algum tempo, e os pormenores da história por vezes já me fogem. Creio que foi o segundo livro que li de Saramago, logo atrás das "Pequenas Memórias".
Se gostei? Mais do que gostei...bebi-o.
Ricardo Reis volta a Portugal após a morte de Fernando Pessoa. É pois um órfão de quem o idealizou, do seu senhor. 
É uma parábola interessante... uma personagem que sobrevive ao seu próprio criador com pensamentos e vida própria. Só possível através de Saramago.

Assistimos então ao desfilar da vida de um homem, que não é mais que a imaginação de um outro, e que na ausência desse outro, outro houve que lhe deu uma extensão de vida. Extensão pequena diga-se de passagem...
Estamos em 1935, e Ricardo Reis viveu dezasseis anos no Brasil. O livro não deixa de aflorar as questões políticas da época. O Estado Novo que se erguia, os refugiados de uma guerra civil Espanhola. 
O mais interessante deste Ricardo Reis, não é propriamente a sua personagem, mas o facto de ela mesmo assim não conseguir ser ele próprio sem a presença de Fernando Pessoa.
O mesmo, o autêntico Fernando Pessoa, lá no seu mundinho eterno visita Ricardo Reis para dois dedos de conversa.
Aqui sim, Saramago apanha o comboio de Fernando Pessoa que só um grande escritor como Saramago o conseguia fazer.
"...É dificil responder, pelo menos não me lembro de me ter sentido verdadeiramente útil, creio mesmo que é essa primeira solidão, não nos sentirmos úteis..."
Este tipo de diálogos, a forma de escrever transporta-nos para o Livro do Desassossego, e é para mim admirável. É como se ele (Fernando Pessoa), estivesse mesmo aqui ao nosso lado.
"Não era dessa solidão que eu falava, mas doutra, esta de andar connosco, a suportável, a que nos faz companhia. Até essa tem que se lhe diga, às vezes não conseguimos aguentá-la, suplicamos uma presença, uma voz, outras vezes essa mesma voz e essa mesma presença só servem para a tornar intolerável."
Melodia pura!

"Os outros enganam-se muitas vezes, também nós."
Este livro faz parte do Plano Nacional de Leitura. Recomendado para o 12º ano de escolaridade.
Se o recomendo? Sim.
Eu própria gostaria de o voltar a ler, pois acredito que mesmo que o faça será como se fosse a primeira vez, e de cada vez que o faça vou descobrir mais e mais razões para o voltar a ler.

"Foi inveja, meu querido Pessoa, mas deixe, não se atormente tanto, cá onde ambos estamos nada tem importância, um dia virá em que o negarão cem vezes, outro lhe há de chegar em que desejará que o neguem."

Em 2020 João Botelho realizou um filme com adaptação deste mesmo livro...Outras adaptações já existiram, para o cinema e para o teatro. Esta é a mais recente... vou tentar ver! 


"Em geral pensamos antes de falar, ou vamos pensando enquanto falamos, toda a gente é assim, Se calhar, eu não penso."




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