ENSAIO SOBRE O DEVER (OU A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE)
RUTE SIMÕES RIBEIRO
RUTE SIMÕES RIBEIRO
Uma história fora da caixa que foi beber ao lago das palavras de José Saramago.
Amaldiçoei-me por ainda não ter lido livros como "O Ensaio sobre a Cegueira" e abençoei este livro que gentilmente parou nas minhas mãos.
Finalista do Prémio Leya em 2015, com o título inicial de "Os Cegos e os Surdos", esta é uma história ensurdecedora para ler nos dias de hoje.
Revela uma verdade assustadora mas ao mesmo tempo redentora.
O que é o sacrifício e o que é o dever. Até que ponto as manifestações de vontade se sobrepõem à linha temporal do coletivo. Existimos como indivíduos dentro de uma comunidade, ou devemos posicionarmos como um todo.
Qual a nossa capacidade de tomar decisões certas? E o que serão efetivamente decisões certas?
Podemos tratá-lo como uma questão de perspetiva. A perspetiva do individuo contra o ambiente que o rodeia.
Há outra ideia subjacente neste emaranhado de perda de sentidos.
A realidade não está tão distante assim, fazemos mesmo uso de todos os nossos sentidos?
Que menos na maioria dos casos é mais e isso está implícito na capacidade de cada um em lidar com a perda e transformá-la em algo maior e não em algo menor.
Acaba por ser o reconhecimento de que a falta só nos pode dar capacidade para algo intenso.
José Tolentino Mendonça diz que, e passo a citar; "passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar"
Temos a barriguinha cheia e continuamos a abocanhar.
Neste belo livro de Rute Simões Ribeiro até somos capazes de compreender que ver não é uma aptidão exclusiva de quem tem visão.
E tu? Se tiveres de escolher apenas um dos teus cinco sentidos? Qual escolherias?
Quando é dado a escolher um dos cinco sentidos, o povo, instruído ou analfabeto não pegou em armas nem levantou a mão em sinal de protesto. Não se revoltou contra governantes nem contra o Senhor. Nem mesmo com aquela entidade obscura que assim decidiu. Seja ela qual for.
Em vez disso, procurou um sentido que os orientasse para o dia de amanhã. Fez o que a sua consciência e a sua convicção lhe exigia.
É pois também um livro que retrata algo de muito importante para os seres humanos. As suas crenças, as suas fidelidades. Aquilo que acreditam como certo, correto. O bem e o mal. Algo pelo qual não cedemos, nem por modas, nem por ganâncias, nem por desespero. Algo que faz do ser humano íntegro, verdadeiro.
Dever, vontade, sentido, amor.
Esta questão do bem e do mal é pois, para mim, muito subjetiva. Reconheço o cinzento no meio dela. Reconheço que existem zonas que não se podem rotular como bem ou mal, e que as suas nuances persistem. Admito!
Mas vamos acautelar as linhas que dividem o bem do cinzento e o cinzento do mal.
Os anos passam, em 2015 ou em 2022, quem sabe até no início do século ou nos outros séculos anteriores. A vida corre, as realidades mudam, mas a integridade do ser humano não.
Essa não é feita de desculpas, mas de dever, vontade, sentido e amor.
Leiam por favor!
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